segunda-feira, 25 de outubro de 2021

 


  Vantagens do Endomarketing

Endomarketing é uma estratégia de marketing institucional voltada para ações internas na empresa. É também chamado de Marketing Interno e visa melhorar a imagem da empresa entre os seus colaboradores, culminando em uma equipe motivada e reduzindo o turnover (índice de rotatividade). O marketing interno segundo a designação tradicional, mas que eu gosto mais de apresentar como Promoção Interna, embora apresentando Endomarketing como uma designação que aceito, é tão importante quanto o marketing externo quando se trata de motivar e envolver os funcionários na empresa no seu trabalho.

Ele implica divulgar a missão e a visão da empresa aos seus aliados mais importantes - seus funcionários. A Promoção Interna, quando feita da maneira certa, garante que os funcionários prestem serviços de alta qualidade aos seus clientes e ajudem a empresa a prosperar. Um dos principais componentes da Promoção Interna é uma Comunicação Interna Eficaz.

A Promoção Interna envolve o esclarecimento da missão, objetivos, propósito, cultura, produtos e serviços, e marca da organização para os seus próprios colaboradores. Às vezes referido como “marketing de funcionários”, o objetivo da Promoção Interna é “vender” a empresa aos seus trabalhadores, para que eles fiquem mais engajados, cientes da marca e tenham melhor conhecimento sobre a sua organização.

O Marketing Institucional não tem como objetivo imediato à venda, pois visa criar atitudes e comportamentos favoráveis nos diversos segmentos do público em relação à empresa. A partir do momento em que a imagem de uma empresa junto ao público consumidor, acionistas, funcionários, fornecedores e terceirizados é uma questão importante no sucesso das efetuações das vendas, o Marketing Institucional aparece com uma força dominante pois é a execução de atividades necessárias para atingir o objetivo de uma determinada instituição, ao reforçar a imagem ou conseguir apoio, englobando várias ferramentas, como o Marketing Cultural e o Endomarketing.


O Marketing Institucional é o conjunto de estratégias utilizadas na realização de uma troca associativa entre a imagem de um produto já consolidado no mercado e a imagem que se deseja para uma empresa ou instituição. Um outro segmento muito importante do Marketing Institucional é o Marketing cultural, que oferece vantagens significativas para a empresa, e tem como objetivo associar o nome da empresa, suas marcas ou serviços, com produtos ou eventos culturais que tenham sintonia com suas atividades.

Como outras formas de marketing e publicidade, a Promoção Interna é uma necessidade. É complexo para os funcionários, se preocuparem com o resultado do seu trabalho, se não entendem o valor da sua organização - e não é segredo que funcionários descomprometidos e desconectados podem ser pouco úteis A falta de Promoção Interna também pode prejudicar os esforços de contratação e recrutamento, tornando difícil encontrar funcionários e reter talentos, o que, por sua vez, pode levar a mais desinteresse e afetar negativamente os resultados financeiros.

Nunca é tarde para desenvolver e executar uma estratégia de Promoção Interna eficaz numa organização. Contanto que a abordagem seja feita de forma ponderada e deliberada, tanto os funcionários como a empresa podem se beneficiar do marketing interno.

 

Existem inúmeras oportunidades para colocar a Promoção Interna em ação numa organização. implementando uma estratégia ou compartilhando materiais de marketing interno sem que isto seja percebido. Aberturas e canais comuns para marketing interno incluem:

Melhoria nos processos de comunicação interna

Perfis de mídia social, site da empresa e outras atividades online;

Listas de empregos e oportunidades de promoção;

Benefícios da empresa, vantagens e iniciativas de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional;

Sessões de treinamento, aprendizagem e desenvolvimento;

Comunicações internas, incluindo e-mails, mensagens instantâneas e chamadas telefônicas;

Workshops, sessões de brainstorming e reuniões;

Avaliações de desempenho de funcionários, oportunidades de aconselhamento e destaques;

Marca e marketing da empresa, do projeto e do produto;

Notícias, atualizações, marcos e realizações da empresa.

Pesquisa de satisfação com os colaboradores

Estabelecimento de um plano auxiliar de carreiras

Elogiar e agradecer seus colaboradores

Conversa franca e aberta com os funcionários em todas as situações.

Dar resposta concludente a todas as atitudes ou comportamentos. Basicamente, esse conceito é aplicado quando uma pessoa conta à outra o que acha sobre a sua performance e como ela pode torna-la melhor. Isso faz com que o desempenho melhore, e que a pessoa descubra algo que ela nunca percebeu.

Esta não é de maneira alguma uma lista exaustiva; não tenha receio de tentar coisas novas para descobrir o que funciona melhor para a sua organização. A criatividade é sua amiga e pode ser a vantagem competitiva de que você precisa para colher todos os benefícios da Promoção Interna.

 

 

domingo, 24 de outubro de 2021

O cliente e o seu valor para a empresa.


Todos os componentes de uma empresa devem estar conscientes do valor do “Cliente”, o que é o cliente e o que ele representa para a continuidade do negócio. A maior parte das empresas promove a formação sobre tudo, sem nunca falar no cliente.

Todas as formações devem começar pela explicação do que é o cliente e do seu valor para a empresa.



segunda-feira, 18 de outubro de 2021

 


DELEGAÇÃO E QUALIDADE DE SERVIÇOS

Algumas considerações sobre este tema

Sempre que se busca Qualidade ou se analisa a falta desta em hotelaria, deve-se fazer uma análise profunda de como está sendo feita a delegação no estabelecimento, pois na maior parte das vezes todo o problema nasce ali.

A delegação é uma realidade de gestão que todos utilizam em hotelaria, mas sobre a qual poucos entendem ou sobre a qual poucos se debruçam. É talvez, também, a indústria onde a delegação é mais utilizada e aquela onde esta é mais negligenciada. Quando se verificam sinais de baixa qualidade de serviço, ou existem erros acima do aceitável, um dos primeiros pontos a analisar deve ser – como está sendo feita a delegação no nosso estabelecimento? Nengum empregado deve ser colocado num cargo, sem para isso ter sido BEM TREINADO. Devido ao facto de ser uma indústria de serviços, com funcionamento ininterrupto que não permite aos responsáveis uma presença constante, a delegação é inevitável, sem que estes se apercebam da existência desta como tal, e façam a delegação como uma acção normal, inerente ao tipo de empreendimento.

Mas, se quisermos nos compenetrar um pouco mais da pertinencia e da importancia deste assunto, em relação aos resultados de gestão, verificaremos que: Delegação é a atribuição de autoridade e responsabilidade para outra pessoa (normalmente a partir de um gerente para um subordinado) para realizar actividades específicas. No entanto, a pessoa que delegou o trabalho continua a ser responsável pelo resultado do trabalho dos delegados[1]. A delegação confere, a um subordinado, liberdade para tomar decisões, o que significa uma mudança do poder de decisão de um nível da organização para outro inferior. Delegação, se feita correctamente, não é abdicação. A má delegação, por outro lado, pode causar frustração e confusão para todas as partes envolvidas, com situações desgastantes e por vezes prejudiciais ao negócio.

Se perguntarmos a qualquer empregado de hotel quem é o responsável pela preparação dos bifes e cozinhados, teremos como resposta que é o cozinheiro. Do mesmo modo, seremos informados que o responsável pela boa apresentação dos quartos é a governante ou a empregada de quartos, enquanto que para abrir a porta de um táxi que chega ao hotel, será indicada a responsabilidade do trintanário ou do mensageiro.

Mas em boa verdade, o responsável por todos estes serviços é o gerente do hotel. Foi a ele que os proprietários ou os accionistas entregaram o empreendimento, e foi com ele que discutiram e acertaram a classe e a qualidade dos serviços, bem como a forma de conduzir estes e atender a clientela.

Baseado na indiscutível impossibilidade de estar presente em todos os locais e em todos os momentos, o gerente necessita lançar mão de quem o substitua, nos distintos locais e nas diversas horas do ciclo normal dos serviços.

Para isso escolhe os gerentes sectoriais ou os chefes de serviços, aos quais delega a sua responsabilidade nas diversas áreas, para que tudo aí decorra como acertado e desejado. Feita esta primeira delegação e pelas mesmas razões que a motivaram, os escolhidos para esses cargos gerenciais fazem a selecção daqueles em quem farão, por sua vez, a delegação de responsabilidades. E o ciclo das delegações vai tomando o seu, até atingir o rodapé da pirâmide. Mas tomando como base o que lemos atrás, todo este processo de delegação não retirou aos vários cargos a responsabilidade do seu iniciador, neste caso o gerente do hotel. Baseados nesta premissa, podemos e devemos aceitar que a pessoa que nos recebe ou abre a porta do nosso táxi, é o representante formal e inequívoco do gerente, e como tal o serviço e as atenções que nos presta devem curso ser idênticas às que receberíamos se este ali estivesse naquele momento. Começa aqui a verificar-se, o pouco cuidado com que é tratado na maior parte dos nossos estabelecimentos, o assunto da delegação, porque a maior parte dos directores, dos gerentes e até dos supervisores ou chefes de secção, não tem sobre esta uma idéia formada, nem lhe dão a atenção devida. Todo o pessoal deve saber que, no desempenho das suas funções, cada um deles representa o director ou gerente e é um símbolo do hotel. E todo o pessoal deve ser treinado dentro de critérios que lhes permitam avaliar a importância dessa delegação e cumprir o que dela se espera.

Uma perfeita delegação reforça um estilo de gestão que permite à equipe usar e desenvolver as suas habilidades e conhecimentos até ao pleno potencial. Com uma delegação defeituosa, perde-se o valor que o próprio empregado poderia ter para a reputação do hotel e para a sua dignidade profissional.

Como a antiga citação inicial sugere, delegação é confiar a outros a sua responsabilidade, com a inerente autoridade, até aos limites julgados necessários. Isso significa também que eles podem agir de forma independente, dentro dos padrões estabelecidos e que partilham a responsabilidade inerente às determinadas tarefas. Se algo der errado, o gerente será o responsável, uma vez que a delegação parte sempre dele. Sendo assim, é fundamental delegar de maneira que as tarefas sejam executadas da forma correta, e para isso é importante um bom treinamento e uma perfeita conscientização dos responsáveis, antes de iniciarem o serviço.

 

 



[1] Usamos a palavra delegados, uma vez que estamos falando de delegação. Esperamos que os nossos leitores se apercebam de que, neste caso, delegados significa o mesmo que empregados designados para o cargo.

 

domingo, 17 de outubro de 2021

 


 O Que se vende nos Quartos de um Hotel?

 

Muitos dos profissionais que trabalham em hotéis não chegam nunca a dar-se conta, daquilo que realmente se vende ao alugar um quarto. Sabem que no restaurante se serve comida; no bar, bebidas, e que na rouparia se faz o tratamento de roupas. Mas, nos quartos?

A principal razão de existência de um hotel é proporcionar descanso (repouso e tranquilidade) às pessoas que por razões várias (turismo, negócios, assuntos de família, ou outras), se encontram longe da sua residência habitual. Se o hóspede não encontra isso no hotel (porque o recepcionista foi agressivo ou pouco atencioso, deixando-o nervoso e tirando-lhe a capacidade de dormir tranquilamente, ou porque o pessoal em serviço nos andares não respeita o silêncio que deve existir nestes locais, por falar alto, gritar ou usar equipamentos barulhentos em horários impróprios) pensará que desperdiçou o seu dinheiro, pois não houve retorno equivalente ao que despendeu em  hospedagem.

É pois factor importante, a consciencialização de que o aluguer de um quarto tem como finalidade principal proporcionar ao cliente repouso e meios de cuidar da sua higiene pessoal. Sendo o ponto de maiores receitas do hotel e a razão principal do negócio, devemos aceitar que é  grande a responsabilidade do pessoal que ali presta serviços, e que a sua formação para a qualidade de serviço é importante. A reputação de um hotel está tão ligada ao serviço de quartos, como à categoria das suas instalações. Deve haver preocupação com os pormenores. A preferência dos clientes não deve apenas ser conquistada, deve ser mantida.

É neste departamento que a permanência do hóspede é mais constante e mais íntima, o que implica um excepcional conjunto de medidas, tendentes a garantir o seu bem-estar e a sua completa satisfação.

Na intimidade do seu aposento, o cliente deve sentir-se à vontade, sem receio de indiscrições ou de mexericos. O seu descanso não deve ser perturbado, e o serviço deve ser feito silenciosamente, com as ordens ou comunicações passadas em voz baixa, sem discussões, precipitações ou correrias. Cada funcionário deve ordenar o seu trabalho e, cada supervisor deve organizar esse mesmo trabalho, tendo em conta que em hotelaria não se aceita improvisação.

 

 

 


A Hospitalidade no Antropoceno (Texto 3)

Estes textos só poderão interessar a Hoteleiros interessados na Mudança

 “Antes de avançar com o texto escolhido, baseado noutros que encontrei, gostaria de explicar que Antropoceno foi um termo formulado por Paul Crutzen, Prêmio Nobel de Química de 1995, já falecido. O prefixo grego “antropo” significa humano; e o sufixo “ceno” denota as eras geológicas. Este é, portanto, o momento em que nos encontramos hoje: a Época dos Humanos”.

O que significa ser responsável?

 A responsabilidade, em funções de hospitalidade, é a forma de aceitar as diferenças, tanto de colegas como de clientes e ao mesmo tempo manter a qualidade das ações seja qual for a complexidade apresentada pelo acolhimento. Ser hospitaleiro é ser puxado em duas direções diferentes: primeiro, ser levado à obrigação ética de receber bem como anfitrião; segundo, ser inerentemente cauteloso e neutro como responsável da casa. A responsabilidade existe no locus desta tensão e complexidade. Como a responsabilidade aborda a atração irreconciliável entre o que alguém sente e o que faz, é especialmente pertinente para as discussões de ética.

Ser responsável é seguir as diretrizes aprendidas para o cumprimento das suas funções, de forma a não prejudicar a sequência do trabalho dos que estão à sua volta, ou no prosseguimento do seu serviço

Pode-se dizer que a responsabilidade é a condição permanente de uma ética incondicional, para que seja possível oferecer um acolhimento sustentado e perfeito, Derrida (2005) determina que é na tentativa de cumprir essa obrigação, na luta pelo horizonte impossível, que podemos começar a demonstrar responsabilidade. De acordo com o conceito de hospitalidade, e em congruência com a discussão futura sobre o tempo e o lugar da hospitalidade, a responsabilidade não é estática nem contínua. A responsabilidade não é dada à sociedade por dever ou lei (Derrida, 2000), nem é um gesto de gentileza ou filantropia para com o “outro”. Em vez disso, a responsabilidade é uma obrigação, uma ação no momento que reconhece a tensão entre bem-vindo (anfitrião) e rendição (refém do outro), no sentido de cumprir todas as incumbências e disposições inerentes à Hospitalidade. Derrida (2000) descreve a dificuldade lógica do acolhimento como necessária para a responsabilidade: “Minha hipótese ou tese seria que essa dificuldade lógica..não é negativa; e que sem essa contradição, a responsabilidade da hospitalidade ... não teria chance de acontecer ”(p. 13). Como tal, a responsabilidade é melhor entendida como a “persistência repetida” do momento da saudação, quando o eu é questionado a mando do aparecimento do “outro”.

A responsabilidade é caracterizada pela humildade e pelo desejo de aprender e erncontrar o caminho para “o certo”. Ao encontrar o outro, a pessoa é chamada a receber a novidade como um presente - novos olhos para ver o mundo existente - em vez da atitude defensiva inerente a um mestre (anfitrião) com algo a preservar. A responsabilidade requer o sacrifício da garantia e da conservação. Ele abre o eu, o estabelecimento e o mundo para a incerteza da mudança que o recém-chegado apresenta. Ele não possui ou merece, como hospedeiro, o direito de explorar e determinar unilateralmente as condições para o outro ser. Em vez disso, é chamado a compreender a própria responsabilidade como o âmbito da ação em que se pode engajar para responder ao outro, preservando a liberdade dele. A responsabilidade é agir sem domínio, arrogância ou autopreservação em resposta ao “outro”. 


 Como tal, a única ação aceitável é o reconhecimento da responsabilidade única do ser humano pela abolição do preconceito, como um preceito para o encontro na hospitalidade. Embora Derrida observe que a hospitalidade perfeita é inatingível, a responsabilidade não é. Ele aconselha que a pessoa aja com responsabilidade quando localiza o ímpeto para a ação no contexto do momento transitório de boas-vindas. Dito de outra forma, Derrida (2000) determina que “é em nome da hospitalidade incondicional [que dá sentido a todo acolhimento do estrangeiro] que devemos procurar determinar as melhores condições, ou seja, alguns limites legislativos particulares, e especialmente uma aplicação particular das leis do acolhimento”(p. 7). A hospitalidade torna-se o processo pelo qual o mundo aborda as questões-chave do Antropoceno, incluindo: Qual será o futuro? Como devemos conduzir os negócios, trabalhar e viver? Qual será o papel da tecnologia nisso? Quais as formas de produção e comunicação do conhecimento adequadas para o Antropoceno? Finalmente, que explicações precisamos para entender melhor o papel planetário dos humanos como atores que afetam todo o sistema terrestre? (Trischler, 2016, p. 322)

Na sociedade e na educação para a plena participação na cidadania, a hospitalidade torna-se o meio de uma mediação constante entre o eu e o “outro”, guiada pela dificuldade absoluta e animada pela humildade. Este ato de mediação, embora em si mesmo imperfeito, é responsabilidade; e se torna o terreno fértil para leis, políticas e ações éticas.

 Continuaremos

 


sexta-feira, 15 de outubro de 2021

 


     A Hospitalidade no Antropoceno (Texto 2)

                Estes textos só poderão interessar a Hoteleiros interessados em Mudança

“Antes de avançar com o texto escolhido, baseado noutros que encontrei, gostaria de explicar que Antropoceno foi um termo formulado por Paul Crutzen, Prêmio Nobel de Química de 1995, já falecido. O prefixo grego “antropo” significa humano; e o sufixo “ceno” denota as eras geológicas. Este é, portanto, o momento em que nos encontramos hoje: a “Época dos Humanos”.

 

Educar com e para a responsabilidade

A educação deve responder ao apelo à responsabilidade no Antropoceno. Uma educação para a responsabilidade ocorre não apenas criando as condições para que esta se torne visível ou ocorra, mas também quando quem ensina assume a responsabilidade de cultivar essas condições continuamente por meio da prática. Assim, a chamada para uma educação com sentido de responsabilidade para os utentes e - por extensão - o mundo, bem como uma educação para a responsabilidade que leve a sério as questões da Hospitalidade.

Embora seja o último que o restante desta seção aborda, é importante reconhecer desde o início que uma educação para a responsabilidade envolve tanto o educador quanto os que querem aprender. Uma educação para a responsabilidade enfatiza três obrigações essenciais: primeiro, saber acolher “o que chega”; segundo, saber descentrar o eu e o humano; terceiro, reconhecer o “saber receber”, como um movimento incompleto, em direção ao que vem a seguir.




Acolhimento

Na educação para a responsabilidade, a primeira obrigação é estabelecer o que é responsabilidade, como condição a priori para a vida ética. Para não confundir com o excesso de educação do caráter ou programas e currículos de educação para a cidadania que existem atualmente, pois esta abordagem visa menos a afirmar os traços ou ações ideais para ser um "bom cidadão" do que explorar a relação entre si e os outros, bem como as tensões, inerentes ao momento do serviço de acolhimento.

Se há uma caracterização a ser feita nas discussões de responsabilidade, é o reconhecimento de uma assimetria essencial entre o eu e “o outro”, entre o anfitrião e o hóspede. De acordo com Barnett (2005), “a insistência na assimetria da responsabilidade ética tanto em Levinas quanto em Derrida é um indicativo do seu empenho em elaborar formas de relacionamento possibilitadas pela ausência de critérios de certeza” (pp. 18-19)  E embora Derrida difira de Levinas ao adotar essa ideia de assimetria, o princípio subjacente da incerteza epistemológica é mantido. Talvez uma maneira útil de explorar a qualidade amistosa, humana ou sensível do “encontro” seja menos sobre a disposição de se expor ao trauma (como pode ser o caso em uma abordagem superficial da assimetria) e mais sobre a disposição de ser vulnerável à aparência do “outro”. A implicação para a educação é que se começasse a explorar as condições para encontrar “o outro” neste caso o hóspede, examinando emoção, impacto e atitude - refletindo sobre como o “pessoal” tende a responder sem intervenção - ao se encontrar com o novo ou ao tomar decisões sobre como responder. Isto significaria que as discussões sobre educação e conhecimento compreendem questões que investigam valores, crenças e preconceitos, não simplesmente discussões de técnica e conteúdo.

Uma segunda possibilidade educativa é explorar a responsabilidade como um apelo ao “como se apresentar para o outro” (Bauman 1995; Todd 2003). Todd (2003) contextualiza as três modalidades de Bauman para a união na educação: ser-diferente, ser-como-é e ser-disponível. Ela observa que estar distante ocorre em quase todas as salas de aula, pois estar junto se traduz em proximidade, embora nem sempre “reconhecimento mútuo” (Todd 2003, p. 46). “Ser-como-é” é uma forma de aproximação que fica mais evidente quando todos são chamados a conversar uns com os outros de assuntos transitórias ou superficiais: uma sessão casual de perguntas e respostas em sala de aula, ou numa discussão sobre o assunto em questão. Esta forma de aproximação não provoca sensação de ficar vulnerável para “o outro”; pois os  aspectos ligados ao “pessoal” estão envolvidos de maneiras naturais e seguras” (Todd 2003, p. 47). A terceira modalidade, ser-disponível para o outro, invoca uma forma de aproximação que prepara as pessoas (Todd 2003) para situações, em encontros com outros, que colocam “o eu” à prova . Esta abordagem ecoa elementos da hospitalidade de Derrida na forma como transcende as fronteiras de tempo e lugar, e convida o anfitrião (recepcionista) a se transformar e se mover em direção ao "horizonte imaginário" (Bauman 1995, p. 51) de um encontro perfeito. Por estas razões, a modalidade de ser-disponível para “o outro” é uma construção útil para promover uma educação para a responsabilidade, na qual se cria o compromisso de abrir espaço para sentir e lidar com a tensão de como e por que sentir empatia pelo “outro”. É menos importante defender um determinado tipo de resposta acolhedora (embora Todd (2003) ofereça uma discussão abrangente dos limites da empatia em um contexto educativo) do que criar um espaço curricular, real para a discussão. de como e por que alguém sente algo em reação a algo ou outra pessoa.

Um terceiro aspecto do acolhimento pode ser discutido, mais concretamente, como as maneiras pelas quais o acolhimento gera o novo, o renovado, o criativo e o inovador. Em uma educação para a responsabilidade, cultura e conhecimento não são simplesmente interpretados como permeáveis, mas como desejavelmente tênues, porosos e incompletos. Moore (2016) defende uma exploração das multiplicidades que se liberte do falso dualismo do distanciamento na busca de novas ideias sobre como viver bem na Terra. Trischler (2016) determina que, para que ocorra uma mudança significativa no Antropoceno, é necessário haver menos silos culturais para que conexões novas e dinâmicas possam ser feitas em resposta aos desafios em desenvolvimento e em andamento. Colocados no contexto da hospitalidade e da educação para a responsabilidade, esses apelos sugerem que é preciso estar preparado, por meio do encontro com os outros, para ser mudado. É preciso ser capaz e querer ver o mundo de novo, ou de uma forma diferente.

 

Frequentemente, a educação prepara os alunos para o oposto. Isso pode sugerir que o mundo que eles herdam é composto de sistemas fixos, regras e estruturas que devem ser dominadas. A educação muitas vezes pode se tornar uma inculcação, à medida que os alunos são pressionados aos moldes da boa cidadania através de políticas. E, no entanto, essa abordagem simplesmente ossifica o seu pensamento e apresenta o mundo em categorias invioláveis. Os processos do capitalismo, incluindo expropriação e consumo, são aceitos como a lógica dominante para os encontros com o mundo e uns com os outros, enquanto os resultados capitalistas, como a desigualdade material, são considerados óbvios. O espaço para a inovação radical é limitado. O “estranho” no limiar da porta não apresenta uma oportunidade para a novidade, mas, em vez disso, é visto como uma ameaça de diferenças que deve ser subjugada e ensinada nos modos corretos de ser. Uma educação para a responsabilidade trabalha contra esse tipo de reificação, (Redução do ser humano a valores meramente materialistas) construindo a mudança como desejável. Não enfatiza o domínio do assunto, mas dá prioridade à formação de conexões entre ideias, teorias e disciplinas. As artes não se diferenciam das ciências. Linguagem, história e hospitalidade, são exploradas como meios inter-relacionáveis ​​de envolvimento com o mundo. A necessidade dessa interdisciplinaridade é evidente na chamada de Palsson et al. (2013) para investigação interdisciplinar na bolsa de estudos e em Dawson (2016) lamentam que as soluções para as crises do Antropoceno muitas vezes falham ao envolver o lado político. Por meio do envolvimento interdisciplinar intencional que faz perguntas sobre ética e política em todos os campos, os interessados se conscientizam da possibilidade de mudança e da responsabilidade contínua que isso gera.

Por último, com base no reconhecimento da mudança como desejável, é útil dedicar algum tempo ao exame do humano, e dos sentimentos de resistência à mudança que emergem no limiar do acolhimento. Para Derrida (2000), “a hospitalidade se opõe ao que nada mais é do que a própria oposição, ou seja, a hostilidade” (p. 4). Ao oferecer boas-vindas, então, é preciso lutar contra as tendências inerentes à hostilidade de analisar hábitos, crenças e costumes, em vez de analisar “humanos” evitando as risadinhas pelas costas. Aqui, uma educação para a responsabilidade cria tempo e espaço para o exame da resposta amistosa que alguém sente ao encontrar a diferença. Ou seja, uma educação para a responsabilidade examina as raízes da hostilidade, busca exemplos de hostilidade codificados nos hábitos e costumes e faz perguntas sobre como lidar com a hostilidade enquanto se encaminha para as boas-vindas. Este não é um aprendizado abstrato ou periférico. No mundo moderno, houve uma explosão de hostilidade ao “outro”, proporcionada por tecnologias que permitem a manipulação algorítmica, câmaras de eco e bolhas de filtro que excluem a diferença. As pessoas são movidas mais pelo sentimento do que pela persuasão dos fatos. A propaganda e o populismo estão infectando democracias e destruindo o discurso público. Como tal, há mais ímpeto do que nunca para examinar a resposta afetiva como um componente consequente de como as pessoas encontram as diferenças, encontram outras no limiar da porta e tomam decisões para um mundo comum..

 



 Continuaremos



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