BEBIDAS
ALCOÓLICAS DESTILADAS
A Destilação
A destilação de
bebidas no Ocidente é creditada aos gregos, que usaram a fórmula 20 anos depois
de Cristo aproximadamente, ainda que em data não definida. Os Romanos
partilharam sem dúvida dessa descoberta, pois fabricavam a grappa, uma
bebida à base de uvas semelhante à Bagaceira, com equipamentos de destilação
eventualmente copiados de outros existentes em países do Oriente Médio, que
haviam ocupado nas suas lutas pela expansão do império Romano. Diz-se que os
árabes, usavam uma bebida destilada que denominavam al khôl, de onde
derivaria o álcool dos ocidentais.
A bebida alcoólica
obtida por destilação de vinho, chama-se aguardente. Por extensão, aquelas que
não sendo extraídas dessa base são obtidas por fermentação e destilação de
grande número de plantas, raízes ou tubérculos, frutos e sementes, são também,
conhecidas, por esse nome. Entre outras, citaremos as obtidas da cidra, cereja,
ameixa, cana de açúcar, beterraba, cereais, figo, medronho, zimbro, batata,
etc.
As aguardentes
contêm, geralmente, menos de 70% de álcool e podem ser aromatizadas pela adição
ou destilação em presença de: bagas, folhas ou caules de certas plantas.
A maneira corrente de
tratar as aguardentes, transmitindo-lhes sabor agradável, e tornando-as uma
bebida branda e aceitável pelo palato, consiste no seu envelhecimento em cascos
de carvalho.
Algumas aguardentes
têm nomes próprios, que definem a base de destilação. Assim, enquanto a
aguardente propriamente dita é a bebida destilada do vinho ou da fermentação do
engaço do mesmo, as aguardentes destiladas da fermentação de grãos, chamam-se
uísques, (embora a vodka tenha a mesma base), as obtidas do açúcar rums,
e aquelas que se extraem de certas bagas selvagens, gins ou genebra.
Procuraremos,
seguindo o critério que nos levou a escrever este texto, definir cada uma
destas bebidas espirituosas.
Aguardente
Tendo dado a
descrição, do que significa a palavra aguardente, acrescentaremos algo da sua
história. Sendo a mais antiga das bebidas de alto teor alcoólico, pode também
ser reconhecida como a mais pura. Na farmacopeia é denominada Spiritus Vini;
os latinos, chamavam-lhe aqua vitae (água da vida), mantendo ainda os
franceses, a designação de eau-de-vie, que se aproxima daquela. Na
região demarcada como Ibéria, os nativos preferiram usar o designativo de acqua
ardens, do qual derivaria, o hoje utilizado ‘aguardente’. Durante muitos
séculos foi usada como remédio, sendo ministrada em todos os casos onde uma
reação rápida do corpo era necessária.
Aguardente de
Frutas
O Kirsch, o
Slivovitz, o Himberergeist, o Barack Palimka e outras ainda, são aguardentes de
frutas que, pela sua apresentação, são quase sempre citadas como Licores.
Applejack
Aguardente de maçã,
preparada por destilação dos resíduos de fermentação da cidra (Veja CALVADOS).
Aquavit
Bebida bastante comum
nos países escandinavos, a Aquavit é preparada pelos processos usados para o
gim, sendo no entanto o cereal substituído pela batata, cuja produção é
abundante naquelas regiões.
Cada país tem a sua
maneira própria de preparar, e faz isso de acordo com o seu gosto. O Aquavit na
Dinamarca, é mais seco que o da Noruega e o da Suécia, sendo este o mais doce
de todos. Internacionalmente, o Taffel Aquavit de fabricação dinamarquesa é,
porém, considerado o melhor.
A produção é
estritamente controlada aqui pelos
governos, pois a Escandinávia é uma região onde o abuso do álcool não é
permitido.
Serve-se gelado como
a Vodka, sem no entanto colocar o gelo em contacto com a bebida. Gela-se a
garrafa e o copo.
Arrack
Bebida Havaiana,
produzida por destilação de polpa de arroz fermentada e melaço, com adição de
água de coco. Engarrafado normalmente com 45°, o Arrack é envelhecido em cascos
e diz-se ser de origem chinesa, possivelmente devido à interveniência do arroz
na sua fabricação.
Arack
Batavia Arack ou,
Arack rum, é um tipo especial de rum bastante aromático, produzido em Batavia,
na ilha de Java, e muito usado na Holanda e Escandinávia.
Bastante seco e muito
oloroso, nada tem de comum com os runs cubanos ou jamaicanos. Citamo-lo aqui,
para evitar confusões entre os nomes Arrack e Arack, os quais designam, bebidas
que diferem entre si, muito embora o Arack também seja, como aquele, fruto da
fermentação de melaço, com massa de arroz vermelho de Java.
Denominações de
bebidas nos países do Oriente, tais como Araki, podem levar profissionais menos
avisados a confusões evitáveis, pelo que convém estar atento.
Bagaço ou Bagaceira
A aguardente
bagaceira, extraída do bagaço do vinho, é bastante comum em Portugal. Os
franceses chamam-lhe Marc e, os italianos, Grappa; e produzem-na do mesmo modo
que os camponeses Lusitanos. Não é uma bebida fina, mas tem apesar disso, um
número grande de fiéis apreciadores. Aguardentes de figo, de medronho de maçã e
de pera, são também produzidas e, embora o seu sabor peculiar não seja
agradável para os iniciados, ele se constitui num prazer para os entusiastas,
com o decorrer do tempo e do consumo.
Barack Palinka
Aguardente de peras,
amoras e damascos (às vezes tidas como Licores).
Borovicka
Fabricado em
Vizovice, na Checoslováquia, o Borovicka é uma aguardente branca, não
envelhecida, que bastante se assemelha ao Gim, podendo ser servida como
substituto daquele. Tem, graduação alcoólica que ronda os 45°, e serve-se como
o gim ou a vodka
Brande
O Brande é apenas uma
aguardente envelhecida em casco, depois de corrigida. Muito embora se queira
fazer prevalecer, como designativo de uma variante, o vocábulo Brandy, ele não
é mais que uma palavra inglesa, para designar a aguardente de vinho, que os
franceses apelidam eau-de-vie.
Cachaça
Aguardente de cana
produzida no Brasil, para a qual os brasileiros conseguiram o reconhecimento
internacional de características e designação, tornando a palavra Cachaça, uma representação
de bebida, igual ao Rum.
Calvados
Nome por que é
conhecida, a excelente aguardente de maçã, fabricada na região do mesmo nome,
na Normandia, França. (Veja também Applejack).
Conhaque
Se na produção dos
vinhos, a região tem papel predominante pelo carácter do seu solo, isso não
acontece com as aguardentes, cuja qualidade depende muito da maneira como são
preparadas e envelhecidas. Existem em França, no entanto, duas regiões famosas
pela sua produção de aguardente, cuja qualidade provém, a nosso ver, tanto da
forma de destilação, quanto da qualidade dos mostos. São elas, o departamento
de Carântono (Charentes) onde se situa a cidade de Conhaque (Cogñac) e o Gers e
as Landes, com as suas famosas encostas de Armanhaque (Armagnac).
Na primeira, certas
delimitações existem para classificação e definição de qualidade. Vamos dá-las
pela ordem decrescente e utilizando a nomenclatura francesa: Grande Champagne,
Borderies, Fins-Bois, Bons-Bois, Bois-Ordinaires e Bois-Communs.
No Armanhaque,
Nogaro, Cazanbon e Gabaret, do chamado baixo Armanhaque, produzem aguardentes
de qualidade superior, análogas aos “Fins-bois” de Carântono.
Sem serem comparáveis
às que acabamos de descrever, as aguardentes de Hérault, no Languedoc, e as de
Marmande, no Lot-et-Garonne, são, contudo, dignas de citação.
Genebra (Giniver)
Também conhecida pelo
nome de Gim Holandês (Dota ou Holands Gin), a genebra foi originalmente
fabricada na Holanda, de uma mistura de bagas de zimbro e outros aromáticos,
com cevadas maltadas, que depois era destilada, pouco mais ou menos pelo
processo do uísque. A bebida, bastante aromática, ácida e amarga, é sem dúvida
estupenda para fins medicinais, dizendo-se ser um ótimo remédio para o lumbago.
Devido no entanto à
impossibilidade da sua mistura com outras bebidas, a genebra só pode ser tomada
simples, e nunca serve de base a um coquetel. Os poucos apresentados, são
simples curiosidades não recomendáveis para apreciadores. As genebras mais
famosas, todas de fabrico holandês, como não podia deixar de ser, são as das
marcas Fockink, Bols e Hulstkamp.
Gim
Esta bebida, que
aparentemente não tem relação com a genebra, tal a grande diferença de paladar,
é no entanto manufaturada com os mesmo ingredientes daquela. A designação de
London Gin, (pois a Genebra é conhecida por Hollands Gin) é uma demonstração
disso, sendo a diferença de paladar, fruto dos processos de fabrico. Os London
Gins sofrem uma dupla destilação que lhes afina o gosto, sendo apresentados nos
tipos doce (Old Tom) ou seco (Dry), brancos ou amarelos. Os Gins mais
conhecidos, são: Booth, Gordon, Holloway, Gilbey`s, Tower of London e
Beefeater. O Seagram’s Golden é um excelente Gim amarelo, pouco conhecido, no
entanto.
Himbeergeist
Aguardente húngara de
medronhos.
Kirsch
Aguardente de cereja,
erradamente classificada como licor.
Mirabelle
Aguardente francesa,
muito amarga, destilada das ameixas conhecidas como “rainhas cláudias”.
Okolehao
Tendo por base os
mesmos ingredientes do Arrack, e como este originário do Hawai, o Okolehao
difere daquele no entanto, pelo processo de tratamento e pela adição ao
líquido, de sumo de taro, uma planta indígena da ilha que, no Arrack, é
substituída por água de coco. Sendo envelhecido em cascos de carvalho,
apresenta-se com uma cor amarela, que contrasta com o branco do Arrack,
semelhante ao Gim ou à bagaceira nova.
Quetsch
O mesmo que
Mirabelle.
Rum
Tendo em linha de
conta a sua origem, o rum pode ser designado como um sub-produto da indústria
do açúcar, pois se é certo que ele pode ser feito de suco fermentado de cana de
açúcar, na maior parte das vezes ,porém, a sua manufatura processa-se através
da destilação do melaço de cana, o xarope concentrado, escuro e muito viscoso,
que subsiste nos tanques, após a cristalização do açúcar. A este melaço é
adicionado, o resíduo de prévias destilações, sendo a mistura fermentada e
destilada.
No caso do rum
cubano, a fermentação é provocada pela adição de um fermento ou levedura
artificial. No rum jamaicano, a fermentação obtém-se pela exposição da massa ao
ar, do qual ela absorve os fungos que lhe provocam a fermentação. Sendo um
processo mais lento do que o usado no rum cubano, leva no entanto à obtenção de
uma bebida inteiramente diferente, em corpo e características.
O rum Bacardi
(cubano) é produzido em dois tipos, Carta Branca e Carta de Ouro.
Tradicionalmente, o Carta de Ouro é mais doce, mais pesado e envelhecido
durante mais tempo, razão por que também é mais caro.
Um outro Rum cubano,
menos conhecido, marca Varadero, engarrafado por Corporación Cuba Ron, SA, de
Havana, apresenta-se em garrafas de 70cl. e, com permanência de 7 anos em
barris de carvalho, exibe uma cor âmbar, e tem um sabor agradável.
Atualmente, é prática
utilizada, adicionar caramelo em maior ou menor quantidade, para dar cor e
paladar ao rum, razão por que se não deve falar em rum velho, e não se
justifica a diferença de preço, atendendo ao baixo custo do caramelo em relação
ao envelhecimento natural.
O rum Carta Branca é,
por excelência, o indicado para coquetéis, simples ou complicados, devido às
suas características e sabor.
Outros países
produzem rum. O Haiti, Barbados, Porto Rico, Brasil, Guiana Inglesa, Ilhas
Virgínias e Martinica com o famoso Negrita da casa Bardinet, são os principais.
O México, tem uma grande variedade, mas sofre neste capítulo do mesmo problema
dos queijos em Portugal, pois tão depressa o rum é excelente, como
inacreditavelmente se transforma numa bebida intragável: o Berreteaga,
fabricado em Tabasco, é sem dúvida o mais constante.
Slivovitz
Aguardente de ameixas
bravas, que se diz ser muito apreciada pelos israelitas. Em França, é bastante
comum uma derivação desta bebida, apesar do seu sabor pouco agradável. Vende-se
sob os nomes de Questsh ou Mirabelle.
Tequilha (Tequilla)
Esta bebida,
considerada, como a bebida nacional mexicana, provém de uma planta comum no
México, o agave ou cacto do deserto, designado pelo nome nativo de magué.
Por meio de golpes, a
seiva da planta é extraída e guardada em recipientes onde fermenta. Dado que a
fermentação se processa muito rapidamente, podendo alterar a qualidade da
bebida, a seiva é tratada com imenso cuidado. Do suco fermentado do magué,
obtém-se uma bebida, a pulqua, a qual é, por sua vez, destilada para a
fabricação de tequilla, espécie de aguardente muito olorosa e de sabor menos
agradável, bastante alcoólica. Há um rito especial que acompanha o ato de beber
tequilla, o qual consiste, em colocar na língua, uma pitada de sal e
algumas gotas de suco de limão. A mistura, produz um soluto ácido
hidroclorídrico que tem, sem dúvida, a finalidade de evitar que o cheiro
desagradável de bebida, causando náuseas, desencoraje o bebedor.
Depois de ingerida, a
tequilla atua como qualquer outra bebida de alto teor alcoólico,
desenvolvendo na sua catalização enorme poder calórico. Não cremos que a tequilla
possa alguma vez, ser apontada como componente aceitável de um coquetel, muito
embora nos Estados Unidos, durante a lei seca, fosse usada como substituto de
emergência para o Gim.
Uísque
Bebida que dia a dia
aumenta de consumo em todo o mundo, o uísque teve a sua origem nas regiões
gaelo-celticas, as terras altas, da Irlanda e Escócia. O “Usquebaugh”,
bebida primitiva dos montanheses, era uma espécie de ponche, feito de
aguardente de cevada, especiarias e açúcar.
Com a emigração dos
irlandeses e escoceses, para o Novo Mundo, nasceu no continente Americano a
manufatura desta bebida, elevando-se para quatro, os tipos de uísque
conhecidos, os quais são:
O Escocês, (dito
Scotch pelos americanos), feito à base de cevada maltada, seca em fornos após
fermentação;
O Irlandês que,
embora fabricado pelo mesmo processo, não tem, o característico sabor a fumo,
(comum àquele e tão do agrado dos apreciadores), obtido pelos escoceses nos
“Kilns” (fornos) onde, aquando da secagem, os maltes se impregnamdo fumo da
turfa, pelo contacto direto;
Os uísques Americanos
e Canadianos, conhecidos por “Rye Whisky”, feitos à base de centeio, e os
“Bourbons”, fabricados com grãos de milho, tanto nos Estados Unidos (Kentucky),
como no Canadá (Ontário).
Estes dois últimos,
são designados por “Whiskeys” (em vez de Whisky), em razão de,proteção de marca
e definição de origem.
Descritos os diversos
tipos de uísque e as bases em que assenta a sua fabricação, queremos frisar que
nunca, corretamente, se pode dizer que qualquer deles tenha maior ou menor
categoria, quando em confronto com os restantes, pois isso depende muito da
preferência, ou hábito, do consumidor. Claro que ao fazermos esta afirmação,
referimo-nos aos tipos e não às marcas, as quais são influenciadas pelo
cuidado, ou critério, dos fabricantes.
Antes de nos
alongarmos noutras explicações, relativas à bebida de que estamos tratando,
queremos chamar a atenção, para duas palavras que se vêm inscritas nos rótulos
de uísque, sendo que nos ditos “Scotch”, uma mais frequentemente do que a
outra. Essas palavras, “straight” e “blended”, dão-nos a
característica do produto e têm, a seguinte explicação:
Até há cerca de cem
anos, tanto os uísques escoceses, como os irlandeses, eram fabricados apenas
com cevada maltada, destilada após fermentação. Mais tarde, por necessidade de
concorrência e devido ao grande consumo, um novo processo de fabrico foi descoberto
e adoptado, pois se verificou que a bebida assim obtida era mais barata, embora
de características ligeiramente diferentes. Por este novo processo, a cevada
não era maltada antes da fermentação. No entanto, com o desejo de manter a
bebida, tanto quanto possível, dentro das suas características normais e
iniciais, achou-se uma dosagem de mistura do líquido obtido pelos dois
processos, a qual satisfazia plenamente. Assim, a designação de “straight”
(puro) aplica-se aos uísques maltados, sem mistura; “blended” (misturado),
indica que a bebida tem, em percentagens controladas, uísque de cevada maltada
e não maltada. Queremos acentuar que, atualmente, o uísque straight é
quase desconhecido, sendo esta palavra, encontrada apenas nos rótulos dos
Bourbons que, como já dissemos, não são feitos com cevada e não estão,
portanto, abrangidos pelas normas e designações dos outros uísques indicados
neste texto.
Uma das leis que
regem o fabrico do uísque, assegura que só os dois tipos da mesma bebida atrás
citados, podem ser misturados entre si, não sendo admitidos outros produtos, ou
matérias corantes, como ervas, caramelo, etc. Evidentemente que, por necessidade
de correção na graduação alcoólica, o uísque é por vezes adicionado de álcool,
ou água destilada, consoante a necessidade, até atingir os 90º Proof,
normalmente indicados na etiqueta e que correspondem aproximadamente a 45º de
graduação alcoólica. A prova de que todas estas normas são respeitadas, e de
que, o uísque obedece ao estabelecido, é dada por uma frase, também
obrigatoriamente aposta, nos rótulos das diversas marcas, a qual diz: “bottled
under Government control”.
As misturas
intervenientes na dosagem, são envelhecidas, antes ou depois da sua junção.
Nenhum uísque com menos de três anos pode ser posto à venda, sendo os melhores aqueles
que atingiram sete anos, ou mais. Com doze anos, um uísque pode considerar-se
“velho”, embora os de quinze ou mais, sejam os melhores.
Vodca
Nas estepes russas e
nas grandes planícies polacas, os camponeses criaram e aperfeiçoaram, de acordo
com o gosto próprio, a bebida que hoje é considerada como representativa da
região e que, por snobismo ou prazer real, está sendo cada vez mais consumida e
fabricada em todo o mundo. Se procurarmos dar, uma ideia exata do tipo desta
bebida, diremos que ela é um uísque, muito embora tal possa parecer
inverossímil. Com efeito, sendo produzida como aquele, à base de um cereal
(cevada, centeio ou milho), ela leva sempre, também, a adição de um pouco de
malte. Como única diferença, temos que a vodka não é envelhecida em
cascos, sendo engarrafada, ou conservada, em recipientes de vidro,
imediatamente após a destilação. Ela não adquire assim, cor ou paladar,
guardando ao mesmo tempo todo o seu teor alcoólico.
É uma excelente base
para coquetéis, pois devido à sua falta de sabor pode misturar-se com qualquer
outra bebida sem se lhe sobrepor, o que é enormemente vantajoso em misturas.
Quando tomada simples, deve estar bem gelada, ingerindo-se de um só trago, e
nunca em pequenos sorvos. Como todas as bebidas de alto teor alcoólico, a vodca
não visa satisfazer o paladar, mas sim à obtenção de calorias para o organismo,
através de sua ingestão. Não é portanto, uma bebida de prazer, mas sim de,
necessidade; o famoso gesto cossaco que muita gente interpreta como uma
demonstração de valentia, não é mais do que a maneira normal, e compreensível,
de fazer chegar diretamente ao estomago, uma bebida que poderia fazer empolar,
se aí se detivesse na passagem, todos os tecidos da boca.
A marca de vodka,
internacionalmente mais conhecida é a Smirnoff. Uma outra variedade, dita
Zubrowka, deve o seu nome à erva utilizada para a infusão que a caracteriza,
aromatizando-a
Um pouco de
história da Vodca
Tal como o uísque,
cuja origem é disputada pela Escócia e Irlanda, a Vodca também tem a sua
procedência, pleiteada tanto por Russos como Polacos, que reivindicam para si,
a “invenção” da bebida. Há séculos, discussões intermináveis sobre a qual dos
países pertence a paternidade da vodca, têm criado correntes de opinião. A
palavra vodca é, originária do russo voda ou do polonês zhiznennia
voca, que têm o mesmo significado: “água da vida”. Esta definição, para
bebida destilada, já era usada no idioma francês, para designar uma aguardente
“eau de vie”, e dado o reconhecido pendor da corte russa pela França,(o francês
era a língua falada na corte russa), não fica difícil aceitar a interferência
que possa ter havidonessa denominação. Uma corrente de estudiosos do assunto,
afirma que a bebida nasceu na Rússia no século XVI, e a partir daí
popularizou-se na Polónia. Há quem afirme porém, que ao contrário, ela teria
surgido no século XV em terras polacas e conquistado os russos um século
depois.
O registro mais
antigo que se conhece, sobre a Vodca na Rússia, vem do século XII e indica que,
nesse tempo, se produzia ali um tipo de álcool com essas características, para
fins medicinais. Os monges do Kremlin, em Moscou, vendiam uma bebida de alto
teor alcoólico, como antisséptico bucal, que ressaltava o sabor dos alimentos.
(Tomei esta informação de um artigo romeno). A verdade é que no século
XIV, os povos eslavos já conheciam a Vodca e, independente da origem: Russa ou
Polaca, a bebida conquistou e vem aumentando o seu espaço, na preferência de
quem aprecia uma boa bebida, seja pelo facto de não alterar o gosto dos
ingredientes utilizados na elaboração de coquetéis, seja por tornar mais forte
qualquer outra mistura ou ainda, pelo sua conhecida faculdade, de não acentuar
o hálito de quem bebeu.. Pura, bem gelada, ou misturada a sucos de frutas, a
Vodca ajuda a compor inúmeros e deliciosos coquetéis.
No século XIV, a vodka
fabricava-se, de uma forma comum, tanto na Rússia como na Polónia. Nesse tempo,
o consumo ainda não estava difundido, e a bebida era utilizada sobretudo, em
serviços religiosos. A partir do século XVII porém, a vodka já fazia
parte dos banquetes imperiais, e o seu consumo foi-se generalizando. O Kremlin
aparece assim como o incentivador do consumo de Vodca, na Rússia. (É a partir
daqui, que a vodka se torna mais conhecida e, disputada).
A produção se fazia
de batata, mas pode ser obtida da destilação de diversos outros produtos:
trigo, cevada, centeio, beterraba, etc; era fabricada com baixo teor de álcool,
sendo depois filtrada por carvão vegetal.
Petru cel Mare,
reconhecido como um dos maiores consumidores de vodka, da Rússia, é
apontado como um personagem caricato, e faz parte do folclore da vodca,
sobretudo nos bares de São Petersburgo.
Na Polónia e na
Rússia, as bebidas alcoólicas são comuns fabricadas em quase todos os lares, e existem
em grande variedade e em muitas versões, aromatizadas com ervas, frutas e
especiarias; Na Polónia, uma das vodcas mais famosas é aromatizada com uma erva
muito semelhante à nossa cidreira e, conta a lenda, que a descoberta dessa erva
se deve a um boi.
Mesmo as vodcas não
aromatizadas, possuem um ligeiro sabor de matéria-prima, deliberadamente
mantido pela destilação, e realçado pelo envelhecimento.
Ao contrário do que é
corrente se pensar, a vodca não é boa apenas pelo grau de neutralidade de seu
sabor. A vodca sem sabor é, apenas, um tipo de vodca.
Tanto na Rússia, como
na Polónia, é grande a popularidade das vodcas aromatizadas, mas não há dúvida
que, foi o facto de ser possível encontrar um destilado muito puro e sem sabor,
que consagrou a vodca, como base de coquetéis.
A vodca é a única
bebida, sem cor específica, sem sabor e sem aroma.
É possível que o
objetivo dessa purificação, fosse o de produzir uma bebida que não congelasse
nas baixas temperaturas, típicas do clima daquela região. O álcool congela a
uma temperatura mais baixa que a água, e foi esse o raciocínio que gerou a bebida mais
forte hoje comercializada, a vodca Polish Pure Spirit (80%). A maioria das
vodcas porém, tem 44º de álcool, e a popularidade da Smirnoff, como símbolo das
vodcas neutras, parece ter sido a base da disputa existente entre polacos e
russos, sobre a origem da bebida, pois a Smirnoff é procedente da cidade de
Lvov, polaca, durante a maior parte de sua história, mas anexada pela antiga
União Soviética.
Suécia, Finlândia e
Brasil, produzem vodcas de excelente qualidade. As melhores marcas são: a
sueca, Absolut, a russa, Stolichnaya, a polaca, Wyrobowa, a finlandesa,
Finlândia. A Smirnoff (do grupo United Destillers & Vintners ), é fabricada
no Brasil, e líder do mercado neste país. A Smirnoff, rótulo preto, importada
da Rússia, é destilada três vezes, de modo artesanal. A vodca deve ser tomada
sempre, gelada (mas sem gelo dentro do copo), de preferência em um cálice
pequeno e estreito. É recomendável, comer alguma coisa entre os goles.
A Vodca na
sociedade russa
Vodca e política
misturam-se, na Rússia. A vodca é uma instituição nacional russa, com um
importante papel político, pois é difícil subestimar, o lugar da vodca na vida
dos russos.
Analisando o bom e o ruim deste facto, verificamos que,
mais do que simplesmente a bebida nacional, a vodca tem sido considerada, há séculos, como símbolo do que há de bom e,
de ruim, na sociedade russa.
O lado positivo,
apresenta-se como a bebida sendo, um símbolo de celebração.
O lado negativo,
corresponde aos níveis crônicos, de alcoolismo e problemas relacionados ao
consumo excessivo da bebida, como o declínio nos níveis de expectativa de vida.
Além disso, a vodca
também desempenhou, um importante papel político, nos últimos anos.
O ex-presidente da
ex-União Soviética, Mikhail Gorbatchov, deixou muitos russos irados, ao
introduzir leis contra o consumo de álcool, logo após chegar ao poder, em 1985.
A situação, pendeu
para o extremo oposto, quando o presidente Boris Yeltsin alterou as regras, e o
álcool foi produzido, em boa parte, de forma barata e perigosa, sendo
disponível quase de graça.
O gosto declarado de
Yeltsin pela vodca, levou-o a embaraçar
publicamente os russos, em muitas ocasiões.
"Vodca para
todos", foi o slogan do político nacionalista, Vladimir Zhirinovsky, que
concorreu à presidência em 1996, e incluiu em seu programa de governo, uma
cláusula que estabelecia "vodca barata para todos".
O líder comunista
Gennady Zyuganov revelou ao candidatar-se que, se fosse eleito presidente nas
eleições, introduziria o monopólio
estatal, na produção da bebida.
Vladimir Putin,
ordenou o aumento do preço da vodca, mas espera que a maioria da população,
interprete esse aumento no preço da bebida, como um sinal de que ele quer que a
economia russa, funcione direito. Será que é sem bebedeiras?
As novas gerações
porém, começam a valorizar a saúde e a tendência russa, para o excesso de
bebida, tem tendência a se tornar uma recordação do passado.