sexta-feira, 28 de dezembro de 2018


O ESCANÇÃO E O SERVIÇO DE VINHOS

 Extrato do meu livro "Manual do Barman e do Escanção"

“Escanção” é o vocábulo adoptado para designar o responsável pelo serviço de vinhos e ele corresponde ao até aqui designado, “chefe de vinhos” em Portugal e “sommelier”, no Brasil.
É a retoma de uma palavra portuguesa, quase posta de parte, em boa hora integrada ao vocabulário hoteleiro, onde tão necessária se torna a nacionalização.
Por nos parecer, bem actual, transcrevemos aqui o que dissemos no nosso livro “Manual de Restaurante e Bar” sobre este profissional. Parece-nos que, pelo facto de em certos momentos do seu trabalho usar de conhecimentos análogos aos do barman, será de muito interesse consultar os conselhos que damos a este, no Capítulo “O Bar e o Barman”, sobretudo no que diz respeito, aos cuidados a ter com o corpo e com o vestuário.

 

ESCANÇÃO, CHEFE DE VINHOS (SOMMELIER)

Auxiliar e substituto dos chefes de mesa, o “escanção” necessita, para o bom desempenho das suas funções, de todos os conhecimentos do barman e dos empregados de mesa, aliados a um grande poder de insinuação,  necessário a um bom vendedor.
Sabendo-se que o lucro das refeições é sempre diminuto, é dos vinhos, licores e coquetéis que se espera obter o necessário rédito para ajudar a manutenção do estabelecimento.
Uma vez tomado conhecimento do cardápio escolhido pelo cliente, o escanção deve dirigir-se-lhe sempre como se estivesse tratando com um gourmet, sugerindo o vinho que, supõe, irá melhor com os pratos seleccionados. Se o cliente o é de facto, apreciará a maneira como o estão a servir; se não o é, sentir-se-á lisonjeado por ser tomado como tal, sendo o resultado desse sentimento, na maior parte das vezes, a venda de uma garrafa de vinho que não estava prevista. Com esse gesto simples, de rotina, serão atingidos dois objectivos de capital importância para qualquer restaurante: satisfação do cliente e aumento de receita.
O escanção deve, pois, estar sempre presente, sugerindo e servindo sem precisar ser chamado.
O serviço de vinhos mal feito (copos vazios, vinho servido fora de tempo ou a temperatura inadequada, etc.) indispõe o cliente pela falta de atenção que revela, levando a referências pouco lisonjeiras sobre o serviço em geral, do que muitas vezes os restantes empregados não têm culpa.
Deve haver da sua parte uma fiscalização constante e uma observância estritade tudo o que lhe diz respeito, pois o vinho tem numa refeição um papel muito mais importante do que simples auxiliar da deglutição.




O SERVIÇO DE VINHOS

Desde longo tempo se considerou necessário que uma diferente qualidade de vinho acompanhasse cada prato, tendo em conta a sua composição. Para isso, estabeleceu-se a seguinte ordem:

                                    Vinhos do Porto, Madeira, Jerez, etc.
Acepipes,  com     -  Vinhos de mesa brancos, secos, verdes ou maduros.
                                    Muito raramente um vinho generoso.
Consommés          -  Vinho generoso seco.
Sopa                  -  Geralmente não se serve vinho  com a sopa, excepção feita para    sopas de peixe ou de marisco, que exigem um branco seco.
Mariscos ou Peixes:
   Cozidos – Vinho de mesa branco adamado, (doce).
   Gratinados ou Assados – Um vinho verde ou maduro (seco).
   Caldeiradas ou idênticos – Um vinho tinto não muito carregado       (verde ou maduro)
Entradas                                   - Vinhos de mesa tintos  ou palhetes, verdes ou maduros.
Assados ou Caça      - Vinho de mesa tinto (velho se possível). De preferência   espumante natural, seco ou bruto.
Queijos                     - Vinho de mesa tinto, velho; Porto ou Madeira.
Doces                        - Vinhos espumantes, generosos ou licorosos (meio doce ou doce).
Frutas                          - Normalmente, a fruta já tem, por si, acidez que lhe baste para o paladar.
Salvo casos especiais de frutas como o ananás, morangos, etc., em que um vinho licoroso vai bem, não acho que se devam servir vinhos  com as frutas. Aliás, estas são já um complemento ou transição para o serviço seguinte, o dos cafés e
licores.

O vinho espumante (ou o champagne) é o único que se pode servir com todos os pratos, do início ao fim de uma refeição, excepção feita para o queijo.
Para este, o vinho tinto, um bom tinto velho, é ainda o ideal, apesar de se citarem os licorosos para esse efeito.
O vinho sabe melhor quando servido em copos finos. Do mesmo modo, os vinhos velhos, os vinhos com categoria reconhecida e os de sobremesa, devem ser sempre servidos na garrafa de origem, tal como estiverem na cave. Para esse efeito, existem cestos especiais, onde as garrafas são colocadas com cuidado; nada de movimentos desnecessários, nada de safanões ou golpes. Só em casos muito especiais, de vinhos com demasiado pé, ou por outra razão forte, se deve proceder a decantação.
A mudança dos vinhos, para frascos de cristal, chamados “decanters”, muito generalizada até há pouco é, um erro, pois faz o vinho perder grande parte de seu aroma, do seu espírito e da sua qualidade. O verdadeiro sucesso do vinho está na sua vetustez, não no envólucro que o apresenta.

TEMPERATURA DOS VINHOS

Para que os vinhos possam dar ao paladar o prazer desejado por aqueles que os tratarem desveladamente, deve haver o máximo cuidado na última parte dessa longa peregrinação iniciada nas dornas.
Nisso, a temperatura dos vinhos desempenha papel principal. Assim, os vinhos tintos maduros, os generosos, licorosos e as aguardentes servem-se à temperatura ambiente. Os vinhos de mesa brancos, rosés, palhetes ou tintos verdes, servem-se ligeiramente frios. Os vinhos de mesa doces e os espumantes naturais, servem-se gelados.
O gelo nunca deve, seja sob que pretexto for, ser adicionado ao vinho; fazemos evidentemente ressalva, para os casos de preparação de cups, puch ou misturas similares, para os quais se devem escolher vinhos menos nobres embora bons.
A maneira mais fácil de levantar um pouco a temperatura dos vinhos é colocá-los numa estufa, ou envolver as garrafas num pano com água quente.

ABERTURA DE UMA GARRAFA DE VINHO DE MESA

Para abrir uma garrafa de vinho, deve-se começar por cortar a cápsula de estanho, junto à parte inferior da saliência que todas as garrafas têm perto da boca. Com um guardanapo lavado, limpa-se a sujidade que normalmente se encontra entre a cápsula e a rolha.
Insere-se o saca-rolhas na cortiça, bem ao centro. Faz-se com que o saca-rolhas, através de voltas sucessivas, entre tão fundo quanto seja possível. Procura-se sacar a rolha de um só golpe, com confiança e elegância. Nada de gestos nervosos nem sacolejos à garrafa, os quais agitam desnecessariamente o vinho.
No caso de vinhos velhos, sacolejar é estragar completamente a bebida, pois o pé assente no fundo mistura-se ao líquido.
Depois de retirar a rolha, limpa-se bem o gargalo e coloca-se a garrafa na mão com o rótulo para fora.
Ao servir, mostrase o rótulo ao cliente. Nunca se deve enrolar a garrafa em guardanapos no momento de servir. Noutros tempos, o escanção anunciava, em voz alta, o vinho que estava a servir. Se isso for julgado necessário, pode ser feito.

ABERTURA DE UMA GARRAFA DE CHAMPAGNE

Se a garrafa é apresentada num balde, deve estar na posição vertical, com gelo bem apertado em toda a volta. É até conveniente cobrir o topo com gelo picado.
Retira-se a garrafa do gelo e envolve-se num guardanapo, para evitar que escorregue na mão. É bom ter em conta que a pressão numa garrafa de champagne anda à volta de 8 atmosferas. Quando se retira a garrafa do gelo, o vidro, que é grosso, está


contraído pelo frio. O contacto da mão quente pode, perfeitamente, originar expansão do vidro no ponto de apoio. Nestas condições, a garrafa pode rebentar.
Ainda que as possibilidades de isto acontecer sejam remotas, é bom ter conhecimento destes factos, para nunca se ser apanhado desprevenido.
Depois de retirar a cápsula, segurar a garrafa firmemente num ângulo aproximado de 180o (posição dos ponteiros de um relógio ao marcar 10 horas e 25 minutos) e desapertar os arames que seguram a rolha. Mantendo o ângulo da garrafa, sacar a rolha lentamente, tendo o cuidado de a segurar para não atingir qualquer dos convivas ou colegas de serviço. Depois de sacar a rolha, manter o ângulo da garrafa por aproximadamente 5 segundos, tempo necessário para que a pressão se normalize com a do exterior.
Se a garrafa estiver direita no momento de tirar a rolha, o gás sairá em turbilhão, arrastando consigo uma boa parte do vinho e, em vez de uma bebida, teremos conseguido um banho de champagne.
Limpar a boca da garrafa com um guardanapo limpo. O vinho está pronto para servir.
O champagne deve ser servido com dois movimentos.
Primeiro, deitar vinho no copo até que a espuma atinja o bordo deste, sem o deixar transbordar.
Deixar a espuma desaparecer e, então, servir a bebida até 2/3 do volume total do copo.
Ter o cuidado de não servir muito rapidamente, pois nesse caso o vinho transbordará mesmo.

COMO SERVIR VINHOS

Vários cuidados devem ser observados quando se faz o serviço de vinhos.
Daremos a seguir, uma pequena lista de conselhos ao escanção, sobre este serviço:
-   Os vinhos devem ser trazidos para junto da mesa do cliente, antes de serem necessários, dando a este a possibilidade de os ver. Os que devem ser servidos gelados, serão mantidos em baldes com gelo.
   O anfitrião pode provar os vinhos, mas o escanção também pode fazer esse serviço, rectificando se necessário.
-   O serviço de vinhos deve ser sempre feito com a mão direita e pelo lado direito do conviva.
-   Para servir aperitivos ou digestivos, as garrafas devem ser trazidas para a mesa e as bebidas, servidas à vista do cliente.
-   Os copos, de vinhos, de aperitivos ou de licores, nunca devem ser cheios até ao bordo.
   O copo de vinho só deve ser cheio até metade, para as senhoras, e até 2/3, para os homens.
-   O cesto foi criado para os vinhos velhos, com o objectivo de manter a garrafa deitada, tal como sai da garrafeira, para que o pé se não misture ao vinho.
  Não adianta usar o cesto, se não houver antes o cuidado de não agitar a garrafa.
-   Alguns vinhos velhos com excesso de pé podem ser decantados. O objectivo é retirar o vinho límpido da garrafa, deixando nesta o sedimento. Vinhos decantados são servidos em recipientes de cristal.


Não devem usar-se filtros para decantar vinhos.
Os vinhos brancos, não precisam ser decantados, pois normalmente não têm sedimento ou pé.

A LISTA DE VINHOS

A lista ou carta de vinhos é uma grande ajuda para o vendedor. Deve estar claramente elaborada e ser mantida limpa.
Os vinhos devem estar inscritos na lista, pela sequência normal do serviço durante a refeição.
O vinho deve ser sugerido e a lista apresentada, logo que o cliente acabou de escolher a comida.
Este é o momento psicológico para a venda do vinho.
A lista deve ser apresentada naturalmente, sem grande ostentação, mas com uma pequena sugestão, se for caso disso.
O escanção deve ter o cuidado de sugerir e servir sempre bons vinhos. Só há um caminho para quem deseje manter o negócio florescente: servir bom.
Quando o cliente tem confiança nos que o aconselham, aceita as suas sugestões e, por norma, um cliente satisfeito é um cliente fiel.
Nunca se deve decepcioná-lo e servi-lo sempre dentro das suas necessidades, é assegurar a sua constância e a sua amizade.
Para atingir essa finalidade, o escanção deve pensar que, na nossa época, o homem não age só em função das suas necessidades primárias, mas que ao consumo de determinado produto alia um conjunto de outras necessidades, entre as quais o conhecimento e a cultura. O bom escanção, como o bom barman, deve saber conversar e, sobretudo, saber conversar sobre o vinho. Levar ao cliente interessado algumas bases deste lado do "savoir vivre", é fazer um adepto e, um amigo.

SABER CONVERSAR SOBRE VINHO

Para se poder conversar sobre vinho, deve-se, antes de tudo, saber algo sobre vinho.
Estudá-lo, prová-lo, conhecê-lo portanto. Ao fazer-se a degustação, devem-se analisar as várias sensações que o vinho provoca, o que exige uma certa concentração.
O resultado dessas sensaações, deve ser arquivado na memória, para as podermos analisar e transmitir, no momento em que desejarmos falar sobre vinho.
Por outro lado, uma conversa exige termos convenientes ou apropriados. Vamos proporcionar alguns termos que se podem utilizar quando se desejar conversar sobre vinho:

-   Sobre a constituição do vinho – (O seu corpo em relação ao paladar).
Se desejamos dizer bem, usaremos termos como: encorpado, sólido, forte ou vigoroso, de categoria ou de qualidade, acabado (“É um vinho acabado!”), cheio, leve, substancial, aveludado, macio, delicado, fino, apetitoso, inteiro, puro.

Para significar que o vinho não é bom, podemos dizer, de acordo com as circunstâncias: fraco, pobre, frouxo, pouco encorpado, aguado, pastoso, áspero, acerbo, adstringente, desiquilibrado, pesado, carrascão, travoso, rascante.



-   Sobre a cor do vinho 
Se desejamos dizer bem: bela, clara, ambarina, brilhante, sumptuosa, cintilante, rubi ou rubica, purpúrea.

Para dizer mal (se for caso disso): turva, toldada, murcha, desbotada, carregada.

-   Sobre a vinosidade (ou teor alcoólico)
Para gabar o vinho, podemos dizer que é: vivo, nervudo, generoso, forte, capitoso, espirituoso.

Se desejamos demonstrar desagrado, diremos: brando, fraco, frouxo, frio, vulgar, pastoso.

-   Sobre o conteúdo de açúcar
Quando satisfaz, diz-se: seco ou doce, suave, delicado, licoroso, sedoso.

Quando é desagradável, diz-se, buscando o termo adequado: áspero, pastoso, insípido, adocicado.
  
-   Sobre o bouquet ou aroma 
Quando este agrada: perfumado, “fruité” (com sabor a fruto), fino, aromático, oloroso.
Quando não agrada: vulgar, sensaborão, desagradável, “bouchonné” (sabor a rolha).

-   Quando o vinho está estragado, diz-se: azedo, avinagrado, voltado, toldado, passado.

Tentámos resumir os elementos essenciais, permitindo ao profissional desejoso de evoluir, encontrar o mínimo necessário à sua aprendizagem. Não tivemos a pretensão de escrever para os mestres.
Esses encontrarão muitas lacunas neste nosso trabalho. Um manual no entanto, não é um tratado.
Para os que se iniciam na profissão, vai toda a nossa simpatia. Já percorremos o mesmo caminho, estando, portanto, aptos a saber o que lhes será útil, e o que vai ao encontro dos seus anseios.
Mais tarde, os seus conhecimentos serão aprofundados através do recurso a outras fontes. Nessa altura, esperamos que os seus conhecimentos possam ser transmitidos aos que lhes sucederem, com a mesma boa vontade que nos levou, a escrever este livro.
E digamos como Bossuet: “Le vin a le pouvoir de remplir l’âme de toute vérité, de tout savoir et philosophie”.
Traduzindo: “O vinho tem o poder de encher a alma de toda a verdade, de todo o saber e de toda a filosofia”.

Esperamos que assim seja!...




O BAR E O BARMAN

Extrato do meu livro "Manual do Barman e do Escanção"

Se pretendermos fazer um histórico do serviço de bebidas remontando à Antiguidade, iremos encontrar como estabelecimento mais conhecido na prestação desse serviço, a taberna romana (que também existia na Grécia).
Na citada Ibéria, a designação foi mantida embora com modificação, mas na Inglaterra, por exemplo, esse nome evoluiu para “pub”, diminuitivo de “public house” e em França, depois da ocupação russa de Paris, o termo russo bistro (pronunciado bistrô) foi adoptado também. Bistro em russo significa “rápido”, palavra que os soldados russos usavam, para pedir que o serviço fosse imediato, pois tinham receio de ser vistos na taberna pelos seus superiores. Como os franceses não sabiam russo, passaram a aceitar bistro como uma nova definição de taberna, e a palavra ficou.
No período colonial e, mais tarde, no do desbravamento para Oeste, surgiram nos Estados Unidos, os “saloons”, misto de espectáculo, jogo, bebidas e prostituição, que perdurou por muitos anos.
Foi aliás nos Estados Unidos que a imaginação, e a criatividade, mais contribuíram para a criação de novos tipos de nomenclatura para estes serviços. É deles a designação de “bar”, tal como é conhecida, a qual analisaremos adiante.
Na Inglaterra, eram conhecidos os “private clubs” (com serviço de bebidas, mas comidas também, e acesso interdito a senhoras), onde os homens discutiam os seus assuntos pessoais, negócios e política.
Os “clubes privés”, embora o nome possa sugerir alguma ligação, nada têm a ver com aqueles, pois são apenas e, principalmente, lugares de prostituição.
O “piano-bar”, o “dancing-bar” e outras definições semelhantes, são formas de levar as clientelas a se decidirem pelo divertimento e pela bebida.
Nos hotéis, existe ainda o serviço de “self-bar”, também dito “mini-bar”, o qual permite ao cliente uma selecção de bebidas em pequenos frigoríficos nos quartos. 
Com a designação de “snack-bar”, foi desenvolvida na Europa uma modalidade de serviço que, tomando como base o que nos Estados Unidos se chama “coffee-shop” e no Brasil, “lanchonete”, evoluiu para um balcão de serviço de comidas e bebidas, eliminando as mesas.

Analisando porém a designação que verdadeiramente nos interessa aqui, verificamos que a palavra bar deriva de “barra” (bar em inglês) e designava, inicialmente, não o local onde se serviam bebidas, mas sim, o balcão desse estabelecimento. Era costume esse balcão ter uma barra a todo o seu comprimento, onde os clientes se seguravam ou encostavam. Essa barra foi adicionada ao balcão com o intuito de evitar que os clientes se debruçassem sobre este, mantendo-os de certo modo afastados.



Quando o cliente queria ir para o balcão, dizia: “vou para a barra”;(”go to the Bar”). Em Espanha, ainda hoje se utiliza esta forma de identificar o balcão do bar.
O tempo e o hábito foram validando esta designação, a qual, por extensão, se aplica hoje aos estabelecimentos que servem bebidas. Nos Estados Unidos, porém, é frequente, sobretudo nos hotéis, chamar-se “cocktail-lounge” ao que entre nós se convencionou chamar “bar” (diminuitivo ou encurtamento de “american bar”).
Neste último tipo de estabelecimentos, os hotéis, podemos ainda encontrar outro género de bar, o “banquet bar”, espécie de copa preparada para o serviço de bebidas, funcionando anexa ao Salão de Banquetes.
Dali saem as bebidas para aperitivo, quando há serviço de banquete e todas as outras, quando se trate de “cocktail parties”.

Instalação de um Bar


Como para todos os outros departamentos de indústria hoteleira, não há regras imutáveis para a instalação de um bar.
Ao fazê-lo, deve-se porém ter em conta todos os factores que podem influenciar o funcionamento futuro e as maiores ou menores facilidades que para o serviço possam vir das decisões tomadas. A eficiência do barman ou dos barmen será sempre influenciada pelas facilidades que lhes forem concedidas na instalação do seu sector de trabalho.
Um bar trabalha à base de frio. Logo, um bom balcão frigorífico é necessário. Amplo, com a maior capacidade possível. Uma máquina de cubos de gelo é também indispensável. Uma boa copa. Armários para arrumação de copos, garrafas e outros utensílios. Um bar-americano não deve vender cerveja a copo (na nossa opinião) mas, em certos casos, tal prática pode ser necessária. Deve ter-se o cuidado de não ocupar lugar dentro do balcão com todo o equipamento de refrigeração. Além de fazer calor, ocupa espaço que é necessário para as próprias garrafas. Os compressores podem ser instalados em qualquer outro lugar. Pessoalmente, somos contra o lava-mãos no balcão do bar. O lava-mãos, ou lava-louça, pode ser implantado na copa, bem como a máquina de sumos, a máquina de café, a batedeira eléctrica (se houver) e todos os outros aparelhos semelhantes.
Se possível, o balcão do bar deve ter uma entrada e uma saída. Entrada, junto à copa, onde os empregados que fazem o serviço de mesa podem deixar o material sujo. Saída, junto à máquina registadora ou PDV (POS).
A máquina registadora deve estar bem visível. Tal prática coloca o cliente e o barman à vontade. O lucro de um bar depende da forma como for analisada a sua instalação. Do sentido prático e económico, tanto do serviço como da decoração, iluminação e implantação. Esta última deverá se analisada em relação ao local do edifício, se está englobada numa unidade hotel, ou em relação ao ponto da cidade (se é um estabelecimento independente). No caso de hotel, será sempre uma boa medida conseguir uma saída directa para a rua se tal for possível.
Quase sempre um bar representa um investimento razoável. É imperativo proteger esse investimento mantendo uma boa qualidade de serviço e de bebidas à altura da decoração e do capital gasto. Esta última parte é função do barman.
O sucesso de um estabelecimento deste tipo depende tanto de quem o monta como de quem o orienta.




EQUIPAMENTO DE UM BAR



A quantidade e a qualidade do equipamento de um bar, serão determinadas, respectivamente, pelo movimento de clientela e pela categoria do estabelecimento.
Assim, vamos apenas enumerar as peças em si, como ajuda à memória dos profissionais:


   1o. – Com que bater coquetéis                        Coqueteleira
   2o. – Com que mexer coquetéis                      Copo de cristal
   3º. - Algo com que passar a bebida                Passador
   4º. – Recipientes para gelo                             Balde grande para o balcão
                                                                                   Baldes pequenos para levar às mesas
   5º - Com que segurar o gelo                           Pinças de gelo
   6º - Com que servir as bebidas                       Copos (falaremos deles mais adiante)
   7º - Algo onde pousar os copos na mesa        Pequenas rodelas de pano ou papel
                                                                               (nunca nada metálico).
  8º. - Acessórios diversos (para o serviço)
- espremedor de sumos manual.
-   facas de dois ou três tamanhos
-   saca-rolhas e abre-latas
-   quebra-gelo
-   passador de sumos
-   pá para absinto
-   colheres para coquetel e long drinks
-   bandejas para apresentar contas
-   bandejas para o serviço
  9.º - cinzeiros para o balcão e para as mesas
10º - saleiros, pimenteiros, moedor de noz moscada.
         11º.- acessórios pessoais do barman 
·  isqueiro, corta unhas, informação detalhada  sobre a cidade, suas ligações aéreas e outras, lista telefónica, jornais diários, corta- charutos.

E tudo o mais que o barman entenda necessário, pois não queremos de forma alguma tornar definitivo o que aqui dizemos.




O BARMAN


O barman perfeito não existe. Se existisse, teria de reunir uma tão grande quantidade de conhecimentos e qualidades que nos apetece mencionar aqui o dito gracioso de certo cómico de Hollywood quando lhe perguntaram como seria a mulher perfeita, o qual afirmou: “Ela teria que ter as pernas da Marlene Dietrich, o corpo da Marilyn Monroe, o rosto da Maria Montez com os cabelos da Betty Gable”.
Assim, o barman ideal, deveria ser um misto de dândi na apresentação; gentleman e diplomata no trato; bem informado na conversação; psicólogo nos contactos, comerciante avaro ou esbanjador, sabendo dosear ambas; paciente como um santo e trabalhador como um judeu, aliando a tudo isto uma vasta cultura.
Não esperamos que o leitor pretenda candidatar-se a “barman perfeito”, mas aconselhamos que procure reunir o mais possível dos predicados acima expostos, com a certeza de que, no momento oportuno, lhe serão úteis.
O trabalho do barman requer predisposição. O serviço deve ser feito com calma e dignidade, criando uma atmosfera de bom gosto e em certos casos, de snobismo.
O trabalho do barman requer atenção e bom repouso. Deve procurar descansar bem e dormir o suficiente. O seu sorriso é a sua melhor arma e um dos melhores argumentos de venda. Deve cuidar dos seus dentes e do seu hálito. A sua apresentação torná-lo-á repulsivo ou atraente para o cliente, que aceitará ou não com prazer, a sua companhia e a sua conversação.
Deve pois:

-   Pentear-se bem e lavar bem o cabelo. Nada de perfumes exagerados que sobressaiam num ambiente fechado, como é o do bar.
-   Vestuário impecável, sem manchas de sujidade ou de transpiração. Roupa interior mudada com frequência.
-   Nunca usar camisas de cor, a menos que façam parte do uniforme.
-   Não usar jóias, quando em serviço. Apenas a aliança, se for casado.
-   Ter cuidado com os pés e o calçado. Pés doloridos não dão um bom sorriso ao barman. Meias mal lavadas não dão bom sorriso ao cliente. Deve mudar meias e sapatos (se puder), ao menos duas vezes por dia. Sapatos com muita utilização desenvolvem um cheiro a couro que aumenta com a transpiração. Esse cheiro passa quando os sapatos arejam. Dois pares de sapatos de serviço são aconselháveis se o barman transpira dos pés.
-   O barman não deve fumar quando em serviço.

Esta peça deve ser de fácil limpeza, pois devido à sua função pode sujar-se facilmente. Quanto à cor, o branco ou o creme são a meu ver a cor ideal. Não há a menor dúvida que o casaco é ainda o melhor. O barman deve ter dignidade e elegância, por isso, a jaqueta não é de aconselhar.
O casaco jaquetão parece-nos o mais indicado. O casaco aberto tem tendência a deixar ver o cinto, a camisa e por vezes apresenta-nos um barman muito desajeitado. Calças pretas e gravata, parecem-nos perfeitos. Sapato preto, de verniz, se possível.
O uniforme deve ser usado impecável. Limpo, engomado e escovado.







O SERVIÇO DE BAR


O principal serviço num bar é o da preparação (ou mise-en-place), que geralmente é feito de manhã, antes da abertura. É esta preparação que vai permitir, pelo dia fora, durante as horas de movimento, encontrar no seu lugar o necessário, no momento exacto. A primeira coisa a fazer é, sem dúvida, cumprir o horário. O tempo utilizado durante a “preparação” jamais é excessivo e, quando esta é feita às pressas pode comprometer tudo.
A limpeza do bar deve estar impecável; dentro do balcão, nos frigoríficos e no salão dos clientes. O bom barman deve fiscalizar os sanitários que servem o “seu” bar, pois serão utilizados pelos “seus” clientes. A limpeza dos sanitários “diz tudo” sobre a higiene de um estabelecimento.
A temperatura (ar condicionado ou aquecimento central), deve ser verificada, bem como inspeccionado o funcionamento da aparelhagem de controlo. É o conforto que faz vir a clientela (além das boas bebidas e das atenções do barman).
A carga (quantidade das várias bebidas) deve ser reposta com requisições feitas à cave ou à despensa. Tudo o que for entregue à secção deve ser minuciosamente conferido. O bom barman não deve ter receio do controlo. Deve ele próprio, controlar a sua secção. As quantidades de gelo existentes devem ser verificadas. Todo o equipamento de trabalho deve ser bem limpo e inspeccionado.
Os aperitivos de bar devem se preparados e inspeccionados. Os vulgares salgadinhos, pastelinhos de carne, bolachas de queijo, etc. devem ser mantidos frescos.

O bom barman deve ter sempre em mente que, sendo responsável por um departamento de grande impacto social, que cria, na maior parte das vezes, se não sempre, a imagem do estabelecimento, os seus modos, gestos e atenções reflectem-se nas vendas e estas, determinam a política da direcção[1] em relação ao futuro.
Sem pretender torná-las em “Decálogo” do barman, vamos enumerar as regras que julgamos pertinentes:


Acreditamos que estes dez pontos são os que mais podem interessar o barman estudioso, com interesse em se valorizar. A simpática classe dos barmen, por outro lado, deve analisar osconselhos que a nossa experiência nos sugere como “conselhos aos gerentes” em relação ao barman.

Conselhos aos Gerentes de Bar

1.     Seleccione bem o barman que pretende admitir.
2.     Entregue-lhe o bar em plena confiança, exigindo-lhe rendimento e bom trabalho.
3.     Se não tem confiança no seu barman, não o mantenha ao serviço.
4.     Se quer ter um barman em quem possa confiar, pague-lhe justo, de acordo com o que lhe é exigido. Um barman que faz bom negócio merece um bom salário.
5.     Demonstre ao barman que tem interesse por ele e que o seu serviço lhe agrada. Todos precisam de estímulo para ter bom rendimento.
6.     O controlo do bar não deve ser feito às escondidas. O barman deve conhecer as bases em que trabalha e o que se espera dele, bem como as médias a atingir e o tipo de controlo existente.
7.     Ouça as sugestões do seu barman. Ás vezes ele conhece melhor os clientes que o gerente do bar. E para sermos grandes também temos que, de vez em quando, ouvir os pequenos.
8.     Não faça regras muito rígidas para o bar. O barman tem que, por vezes, fazer excepção às regras para satisfazer os clientes.
9.     Se entender que deve treinar os seus próprios barmen, faça-o. Não se esqueça, porém, que não pode olhar para eles sempre como aprendizes. No momento em que seleccionar o melhor e lhe der a responsabilidade de barman-chefe, deve tratá-lo como tal.
10. Procure estabelecer os seus preços, de acordo com o rendimento que pretende do bar. Não pode exigir ao barman que seja honesto, se lhe exige rendimento acima do que lhe é possível dar.




[1] O hábito de trabalhar em Hotéis leva-me a usar sempre o título de director quando se trata do responsável por uma unidade mas, como este livro se destina aos barmen, e eles podem sê-lo também de estabelecimentos independentes, o grau de gerente ou outro, pode e deve aqui ser aplicado.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018


QUALIDADE EM HOTELARIA





A  preocupação  com  a  qualidade  não  é  um fenómeno recente  ou  fruto  de  um  modismo. A qualidade de um produto, é condição fundamental, para que este obtenha a preferência e o apoio do consumidor. Em hotelaria, a qualidade é um factor fundamental.
Não devemos, no entanto, confundir qualidade com sofisticação. A qualidade é necessária, seja qual for o tipo ou a classificação do estabelecimento, mas refere-se ao básico e não ao acessório.
A qualidade aparece na limpeza dos locais e na eficiência dos serviços prestados, na atenção dada aos pormenores e no interesse pelas necessidades do cliente, no correcto funcionamento dos equipamentos colocados à disposição dos hóspedes e, sobretudo, no calor humano que deve existir em todo o tipo de estabelecimentos que prestem serviços.

Nos  tempos distantes  da carruagem, o dono da estalagem à  beira da estrada já se preocupava em ter  a  melhor carne, o  melhor  pão e o melhor  vinho  da  região. Já se preocupava em ter o melhor colchão de penas e os mais macios  travesseiros, com as melhores mudas de cavalos e o melhor atendimento. A sua preocupação nascia do interesse em manter a clientela, mas vinha também do seu amor próprio e do orgulho pessoal, em ser indicado como o melhor estabelecimento das redondezas, não vinha tanto da necessidade de ser competitivo ou de se distanciar da concorrência.

Hoje em dia, as necessidades e as dificuldades são outras.


O QUE MUDOU  ENTÃO?

Mudaram os tempos


O  estalajadeiro  desse  tempo, contava  com  uma  equipa de  pessoal  que  nascia, crescia,  casava-se e  procriava  no  local  de  trabalho; tornavam-se  portanto  quase membros de uma família. Como tal, partilhavam tanto as alegrias como as dificuldades. Isso  resultava  em fidelidade  ao patrão e em empenho  na  qualidade  do  serviço.
Hoje, as questões de qualidade implicam maior distância e devem ser encaradas de forma diferente. Não é tão fácil conseguir e manter travesseiros de penas para 200 camas, ou lençóis de linho com boas carácterísticas para hotéis de 500 quartos. Os métodos actuais, de lavagem e conservação, tão pouco se prestam a este tipo de equipamento.
Há mais dificuldade em conseguir boa carne e boas matérias  primas, devido à grande procura e consumo. Não se pode garantir a fidelidade e a estabilidade do  pessoal,  pois o  mercado é muito competitivo .
O executivo responsável (o director), encontra-se assim pressionado por novas necessidades, resultantes de mudanças na própria sociedade, na economia, na  tecnologia, no mercado e na concorrência.

A cada dia, novas variáveis intervêm no processo.


O mundo modifica-se a uma velocidade nunca antes conhecida e a  sociedade acompanha essas mudanças. A clientela tem cada vez mais noção do que deseja e do que pode exigir pelo seu dinheiro.
Tudo o que aprendemos se torna rapidamente obsoleto. Nunca, como hoje, se tornou tão necessária a reciclagem de conhecimentos.
Para fazer face a  tudo  isto, é inevitável que  o  problema da qualidade se apresente a toda a hora e que a solução tenha de aparecer como algo necessário à sobrevivência e à competitividade do negócio.
Porque a qualidade é um dos pilares onde se apoia toda a estrutura da empresa.

Por que RAZÃO a Qualidade é necessária?


A qualidade é um factor de vendas e deve ser mantida, tal como a campanha de marketing, o controlo de custos  ou  o  inventário de stocks.
A falta de qualidade pode acarretar custos para a empresa; logo, como todos os custos, deve ser  reduzida ao mínimo, assim como controladas as  causas e minimizados os efeitos.
Ao eliminar as falhas que provocam desvios no processo, o responsável  estará  a melhorar o seu  produto, a economizar euros e, consequentemente, a  aumentar o seu  resultado  final.
Quando os responsáveis reconhecem a necessidade de iniciar um trabalho de retoma da qualidade, devem estar conscientes de que estarão a começar um  processo que não poderá ser abandonado.
Um programa de qualidade, não é algo que se possa manter durante algum tempo e depois colocar de lado, enquanto se aguarda nova  oportunidade.
O cesto de frutas, a carta de desculpas ou outros aspectos semelhantes, com vista a minimizar uma situação de erro,  não  podem  ser  aceites  como uma  instituição  permanente, com a qual  já se conta no dia-a-dia. Trata-se de gestos que não podem ser o prémio instituído pela direcção, para recompensar os clientes a quem  no sorteio  da  qualidade saiu um zero. Podem ser usados com carácter esporádico para uma situação de emergência ou até de forma corrente e programada, para demonstrar aos clientes ditos VIP a consideração do hoteleiro, mas apenas com esta finalidade.
A atenção e cuidados do hoteleiro devem incidir no processo de prestação de serviços (ou nos vários  processos), que devem ser analisados e tornados  eficientes e sem falhas, com a qualidade desejada.
Antes de entrar mais fundo, no tema de qualidade, quero avisar ao leitor que, tudo o que vou dizer, vai  parecer evidente e até  óbvio. Tão óbvio, que parecerá ridículo. É exactamente esse  pouco  caso que normalmente fazemos do óbvio, que nos desvia (ou ao  nosso produto) da  qualidade real que ele devia ter e por vezes não tem.
Apesar disso, não vamos estar com rodeios, não usaremos chavões,  terminologias difíceis ou vocabulário técnico para descrever  situações  simples, negligenciadas no dia-a-dia, as quais não deixam, por isso, de ser  preocupantes.
Todo o problema de qualidade reside na gestão. Essa é a chave da  qualidade ou de qualquer outro resultado final, seja ele qual  for.
Não pretendemos dizer que a culpa da falta de qualidade é do director, embora lhe caiba  dinamizar a sua equipa.
Apenas se refere, aqui, o acompanhamento do negócio e da gestão ou  administração da qualidade, de onde partem todas as possibilidades de resultados positivos.
Será da direcção (ou do director), que devem partir as directrizes e os  incentivos  para qualquer mudança.
Nos  próximos parágrafos, iremos analizar como se pode ou como se deve trabalhar para conseguir a qualidade de uma forma permanente num empreendimento hoteleiro.

O que um administrador consciente deve vigiar

para garantir a continuidade do seu negócio ?


- As finanças: porque elas são o alimento (manter as finanças saudáveis é a  primeira preocupação). E as finanças sustentam-se com  as vendas.
- O relacionamento: este é a alma da empresa. É através de um bom relacionamento com fornecedores, clientes e empregados, além dos concor- rentes, que o negócio prospera, que as oportunidades surgem, que o bom nome se impõe no mercado.
- A qualidade do produto: consideraremos que este aspecto é basico e constitui a estrutura em que assenta a sobrevivência de qualquer negócio. Sem ela, as finanças deterioram-se; sem um produto  de qualidade não há  empresa, e não haverá negócio em hotelaria. Devemos pois encarar a qualidade como algo necessário, que é da responsabilidade de todos, num hotel.
Ao referir a qualidade, e a sua gestão, devemos evitar a expressão “controlo de qualidade”. De preferência, deve-se dizer “gestão da qualidade”.
A qualidade é algo que se cria e se mantém. Não se pode pensar em qualidade, apenas verificando e corrigindo erros através de inspecções. Devem-se criar estruturas que permitam que os erros não aconteçam.
A qualidade significa que cada um desempenha as suas tarefas correctamente e de forma uniforme, de cada vez que deva executá-las. A qualidade significa consistência de execução.
Os clientes voltam sempre a um local onde a execução é consistente, (com igual eficiência a todos os momentos, sem altos nem baixos).
Não há quem não deseje ver as suas expectativas preenchidas em qualquer momento, sem surpresas desagradáveis. Quando isto não acontece, e o cliente tem de discutir ou argumentar para ter o que deseja, ele parte para outro lugar, onde obtenha o que pretende com mais objectividade.
A qualidade apresenta-se, assim, como um acordo aos padrões e o padrão aparece, portanto, como o passo básico para a qualidade.

PADRÃO

O que é um Padrão?

Na linha do que muitos defendem, os padrões são níveis de execução desejáveis. Embora não sejam o único meio, são o alicerce do grande edifício da qualidade
Quando se estabelece um padrão, este torna-se uma obrigação e deve ser atingido todas as vezes que a tarefa for executada. Por quem quer que vá executá-la. Todos a usar de igual modo o mesmo critério, o mesmo  padrão. Proceder de modo diferente, é fazer do padrão algo sem efeito ou desnecessário.
Se tivermos como padrão dar aos nossos hóspedes um quarto limpo, arrumado, com determinado tipo de roupas e utensílios, colocados em lugares determinados, com uma apresentação escolhida, é assim que ele deve ser entregue de cada vez que for usado – e o mesmo deverá suceder para todos os outros serviços. Caso contrário, o padrão não servirá para nada.
Os padrões, são níveis de execução estabelecidos.
Por vezes, o cliente é acordado no horário que definiu, outras vezes não. Algumas vezes, a recepção tem anotação das reservas, outras vezes não. O ar condicionado dos quartos funciona, outras vezes não. O resultado de padrões que são cumpridos segundo a vontade de cada um, é que o cliente não retorna. E este resultado prejudica a todos que dependem do hotel para a sua sobrevivência.

CUSTO DO ERRO COMETIDO

(estudo auxiliar)

 

Erro zero  deve  ser  o  objectivo


O objectivo máximo de cada estabelecimento, deve ser: levar as pessoas a fazer as coisas bem, de cada vez que têm de cumprir uma tarefa. Sempre bem! Sempre igual! Para isso, é necessário criar organização, educar as pessoas para a qualidade, dar formação técnica e comportamental, criar incentivos para que as pessoas façam bem, logo à  primeira.
O erro, não é lei obrigatória da natureza - logo, as causas do erro devem ser eliminadas.
Uma boa forma de eliminar os erros, é começar a procurá-los e ter uma noção da sua origem. Não para simplesmente saber onde estão, mas para eliminá-los. Na gíria da qualidade, diz-se que um erro detectado é um erro 50% eliminado.  Se houver força de vontade para isso.
Os erros trazem sempre perdas de dinheiro. Devem portanto ser evitados, se desejarmos gerir um negócio com sucesso.

QUAL O PREÇO DOS ERROS ?


Surpreendentemente, esta questão nunca foi satisfatoriamente esclarecida, apesar de há muitos anos a hotelaria ser uma indústria de ponta.
Não porque os hoteleiros fujam a encontrar uma resposta, mas apenas porque ainda não foi encontrada uma forma convincente de analisar o custo do erro.
A maior parte dos hoteleiros dá como estimativa geral do custo do erro 1,2% do total das receitas.
Para uma pesquisa do Citicorp/Diners, realizada há vários anos, foi solicitado a um certo número de hoteleiros de qualidade, seleccionados para o efeito, de calcular o custo dos 50 erros mais comuns em hotelaria. Alguns desses erros são: desvio de clientes para outro hotel  por erro de reserva; atitude desagradável do pessoal; check-in ou check-out demorados, etc.
O resultado indicou que o custo total desses 50 erros pode chegar a mais de 5% das receitas.
Se considerarmos a grande complexidade da indústria hoteleira e o facto de que numa só unidade analisada foram detectados 379 erros, começamos a verificar que, num estabelecimento sem padrões, ou sem compromisso assumido no respeito pelos padrões, o custo dos erros pode facilmente, chegar, a 10% da receita total..
Na indústria da manufactura, o custo dos erros está estimado entre 20 e 25%. Assim, uma estimativa de l0% para a industria hoteleira, parece-nos conservadora.
Isso sem ter em conta o aumento de vendas que se poderá esperar, numa operação sem erros (ou com baixo índice de erros).
O custo do erro é, com efeito, o custo da oportunidade

COMO CALCULAR O CUSTO DO ERRO?


Fazendo dez perguntas em ordem sequencial, é possível, a qualquer pessoa calcular o custo de um erro.
As perguntas deverão ser as seguintes:

-  Qual é o erro?
-  Quais as consequências desse erro?
-  Com que frequência, cada consequência pode acontecer?
-  Qual seria o prejuízo, caso tal consequência, se verificasse?
-  Qual o custo esperado de cada ocorrência?
-  Qual é o custo específico do erro?
-  Quantas vezes por ano, pode acontecer o erro?
-  Em que percentagem é que o erro efectivamente ocorre?
-  Quantas vezes por ano o erro efectivamente ocorre?
-  Qual é o custo total do erro?

O processo de determinar o custo do erro ajuda todos os envolvidos e interessados, a identificar o amplo espectro de consequências que os erros produzem. Ajuda também os empregados a visualizarem o custo do erro individualmente, a imensidade e o custo no volume do negócio, bem como o total de erros possíveis por ano.
No momento em que, com as contas todas feitas, se obtém um custo final dos erros, o processo em si já atingiu o principal objectivo: a consciencialização, e este é o passo principal para desenvolver uma atitude válida, no longo caminho a percorrer na busca da qualidade total.
A partir do momento em que qualidade se define como concordância de padrões e que os erros ocorrem em função de falta de padrões ou de  padrões que existem, mas não são seguidos, torna-se mais simples explicar ao pessoal que a principal definição de falta de qualidade é erro por padrões não atingidos. Torna-se ainda mais simples explicar que se deve levar em linha de conta a capacidade que o cliente tem de avaliar por si próprio. E não há melhor maneira de chegar ao cliente, do que conseguir influenciar os que estão em contacto com ele, para conseguir resultados na interpretação e satisfação das suas necessidades e expectativas.
Tendo analisado o custo do erro, podemos ir um pouco mais longe e analisar também as expectativas dos clientes.

EXPECTATIVA DOS CLIENTES


Antes de proceder a uma análise mais pormenorizada, convém deixar claro que a expectativa dos clientes pode ter sido criada pelo próprio estabelecimento, através da sua publicidade ou da sua classificação.
O responsável e o seu pessoal têm pois a obrigação de cumprir aquilo que ficou implícito nos dois aspectos  que  apontámos.
Como ajuda inicial, apresentamos uma listagem de erros frequentes em qualquer hotel:

-  anotação insuficiente ou defeituosa das mensagens,
-  aposento não devidamente arrumado,
-  apresentar ao hóspede um quarto de tipo diferente do que este pede na reserva,
-  bagagem e cliente no mesmo elevador,
-  barulhos, obras e outros acontecimentos estranhos, sem que se tenha dado qualquer satisfação ao cliente,
-  chaveiro mal apresentado,
-  circulação de funcionários na área de clientes sem nela terem serviço,
-  cliente vip, com atendimento normal,
-  contas com erros ou mal apresentadas,
-  dar o número do quarto a desconhecidos,
-  dar quartos não permitidos pela governança (não limpos),
-  deixar um hóspede sem atendimento, enquanto se atende um outro,
-  demora do check-in,
-  displicência na atitude,
-  entregar a chave sem conhecer ou identificar o cliente,
-  equipamentos não verificados,
- excesso de interesse (pode ser tão mau, como a falta, pois soa falso e incomoda),
-  falar alto, ou trocar informações à distancia, gritar (ou elevar a voz),
-  falta de trintanário na portaria, em hotéis onde o cargo existe,
-  falta de conhecimento do processo do cliente,
-  falta de entrega do key-card (cartão de chave),
-  falta de espontaneidade ou excesso de formalidade,
-  falta de informações sobre cofres ou cartões do crédito,
-  falta de informativos na recepção e elevadores,
-  falta de material do apoio (caneta, desdobráveis do hotel, outros),
-  falta de medicamentos de uso imediato,
-  falta de programação, em caso de grupo,
-  falta de reserva que tenha sido confirmada,
-  falta do quarto pronto à chegada,
-  falta do serviço de despertar solicitado,
-  frieza ou distanciamento no atendimento,
-  funcionários a sorrir nas costas do cliente,
-  informar estranhos do nome do hóspede (ou dizer que ele está hospedado sem o consultar),
-  lâmpadas queimadas,
-  limpeza geral pouco cuidada,
-  má apresentação do uniforme.
-  mandarete ou bagageiro com mau odor,
-  mandarete de costas no e1evador,
-  mandarete à espera, a insistir para obter gorjeta,
-  mandarete que leva o cliente para andar diferente,
-  mandarete que não apresenta o quarto e o hotel ao cliente,
-  mandaretes e recepção não coordenados,
-  manuseio inadequado da bagagem,
-  demonstração de mau humor na recepção,
-  muito tempo de espera no check-in ou check-out ou pela bagagem,
-  não cumprimentar os hóspedes,
-  não dar informação aos clientes,
-  não encontrar a reserva,
-  não entregar recados ou mensagens existentes, à chegada,
-  não sorrir ao atender,
-  não dar acompanhamento ao cliente, em caso de overbooking,
-  odor desagradável no quarto,
-  pouca atenção a senhoras sós,
-  recepcionistas a discutir ou a falar alto na recepção,
-  som ambiente desregulado,
-  transferência do problema, quando o cliente pede ajuda ou informações,
-  troca de bagagens,
-  troca de chaves,

De todos os erros que apontamos como comuns em hotelaria, os mais citados em todas as pesquisas são os dez que a seguir apresentamos:

Atitude Negativa Do Pessoal – 22%
Por atitude negativa, não devemos apenas entender falta de simpatia, mas também: 
-  pouca atenção,
-  falta de solidariedade para com os problemas do cliente,
-  displicência no atendimento,
-  negligência com o serviço ou pertences do hóspede,
-  falta de informação ou desejo de ajudar,
-  excesso de formalismo,
-  excesso de intimidade (sobretudo com senhoras),
-  insistência na burocracia,
-  impertinência.

Quarto não disponível – 14%
Quartos muito desgastados – Manutenção pouco cuidada – 13%
Registo de reserva inexistente – 10%
Check-In / Check-Out – 9%
Chamada para acordar – Inexistente, cedo ou tarde – 7%
Quarto mal limpo – 7%
Troca do tipo de quarto – 6%
Barulhos incomodativos – 6%
Falta de limpeza em geral – 6%

Verificamos que a atitude inadequada do pessoal é o erro que mais impressiona o cliente. Por outro lado, numa pesquisa feita entre directores de hotel, sobre qual o maior obstáculo encontrado para conseguir qualidade, 70% indicaram de uma forma ou outra o empregado. Quase todos apontaram uma atitude deficiente, a falta de motivação ou falta de desejo de conseguir melhor.

O SENTIMENTO NEGATIVO NÃO PODE VENCER


Quando se aponta o dedo ao empregado e se diz, não nos segue, a possibilidade de que a direcção não esteja a liderar, também pode e deve ser considerada.
Neste caso, é ainda importante perguntar se, quando chega a altura de ministrar a formação, não se estará a dar uma atenção exagerada ao desenvolvimento da capacidade humana, em detrimento de um equilíbrio entre esta e o conhecimento pelos empregados da verdadeira natureza da hospitalidade e dos reais desejos e expectativas dos clientes.
Se for este o caso, todos os processos de formação devem ser revistos e o cliente deverá ser levado em linha de conta e incluído como a primeira matéria a estudar, a analisar e a desenvolver.
A hotelaria tem de olhar mais de perto, tanto o produto como a filosofia usada para geri-lo.
Muitas outras perguntas podem e devem ainda ser feitas, e muitas respostas obtidas deverão ser devidamente avaliadas.
Eliminar erros é um dos princípios da qualidade. Mas por outro lado, a  qualidade  também não é  algo que se possa  produzir e guardar, para  usar quando  for  necessário. É  um processo que deve merecer sempre as atenções de todos e deve ficar claro que um erro eliminado é um erro que não se deve repetir. Se  não for assim, a qualidade se perderá e com ela todo o  trabalho que  já tiver  sido  desenvolvido. O  bom serviço converter-se-à em mau serviço, e um bom hotel  tornar-se-á  em um mau hotel.
Houve boas empresas que se tornaram más empresas apenas porque não cuidaram do seu  produto. 
É perigoso empolgar-se com resultados positivos que eventualmente  apareçam quando o produto apresenta boa qualidade e tem a preferência do cliente. Pensar: “Está bom, está a dar resultado, não é preciso fazer mais nada”, constitui um grande engano e representa uma atitude que não é de maneira nenhuma aconselhável.
Quando o hotel está completo e tem a preferência da clientela, é que se deve ter cuidado com a qualidade, para acautelar essa preferência dos clientes, garantindo ao hóspede que a sua escolha merece o nosso respeito.

COMO CONSEGUIR A QUALIDADE


A decisão de agir em qualidade deve ser encarada como a do paciente a quem o médico indica o uso de um marcapasso. Depois  de  implantado é para toda a vida! Se for tirado o paciente morre.
Iniciar  um  processo de qualidade, implica comprometer-se com o seu andamento e com a sua continuidade.
Há que fazer todos os esforços  necessários para mantê-lo vivo.

Qualidade é para  ser levada a sério


Não está generalizada porque as pessoas não entendem a sua essência.
Ao gerir a qualidade, o maior problema não é o que as  pessoas não sabem, mas o que as pessoas pensam que  sabem.
Anos e anos de trabalho, criam pressupostos convencionais sobre qualidade que uma  carreira  bem sucedida apoia, mas que se chocam na maior parte das vezes com a realidade.
  aceita  estar  errado, quem  se   encontra  em  apuros.
Na maior parte das vezes, os responsáveis só começam a pensar em qualidade quando perdem o apoio da clientela.
   

A qualidade  é erradamente tida, como o valor relativo das coisas.
E diz-se que a qualidade é a obediência aos padrões, o que pode ser aceitável. Mas qualidade é também, conformidade com os requisitos. É estar de acordo com as expectativas do hóspede. A qualidade é trabalho e preocupação com o que vamos oferecer aos nossos clientes. É formação, disciplina e supervisão.
Outro pressuposto erróneo, é o de que qualidade não pode ser medida.
Mas pode ! O custo  da falta  de qualidade é o  custo do  erro.
É também comum pensar-se que  todos  os problemas de qualidade têm origem  na mão de obra ou que são culpa do pessoal. Mas  o  pessoal  na  maior  parte das  vezes, trabalha  às  cegas. Ele não  é  responsável  pelas políticas  nem pelos processos ou organização; não é consultado para as decisões, não faz as ordens de serviço nem as  escalas; não tem poder  de decisão sobre a formação ou a falta dela. Torna-se difícil culpá-lo nestas condições.
É importante gerir a qualidade quando as coisas ainda estão fáceis e não deixar para quando ficam difíceis. Se é que  alguma vez estiveram  fáceis. Ao recorrer à qualidade como recurso para melhorar o produto, não se deve pensar que se está perante a panacéia que resolve todos os problemas. Ela deve ser encarada apenas como uma ferramenta, a utilizar como todas as outras ao dispor dos directores, neste caso para conseguir a excelência do serviço.
O plano ou programa de qualidade, porém, não é apenas mais uma actividade a ser aplicada. Deve ser encarado e preparado como um conjunto de acções convergentes com as quais se pretende alcançar qualidade final.
A responsabilidade de condução de um plano de qualidade cabe às direcções, com os seus chefes e supervisores.
Um departamento de qualidade, se for julgado necessário, poderá fornecer  as ferramentas, fará  as  análises,  dará as sugestões  e apreciará os  resultados. Mas a decisão final e a dinamização do programa é sempre, e só, das direcções, com o apoio da administração.
A elas cabe conduzir o processo, pois são elas que detêm a  posição dentro da  hierarquia e a autoridade .
É um  trabalho  demorado, para o qual todos devem estar  preparados.
Num primeiro momento, pouco acontecerá. Não haverá credibilidade.
As pessoas pensarão tratar-se de mais  uma experiência que logo será abandonada. Nesse momento, o problema imediato será fazer tudo para que as pessoas acreditem que é  isso que  queremos e que é isso que vai ser.
Há que definir claramente o que queremos, ou seja, estabelecer  uma  política  de qualidade e  um  plano  para atingi-la.


Para que um produto tenha um valor real de mercado, deve ter carácterísticas que correspondam à sua classificação e ao seu preço de venda. As carácterísticas desse produto podem variar, mas nunca poderão ser inferiores aos padrões para ele estabelecidos, sob risco de aquele estar abaixo da qualidade prevista. Em hotelaria, o produto deve também estar dentro das expectativas do cliente.
Os padrões ou especificações dos vários produtos, são normalmente estabelecidos pelos seguintes organismos:

-  órgãos governamentais - para defesa do consumidor,
-  associações comerciais - para defesa do mercado de consumo,
-  os próprios estabelecimentos - para defesa da sua reputação e do seu negócio.

Para que um produto preencha os requisitos de qualidade exigidos,  deve estar dentro dos valores cobrados.
Muitos profissionais que trabalham em hotéis não chegam nunca a dar-se conta, daquilo que realmente se está a vender ao alugar um quarto. Sabem que no restaurante se serve comida; no bar, bebidas, e que na rouparia se faz o tratamento de roupas. Mas, nos quartos?
A principal razão de existência de um hotel é proporcionar descanso (repouso e tranquilidade) às pessoas que por razões várias (turismo, negócios, assuntos de família, ou outras), se encontram longe da sua residência habitual.
Se o hóspede não encontra isso no hotel (porque o recepcionista foi agressivo ou pouco atencioso, deixando-o nervoso e tirando-lhe a capacidade de dormir tranquilamente, ou porque o pessoal em serviço nos andares não respeita o silêncio que deve existir nestes locais, por falar alto, gritar ou usar equipamentos barulhentos em horários impróprios) pensará que desperdiçou o seu dinheiro, pois não houve retorno equivalente ao que despendeu em hospedagem.
É pois factor importante, a consciencialização de que o aluguer de um quarto tem como finalidade principal proporcionar ao cliente repouso e meios de cuidar da sua higiene pessoal. Sendo o ponto de maiores receitas do hotel e a razão principal do negócio, devemos aceitar que é  grande a responsabilidade do pessoal que ali presta serviços, e que a sua formação para a qualidade é importante.
A reputação de um hotel está tão ligada ao serviço de quartos, como à categoria das suas instalações.
Deve haver preocupação com os pormenores. A preferência dos clientes não deve apenas ser conquistada, deve ser mantida.
É neste departamento que a permanência do hóspede é mais constante e mais íntima, o que implica um excepcional conjunto de medidas, tendentes a garantir o seu bem-estar e a sua completa satisfação.
Na intimidade do seu aposento, o cliente deve sentir-se à vontade, sem receio de indiscrições ou de mexericos. O seu descanso não deve ser perturbado, e o serviço deve ser feito silenciosamente, e as ordens ou comunicações passadas em voz baixa, sem precipitações ou correrias.
Cada funcionário deve ordenar o seu trabalho e, cada supervisor deve organizar esse mesmo trabalho, tendo em conta que em hotelaria não se aceita improvisação.

DELEGAÇÃO E QUALIDADE DE SERVIÇOS

Algumas considerações sobre este tema
1"Delego auctorite myne" (Conde Palatino 1530)

Sempre que se busca Qualidade ou se analisa a falta desta em hotelaria, deve-se fazer uma análise profunda de como está sendo feita a delegação no estabelecimento, pois na maior parte das vezes todo o problema nasce ali.
A delegação é uma realidade de gestão que todos utilizam em hotelaria, mas sobre a qual poucos entendem ou sobre a qual poucos se debruçam.
É talvez, também, a indústria onde a delegação é mais utilizada e aquela onde esta é mais negligenciada. Quando se verificam sinais de baixa qualidade de serviço, ou existem erros acima do aceitável, um dos primeiros pontos a analisar deve ser – como está sendo feita a delegação no nosso estabelecimento?
Devido ao facto de ser uma indústria de serviços, com funcionamento ininterrupto que não permite aos responsáveis uma presença constante, a delegação é inevitável, sem que estes se apercebam da existência desta como tal, e façam a delegação como uma acção normal, inerente ao tipo de empreendimento.
Mas, se quisermos nos compenetrar um pouco mais da pertinencia e da importancia deste assunto, em relação aos resultados de gestão, verificaremos que:
Delegação é a atribuição de autoridade e responsabilidade para outra pessoa (normalmente a partir de um gerente para um subordinado) para realizar actividades específicas. No entanto, a pessoa que delegou o trabalho continua a ser responsável pelo resultado do trabalho de delegados[1]. A delegação confere, a um subordinado, liberdade para tomar decisões, o que significa uma mudança do poder de decisão de um nível da organização para outro inferior. Delegação, se feita correctamente, não é abdicação. A má delegação, por outro lado, pode causar frustração e confusão para todas as partes envolvidas, com situações desgastantes e por vezes prejudiciais ao negócio.
Se perguntarmos a qualquer empregado de hotel quem é o responsável pela preparação dos bifes e cozinhados, teremos como resposta que é o cozinheiro. Do mesmo modo, seremos informados que o responsável pela boa apresentação dos quartos é a governante ou a empregada de quartos, enquanto que para abrir a porta de um táxi que chega ao hotel, será indicada a responsabilidade do trintanário ou do mandarete.
Mas em boa verdade, o responsável por todos estes serviços é o director do hotel. Foi a ele que os proprietários ou os accionistas entregaram o empreendimento, e foi com ele que discutiram e acertaram a classe e a qualidade dos serviços, bem como a forma de conduzir estes e atender a clientela.
Baseado na indiscutível impossibilidade de estar presente em todos os locais e em todos os momentos, o director necessita lançar mão de quem o substitua, nos distintos locais e nas diversas horas do ciclo normal dos serviços.
Para isso escolhe os directores sectoriais ou os chefes de serviços, aos quais delega a sua responsabilidade nas diversas áreas, para que tudo aí decorra como acertado e desejado. Feita esta primeira delegação e pelas mesmas razões que a motivaram, os escolhidos para esses cargos gerenciais fazem a selecção daqueles em quem farão, por sua vez, a delegação de responsabilidades. E o ciclo das delegações vai tomando o seu curso, até atingir o rodapé da pirâmide. Mas tomando como base o que lemos atrás, todo este processo de delegação não retirou aos vários cargos a responsabilidade do seu iniciador, neste caso o director do hotel. Baseados nesta premissa, podemos e devemos aceitar que a pessoa que nos recebe ou abre a porta do nosso táxi, é o representante formal e inequívoco do director, e como tal o serviço e as atenções que nos presta devem ser idênticas às que receberíamos se este ali estivesse naquele momento. Começa aqui a verificar-se, o pouco cuidado com que é tratado na maior parte dos nossos estabelecimentos, o assunto da delegação, porque a maior parte dos directores, dos gerentes e até dos supervisores ou chefes de secção, não tem sobre esta uma idéia formada, nem lhe dão a atenção devida. Todo o pessoal deve saber que, no desempenho das suas funções, cada um deles representa o director e é um símbolo do hotel. E todo o pessoal deve ser treinado dentro de critérios que lhes permitam avaliar a importância dessa delegação e cumprir o que dela se espera.
Uma perfeita delegação reforça um estilo de gestão que permite à equipa usar e desenvolver as suas habilidades e conhecimentos até ao pleno potencial. Com uma delegação defeituosa, perde-se o valor que o próprio empregado poderia ter para a reputação do hotel e para a sua dignidade profissional.
Como a antiga citação inicial sugere, delegação é confiar a outros a sua responsabilidade, com a inerente autoridade, até aos limites julgados necessários. Isso significa também que eles podem agir de forma independente, dentro dos padrões estabelecidos e que partilham a responsabilidade inerente às determinadas tarefas. Se algo der errado, o director será o responsável, uma vez que a delegação parte sempre dele. Sendo assim, é fundamental delegar de maneira que as tarefas sejam executadas da forma correcta, e para isso é importante um bom treinamento e uma perfeita conscientização dos responsáveis, antes de iniciarem o serviço.

 versus atribuição de tarefas

Delegação de tarefas, ao invés de atribuição de tarefas, é uma das facetas da inovação e passa pela qualidade dos serviços. Cada tarefa deve ter um padrão aprovado pelo director, o qual verifica se o modelo apresentado inclui tudo o que ele deseja seja implementado naquela tarefa. A partir daí, começará o treinamento do empregado, e aquele padrão pode no futuro ser modificado, desenvolvido ou actualizado, conforme o necessário ou desejável, com o consequente treinamento do responsável no novo formato.


Uma vez que a delegação inclui alguma entrega de autoridade, não se poderá ditar a todo o momento o que é delegado, nem a forma como a delegação está a ser gerida. Para controlar a delegação é preciso estabelecer no início, a tarefa em si, a extensão da autoridade que esta inclui, o cronograma e as fontes de informação futura, a sua disponibilidade, e os critérios de sucesso. Esses pontos podem ser negociados com os funcionários no momento da admissão ou da promoção, e serem objecto de um acordo escrito que garanta o comprometimento do “delegado” em garantir um procedimento aceitável.

Para habilitar outras pessoas a fazer um trabalho que é da sua responsabilidade, é necessário garantir antecipadamente que:

·           Elas sabem o que você quer.
·           Elas têm a autoridade e a responsabilidade necessárias para executá-lo.
·           Elas foram bem treinadas e sabem como fazê-lo.

Todos estes aspectos dependem de uma descrição clara da natureza da tarefa, da extensão do seu poder discricionário, e das fontes de informação e conhecimento relevantes.
Devemos também considerar que os serviços, se executados pelo director, serão sem dúvida de alta qualidade, mas as tarefas por ele delegadas, não têm que ser executadas tal como ele poderia fazer, basta que atinjam a qualidade julgada necessária e que o candidato seja preparado até alcançar a sua melhor aptidão para o efeito. Ele deve saber que os critérios e as normas pelas quais o resultado será julgado, são os do padrão pelo qual ele recebeu o treinamento. E ele mesmo deve anunciar quando sentir que está preparado, assinando um documento em que se considera pronto e se compromete a cumprir todos os pontos para os quais recebeu formação.

Conclusão


A delegação é uma forma de gestão à qual não se pode fugir na indústria hoteleira. O resultado dela depende de como esta for encarada, e da forma como forem preparados os empregados indicados para assumir as responsabilidades delegadas.
Se tiver pretensão de dirigir um empreendimento com qualidade, o director deve seguir à risca as regras sobre delegação, pois este processo é crucial para um resultado final positivo. Deve certificar-se de que todos os seus supervisores estão aplicando os mesmos princípios, em cascata e ao longo de toda a organização. Isto significa que, se estiver conduzindo uma grande organização, deve verificar se os processos de gestão, comunicação e desenvolvimento de pessoas, estão certos e funcionando correctamente em todos os patamares da pirâmide, com a aplicação dos padrões por ele autorizados.

As decisões são uma competência inerente à direcção, mas estas também podem ser delegadas se elas forem importantes para a equipa – aos chefes e supervisores, como parte integrante do cargo e até ao limite necessário para o desempenho deste, e  no caso da formação de jovens executivos, para que eles possam ir testando as suas capacidades. Na prática desta última delegação, deverão ser estabelecidos inicialmente os limites para as decisões, até que se possa avaliar o resultado, mas com o tempo, o escopo delas pode ir aumentando, conforme for sendo ampliada a capacidade e a confiança dos seus executantes.







[1] Usamos a palavra delegados, uma vez que estamos falando de delegação. Esperamos que os nossos leitores se apercebam de que, neste caso, delegados significa o mesmo que empregados designados para o cargo.


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