domingo, 3 de dezembro de 2023

Visão Gerencial Evolutiva


A Gestão Participativa

Aprendemos Todos os Dias, Com Todos à Nossa Volta

 

A gestão hoteleira não é apenas uma carreira; é uma paixão que requer um delicado equilíbrio entre criatividade e precisão. É a arte de fazer alguém se sentir em casa, mesmo estando longe dela. É a ciência de compreender as preferências dos hóspedes e antecipar as suas necessidades antes mesmo de ser questionado. E é a magia de transformar momentos comuns em memórias inesquecíveis. Diremos que isso também inclui, ter empregados felizes, produtivos e diligentes.

Para definir adequadamente, o conteúdo do parágrafo anterior, diremos que a gestão hoteleira refere-se à arte e ciência de gerir e operar atividades, incluindo hotéis, restaurantes, resorts, locais de eventos e outros negócios relacionados, tornando-os lugares de satisfação para clientes e empregados, e não apenas de uso por necessidade dos utentes, ou de quem precisa de trabalhar para subsistir. Envolve supervisionar vários aspectos desses estabelecimentos, como atendimento ao hóspede, operações, marketing, finanças, recursos humanos e muito mais, com o objetivo final de proporcionar experiências excepcionais aos clientes e maximizar a lucratividade.

Para concretizar uma gestão satisfatória de todas essas atividades, foram criadas imensas matérias, e a maior parte dos hoteleiros acredita agora, que a Gestão só pode melhorar através da capacidade individual dos indivíduos selecionados, ou pela sua eficácia profissional.

Mas quem gerencia deve estar consciente, que os principais benefícios vêm também da experiência dos profissionais ao serviço da empresa, e através da redução no esgotamento físico destes, bem como da boa condução de custos, e do aumento das receitas e da produtividade.

Os gestores de todos os setores, têm uma riqueza de insights[i] ao seu alcance, se reservarem um tempo para analisar o feedback[ii] dos funcionários que pode chegar até si, tais como avaliações de desempenho e opiniões, além das dos clientes sobre o Serviço. A coleta, análise e esclarecimento dessas informações, pode-lhes proporcionar, maneiras de alcançar resultados importantes para os funcionários e para os negócios. Nos meus tempos de gestão já era comum dizer-se, que o gerente conhecia 40% dos problemas do hotel, mas os empregados conheciam 100% deles.

“A grande verdade é que a maioria das organizações na hotelaria, ainda não entenderam o que podem fazer com a experiência dos funcionários”, para além do âmbito dos serviços que estes executam”. “Muitos ainda estão nadando e prestes a soçobrar, conversando com seus funcionários apenas algumas vezes por ano com pesquisas de engajamento, e perdem a oportunidade de descobrir oportunidades para melhorar continuamente o desempenho, o envolvimento e a satisfação dos seus colaboradores, o que os conduziria mais facilmente à satisfação da clientela.”

 Mas esse não precisa ser o seu caso. Analise quais os benefícios que pode obter da experiência do funcionário, e o que as “marcas” podem esperar desfrutar ao se envolverem em esforços de escuta dos seus colaboradores, que vão além do feedback destes em tempo real, para identificar os erros e dificuldades por eles detectados no seu dia a dia, e descobrindo as maneiras mais eficazes de abordá-los. Isso pode ser conseguido incentivando a participação do pessoal e a criação de cadernos para recolha de opiniões, onde estejam esclarecidos:

Os pontos que não podem ser modificados e,

Os pontos para os quais serão aceites sugestões dos profissionais, para análise da Gerência.

 1. Reduza o esgotamento e a rotatividade de seus profissionais

A retenção de funcionários na hotelaria é um verdadeiro desafio, que só foi exacerbado pelas convulsões no setor como resultado da pandemia, de acordo com um estudo recente conduzido com trabalhadores de hotelaria nos Estados Unidos e na Europa:

Quase 59% dos trabalhadores do setor hoteleiro dos EUA dizem que trabalham com menos funcionários do que antes da pandemia e 48% dos trabalhadores do setor hoteleiro dizem que a forma como a sua organização lida com o aumento das viagens tem sido “apenas 0”. Mas 38% dos trabalhadores da hotelaria em todo o mundo consideram abandonar – ou já têm planos de abandonar – a indústria nos próximos tempos.

Dito isto, concentrar-se na experiência dos funcionários, e ouvi-los para reunir as suas principais percepções, de como implementar mudanças nas políticas e práticas diárias da empresa, pode ajudar as organizações de hotelaria que enfrentam dificuldades com a rotatividade.

Segundo o autor Jacob Morgan no livro “The Employee Experience Advantage”: Os líderes que usam a experiência do funcionário para estudar melhorias, têm 40% menos rotatividade em comparação com seus concorrentes.

2. Promova economia de custos e receitas

As “marcas” que não conseguem conter a onda de rotatividade de funcionários no setor hoteleiro, enfrentam custos significativos relacionados ao recrutamento e à integração de substitutos para os funcionários que saem. De acordo com a Gallup, isso representa US$ 1 trilhão para empresas nos EUA e: a despesa com substituição de funcionários que deixam voluntariamente a sua organização, chega de 1,5 a 2x o salário anual dos funcionários.

Além de economizar dinheiro, as marcas que impulsionam o envolvimento dos funcionários, melhorando a sua funcionalidade com a experiência destes, também podem ganhar mais dinheiro. As empresas que são líderes em ouvir e utilizar a experiência dos funcionários para fazer mudanças internas de otimização, têm 12 vezes mais probabilidade do que as retardatárias de um crescimento na receita anual de mais de 20%.

3. Maximize o desempenho dos funcionários

De acordo com um estudo sobre a compreensão da razão pela qual os colaboradores abandonam os seus empregos em hotelaria, mais de metade dos trabalhadores assalariados (56%) e horistas (64%) afirmam que a sua empresa pede a sua opinião, uma vez por ano, ou nem sequer pede feedback.

Isso é uma desvantagem para estas organizações, pois garantir que os funcionários colaborem com as suas opiniões e o feedback, é uma forma incrivelmente poderosa de incentivar a inovação e o envolvimento dos trabalhadores.

De acordo com a Experiência, os funcionários que sentem que a sua voz é ouvida, para melhorias na área de Serviços, têm quase cinco vezes mais probabilidade de se sentirem capacitados para realizar melhor o seu trabalho.

4. Faça com que o seu empreendimento seja visto como um ótimo lugar para trabalhar

Não só as marcas de hotelaria falham na recolha de feedback dos funcionários, como menos de um quarto (21%) dessas empresas tomam medidas com base nesse feedback, e isso é algo que pode impactar a sua reputação como empregadores.

Apenas 28% dos trabalhadores da linha de frente cujas empresas NÃO pedem feedback recomendariam a empresa como um ótimo lugar para trabalhar.

Apenas 25% dos trabalhadores da linha de frente cujas empresas pedem feedback, mas NÃO agem com base no feedback, recomendariam a empresa como um bom lugar para trabalhar.

80% dos trabalhadores cujas empresas pedem feedback dos funcionários e depois agem de acordo com esse feedback recomendam a empresa como um ótimo lugar para trabalhar.

“Estas são estatísticas surpreendentes que ilustram o quão crítico é não coletar feedback, ou agir de acordo com ele”, afirma Lorena Kurtjian Hernandez, Diretora Sênior, Diretora de Soluções, Viagens, Hospitalidade e Restaurantes.

 “Os líderes em utilizar a experiência dos funcionários fazem mais do que coletar dados e aplicá-los, eles estão ganhando dinheiro extra, e mais clientes, pela satisfação destes.

 


Esta atitude é válida em qualquer país do Mundo, mas no meu entender, é altamente valiosa no Brasil.

Quando aqui cheguei em 1976, coloquei em prática a minha frase de “Aprendizado permanente”, e obtive resultados surpreendentes, ao verificar que o brasileiro tem um caráter altamente participativo, o que me ajudou a alterar os métodos gerenciais que trazia da Europa, onde normalmente, os profissionais recebem uma linha de trabalho, a qual seguem na execução das suas responsabilidades. No Brasil, aconselho que seja feito um bom treinamento e sejam dadas duas linhas, com algum espaço para movimentação do empregado e aplicação de algo pessoal, dentro do que for aceitável. O espaço entre essas duas linhas, pode ser alargado ou estreitado, de acordo com os resultados apresentados, permitindo que o empregado trabalhe feliz pela sua participação na qualidade do resultado obtido.

Colocámos um quadro na Portaria de Serviço, para receber sugestões dos empregados sobre o seu próprio serviço e discutíamos com eles as sugestões apresentadas. As que podiam ser aceites, eram acrescentadas aos Padrões e postas em prática. Para as que não podiam por falta de oportunidade ou custo, eram explicadas as razões e agradecida a colaboração, aguardando-se outra oportunidade para nova análise. Criou-se um ambiente participativo, de que as sugestões de alteração não vinham do 1º Andar, mas partiam dos empregados, o que levou o pessoal a ficar feliz com a sua inclusão nisso. As inspeções mensais de Qualidade, eram feitas por uma equipe composta por 1 representante de cada Setor e um supervisor de Serviços, os quais eram selecionados entre as equipes e mudavam periodicamente. Os resultados da Inspeção eram tornados públicos no Quadro da Portaria de Serviço, e feitas se possível, as correções solicitadas, depois de analisadas e corrigidas, se necessário, de acordo com os interesses do Serviço, da Empresa e das leis em vigor.

Como tínhamos 7 hotéis, na entrada de um novo Gerente para qualquer deles, estava incluído nas normas, que ele ficaria dois meses comigo para absorver os  métodos da Empresa e eu já contava que, ao fim de 15 dias, ele se me dirigia pávido, “Mas este pessoal trabalha ‘apavorado’, ‘Isto não se faz porque o Gerente não quer’, ‘Isso não se faz porque o Gerente não deixa’, ‘Isso só se faz com aprovação do Gerente’! o que me levava a uma Sessão de apaziguamento, explicando: “Essa é a grande atitude do pessoal que qualquer Gerente pode desejar! Eles cumprem com satisfação o que lhes foi pedido, mas poderiam dizer “O fdp...quer assim, mas nós vamos fazer ao contrário!’ e eu teria que aguentar ou demiti-los, com todos os custos inerentes”.

“Mas com essa atitude estou feliz...e eles também!”

In hoc Signo Vinces!



[i] Insight na Psicologia

1. Clareza súbita na mente, no intelecto de um indivíduo; iluminação, estalo, luz.

2. Compreensão ou solução de um problema pela súbita captação mental dos elementos e relações adequados.

 

PSICOLOGIA

Insight é um conceito muito relevante na Psicologia da Gestão. Indica a apreensão da verdadeira natureza de uma coisa, através de uma compreensão intuitiva.

Também remete para uma visão mental ou discernimento que capacita ver situações ou verdades que estão escondidas. Muitas vezes é essencial para resolver problemas de relacionamentos, sendo que na psicoterapia um insight permite reconhecer as causas de dificuldades emocionais.

O insight também entra no campo da introspecção e autoconhecimento, pressupondo um conhecimento daquilo que motiva o comportamento, pensamento ou ação do indivíduo.

[ii]O conceito de feedback é definido como a comunicação feita entre duas ou mais pessoas, na qual uma delas é avaliada pelos demais com relação às suas ações, comportamentos e tarefas, entre outros. Em outras palavras, significa “dar um retorno” às pessoas para orientá-las sobre sua performance e como esta pode melhorá-la.


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