quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Orgulho

 

Uma Barreira Que Nos Limita

O orgulho é uma concepção complexa, às vezes conceituada positivamente (como uma reação emocional esperançosa a um sucesso pessoal) e muitas outras vezes veiculada negativamente (como exibição de sentimentos, opiniões e conceitos arrogantes ou vaidosos). Com base nesta dicotomia, Tracy e Robins (2007) citaram que o orgulho se apresenta em duas facetas: orgulho autêntico (AP) e orgulho arrogante (HP) e por mais de uma década, estes pesquisadores usaram esse modelo de duas facetas para investigar semelhanças e diferenças desta dicotomia, apresentando resultados de saúde mental, elevação de status social e tendências de atribuição, mostrando que AP e HP são construtos que muitas vezes se alinham de maneiras opostas com a personalidade e variáveis relacionadas, com AP exibindo associações que sugerem melhor saúde psicológica do que HP.

 

O orgulho é uma emoção autoconsciente relacionada ao status, e o estudo teve como objetivo investigar a natureza
do status por trás do orgulho em quatro estudos usando o modelo original, mas diferenciando status social subjetivo (SSS) e status social objetivo (OSS). Todos os estudos deram evidências do SSS, estratégia de manutenção do status de prestígio, como padrão de relacionamento de orgulho autêntico. Resultados igualmente consistentes foram encontrados em relação à estratégia de manutenção do status de dominância → ligação ao orgulho arrogante. Com base nestes resultados, uma coisa pode ser tomada como certa: o orgulho é uma emoção subjetiva relacionada com o status.

É visto tanto como uma emoção autoconsciente quanto como uma emoção social. Estas categorias não são mutuamente exclusivas, mas trouxeram ideias diferentes sobre o orgulho como algo que gira em torno do eu[i],ou do relacionamento de alguém com os outros. As medidas atuais de orgulho não incluem elementos intrapessoais, mas as comparações sociais, que normalmente causam experiências de orgulho, contêm três elementos: o eu, a relação entre o eu e outra pessoa e a outra pessoa. Os dados revelaram consistentemente que a exibição do orgulho é caracterizada pela supervalorização pessoal, e não pelo distanciamento nem pela desvalorização do outro. O indivíduo usa o orgulho para se supervalorizar, buscando aparecer superior a terceiros que não lhe reconhecem a superioridade.

 

Palavras-chave: Orgulho; orgulho autêntico; experiência emocional; fenomenologia; supervalorização pessoal; comparação Social.

 

Como vimos pela parte inicial deste texto, o orgulho tem muitas facetas. Por esta razão, ter uma boa opinião sobre si próprio, deve ser tratado com ponderação e continência. A sua posição, suas habilidades, e suas realizações, são coisas que se avaliadas em condições que ultrapassem o aceite como amor próprio, podem subir à cabeça, destruir o bom senso, e transformar o indivíduo em um idiota. O orgulho forma uma combinação poderosa com Ambição, Ganância, Megalomania e Insanidade, e esses pecados capitais derrubaram mais heróis e vilões do que Homero poderia citar. Como uma falha humana fatal ou um “calcanhar de Aquiles”, é um clássico mais antigo que o feudalismo e provavelmente não desaparecerá tão cedo. Há uma razão pela qual este é um (e também o pior) dos Sete Pecados Capitais, e porque um personagem muito secundário na Mitologia Clássica é o Nomeador comum para o Transtorno Narcisista.

Um indivíduo pode “destruir-se” com orgulho, ego e arrogância, por aparecer e agir acima do que realmente é. E esta atitude pode tornar-se altamente tóxica para a sua convivência social, para a família e amigos, e para as relações comerciais ou de trabalho.

A autoglorificação é o mantra das pessoas orgulhosas: “Olhe para mim, veja quem eu sou, veja como eu faço as coisas”.

 

O perigo do orgulho

O orgulho é a única doença conhecida pelo homem que deixa todos doentes pelo contato, exceto aquele que o tem, e o orgulho arrogante é uma marca registrada comum entre a maioria dos políticos. Aqueles que se entregam a isso tendem a ser narcisistas, arrogantes e manipuladores e são essencialmente agressores. Sempre assumindo que sabem mais, e que sabem melhor do que ninguém, o seu comportamento reflete uma presunçosa justiça própria e a crença vangloriosa de que “só eles” têm as soluções, a força e a superioridade para estar no controle da vida dos outros.

Um indivíduo pode ser vítima do orgulho por vários motivos:

1.    Egocentrismo

2.    Insegurança profunda e sentimentos de inadequação

3.    Imaturidade e incapacidade de lidar com responsabilidades

4.    Personalidade narcisista

5.    Incapacidade de lidar com bens, posses, posição e sucesso

Quando um espírito de orgulho governa, acreditamos que estamos sempre certos e que somos mais importantes e melhores do que as outras pessoas. O orgulho nunca admite seus fracassos. Em vez disso, a pessoa orgulhosa culpa os outros e busca continuar avançando, pensando cegamente na autogratificação.

Sinais de alerta específicos nos dizem quando um espírito de orgulho governa nossas vidas. Embora a lista seja longa, certamente inclui as seguintes características óbvias:

·      Arrogância

·      Auto-engrandecimento

·      Autopromoção

·      Fixação em ser o número um ou o primeiro

·      Senso superinflado de auto-importância

·      Presunção

·      Sentimentos de superioridade e comportamento esnobe

·      Recusa em aceitar ou ouvir conselhos de outras pessoas

·      Espírito de rebelião

·      Necessidade obsessiva de ser o centro das atenções

·      Sentido pessoal de direito

·      Disposição para “usar pessoas” e tirar vantagem dos outros

O orgulho está na raiz de todo pecado de acordo com a Bíblia (Isaías 14:12-14), e não é por acaso que “eu” está no centro da palavra “pecado”. O orgulho de uma pessoa leva-a a fazer afirmações exageradas e a garantir que seja reconhecida, honrada e celebrada pelo que faz.

O orgulho é exibido abertamente por alguém que está “empolado” ou “ensoberbado”, e se posiciona num pedestal criado por si próprio, colocando-se acima dos outros. Está sempre em busca de poder, prestígio, posição e glória própria.

Não é de admirar que o professor da Bíblia britânico, John Stott, tenha dito uma vez: “O orgulho é o seu maior inimigo, a humildade é o seu maior amigo”. Esta declaração vai direto ao cerne do que a Bíblia ensina sobre a raiz mortal dos nossos pecados, problemas e dificuldades.



 

Citações sobre o Orgulho

- Lucas 18:11-12 (TLB) O fariseu orgulhoso e hipócrita fez esta oração: “Graças a Deus, não sou um pecador como todos os outros, especialmente como aquele coletor de impostos ali! Pois nunca trapaceio, não cometo adultério, jejuo duas vezes por semana e dou a Deus um décimo de tudo que ganho”.

- Lucas 14:11 (NCV) Jesus disse: “Todos os que se engrandecem sairão humilhados”.

- William Shakespeare: “Quem é orgulhoso come a si mesmo: o orgulho é o seu próprio copo, a sua própria trombeta, a sua própria crónica!”

- Mais do que qualquer outra coisa, Deus não gosta do orgulho arrogante e acabará por derrubá-lo. Considere o exemplo bíblico de três Reis…

- Daniel 5:20 (MSG) Nabucodonosor desenvolveu uma cabeça grande e um espírito duro. Então Deus deixou que caísse de seu cavalo e despojou-o de sua fama.

- Atos 12:23 (MSG) Deus achava exagerada a arrogância de Herodes e enviou um anjo para ajudá-lo. O rei Herodes não deu crédito a Deus por nada. Ele Caíu. Podre até a medula, ele morreu.

Deus é muito específico. Ele não aceita o orgulho. Na verdade, está no topo da lista dos pecados que Ele mais despreza:

- Provérbios 8:13 (NLT) Deus diz: “Evitem o orgulho e a arrogância, a corrupção e a linguagem perversa!”

-Ann Landers: “Não aceite a admiração do seu cachorro como prova conclusiva de que você é maravilhoso!”

- O Revivalista Jonathan Edwards chamou o orgulho de “a pior víbora que há no coração” e “o maior perturbador da paz e da busca pela felicidade”. Ele classificou o orgulho como o pecado mais difícil de erradicar e “o mais oculto, secreto e enganoso de todos os desejos”.

- O orgulho foi o primeiro pecado que entrou no universo e a razão da transformação de Lúcifer em Satanás (Isaías 14:12-15). De todos os pecados listados na Palavra de Deus, o orgulho é o mais destrutivo.

 



Conclusão

Uma demonstração de Orgulho, pode ser uma simples e despretensiosa efusão de alegria, por ter conseguido algo que o deixou satisfeito, o que é uma atitude plenamente aceitável.

Ou pode ser uma doentia demonstração de Arrogância e Presunção, que o coloca numa situação de presumível doente mental, com perigo de nefasta intervenção social. Que cada um se cuide e faça a sua análise pessoal.

 

Orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é sadio.

Santo Agostinho



[i] Conceito de Eu (psicanálise)

 

A palavra “eu” pode ter vários pontos de vista. Em primeiro lugar, a palavra se refere à individualidade pessoal, a primeira pessoa do singular que acompanha um verbo. O “eu”  é importante na vida das pessoas, uma vez que cada ser humano está acostumado a observar a realidade a partir do seu próprio ponto de vista.

O excesso do uso da palavra “eu” pode mostrar um individualismo exagerado por parte daquele que se fecha em si mesmo e não vê além dos limites do seu ego. São pessoas que tendem em ocupar grande parte do seu tempo em conversas com amigos para falar de si mesmas. Colocar limites no ego também é um gesto de inteligência emocional para estabelecer boas relações pessoais, uma vez que todo vínculo afetivo parte da igualdade entre duas pessoas.

Do ponto de vista psicológico, o conceito Eu está dentro da teoria da psicanálise fundamentada por Freud que remete a relação da realidade de uma pessoa através do Eu. A partir deste ponto de vista, esta parte da personalidade é expressa através do princípio da realidade. O “eu” exerce um trabalho conciliador entre o ego e o superego. Então, no que consiste o trabalho de mediação? O “eu” dá equilíbrio aos desejos do ego que podem não encaixar em suas expectativas realistas e em sua própria realidade.

O “eu” também se refere à própria ética em ajustar os desejos aos valores pessoais. Deste modo, enquanto o ego busca o prazer de forma desmedida, pelo contrário, também persegue o prazer dentro de um critério lógico e uma ordem realista. Do ponto de vista da psicanalise, a mente humana está composta por três pilares fundamentais que mostram uma harmonia entre si: o eu, o ego e o superego.

Por outro lado, e ego contém todos os instintos sexuais e agressivos. Como aspecto, vale ressaltar a teoria psicanalista de que o ego é o único componente da personalidade presente na mente humana desde o momento do nascimento,que se desenvolve ao longo da vida. O ego exacerbado pode remeter ao plano inconsciente. E, o inconsciente... é incontrolável... 

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