quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Delegação e Qualidade de Serviços


DELEGAÇÃO E QUALIDADE DE SERVIÇOS

Extrato do meu livro “Introdução à Hotelaria” editado pela Amazon em Kindle Books, em papel com capas de cartolina e enviado pelo correio.
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DELEGAÇÃO E QUALIDADE DE SERVIÇOS

Algumas considerações sobre este tema
I "Delego auctorite myne" (Conde Palatino 1530)
É o acto de passar a outra pessoa, uma tarefa que normalmente seria sua. A autoridade também pode ser delegada, se isso for necessário ao bom cumprimento de uma tarefa.

Como ninguém tem a capacidade física da omnipresença, a delegação é um componente importante da função gerencial em hotelaria. Procede-se assim quando se define que um funcionário é o acto de passar a outra pessoa, uma tarefa que normalmente seria sua. A autoridade também pode ser delegada, se isso for necessário ao bom cumprimento de uma tarefa.

Como ninguém tem a capacidade física da omnipresença, a delegação é um componente importante da é responsável por um cargo, dentro de um hotel, e assume total responsabilidade por ele. Devemos partir do princípio que o diretor-geral é o principal responsável por todos os cargos, bem como pela correcta execução em cada um deles. Ao designar uma pessoa a quem atribui essa responsabilidade, ele está a delegar.
Assim sendo, para delegar correctamente, devem ter-se os seguintes cuidados:

- Qualidade de formação:  o empregado deve receber formação relativa à tarefa que lhe é entregue, ou delegada.
- Boa informação: o empregado deve conhecer bem, o resultado que se espera dessa tarefa, e deve saber correctamente qual é a posição da direcção sobre o cargo que vai ocupar.
- Responsabilização: depois de uma boa formação e de estar bem informado sobre o cargo que vai ocupar, o empregado deve ter total liberdade e não deve haver interferência, no trabalho que lhe foi delegado.
Se tudo correr bem, deve ser reconhecido. Se cometer algum êrro, o funcionário deve ser incentivado a tentar novamente, para melhorar a sua execução
Sempre que se busca Qualidade ou se analisa a falta desta em hotelaria, deve-se fazer uma análise profunda de como está sendo feita a delegação no estabelecimento, pois na maior parte das vezes todo o problema nasce ali.
A delegação é uma realidade de gestão que todos utilizam em hotelaria, mas que me perdoem os que se possam sentir atingidos, sobre a qual poucos entendem ou sobre a qual poucos se debruçam.
É talvez, também, a indústria onde a delegação é mais utilizada e aquela onde esta é mais negligenciada. Quando se verificam sinais de baixa qualidade de serviço, ou existem erros acima do aceitável, um dos primeiros pontos a analisar deve ser – como está sendo feita a delegação no nosso estabelecimento?
Devido ao facto de ser uma indústria de serviços, com funcionamento ininterrupto que não permite aos responsáveis uma presença constante, a delegação é inevitável, sem que estes se apercebam da existência desta como tal, e façam a delegação como uma acção normal, inerente ao tipo de empreendimento.
Mas, se quisermos nos compenetrar um pouco mais da pertinência e da importância deste assunto, em relação aos resultados de gestão, verificaremos que:
Delegação é a atribuição de autoridade e responsabilidade para outra pessoa (normalmente a partir de um gerente para um subordinado) para realizar actividades específicas. No entanto, a pessoa que delegou o trabalho continua a ser responsável pelo resultado do trabalho de delegados[1]. A delegação confere, a um subordinado, liberdade para tomar decisões, o que significa uma mudança do poder de decisão de um nível da organização para outro inferior. Delegação, se feita correctamente, não é abdicação. A má delegação, por outro lado, pode causar frustração e confusão para todas as partes envolvidas, com situações desgastantes e por vezes prejudiciais ao negócio.
Se perguntarmos a qualquer empregado de hotel quem é o responsável pela preparação dos bifes e cozinhados, teremos como resposta que é o cozinheiro. Do mesmo modo, seremos informados que o responsável pela boa apresentação dos quartos é a governante ou a empregada de quartos, enquanto que para abrir a porta de um táxi que chega ao hotel, será indicada a responsabilidade do trintanário ou do mandarete.
Mas em boa verdade, o responsável por todos estes serviços é o director do hotel. Foi a ele que os proprietários ou os accionistas entregaram o empreendimento, e foi com ele que discutiram e acertaram a classe e a qualidade dos serviços, bem como a forma de conduzir estes e atender a clientela.
Baseado na indiscutível impossibilidade de estar presente em todos os locais e em todos os momentos, o director necessita lançar mão de quem o substitua, nos distintos locais e nas diversas horas do ciclo normal dos serviços.
Para isso escolhe os directores sectoriais ou os chefes de serviços, aos quais delega a sua responsabilidade nas diversas áreas, para que tudo aí decorra como acertado e desejado. Feita esta primeira delegação e pelas mesmas razões que a motivaram, os escolhidos para esses cargos gerenciais fazem a selecção daqueles em quem farão, por sua vez, a delegação de responsabilidades. E o ciclo das delegações vai tomando o seu curso, até atingir o rodapé da pirâmide. Mas tomando como base o que lemos atrás, todo este processo de delegação não retirou aos vários cargos a responsabilidade do seu iniciador, neste caso o Gerente ou Director do hotel. Baseados nesta premissa, podemos e devemos aceitar que a pessoa que nos recebe ou abre a porta do nosso táxi, é o representante formal e inequívoco do Gerente ou Director, e como tal o serviço e as atenções que nos presta devem ser idênticas às que receberíamos se este ali estivesse naquele momento. Começa aqui a verificar-se, o pouco cuidado com que é tratado na maior parte dos nossos estabelecimentos, o assunto da delegação, porque a maior parte dos directores, dos gerentes e até dos supervisores ou chefes de secção, não tem sobre esta uma idéia formada, nem lhe dão a atenção devida. Todo o pessoal deve saber que, no desempenho das suas funções, cada um deles representa o Gerente ou Director e é um símbolo do hotel. E todo o pessoal deve ser treinado dentro de critérios que lhes permitam avaliar a importância dessa delegação e cumprir o que dela se espera.
Uma perfeita delegação reforça um estilo de gestão que permite à equipa usar e desenvolver as suas habilidades e conhecimentos até ao seu pleno potencial. Com uma delegação defeituosa, perde-se o valor que o próprio empregado poderia ter para a reputação do hotel e para a sua dignidade profissional.
Como a antiga citação inicial sugere, delegação é confiar a outros a sua responsabilidade, com a inerente autoridade, até aos limites julgados necessários. Isso significa também que eles podem agir de forma independente, dentro dos padrões estabelecidos e que partilham a responsabilidade inerente às determinadas tarefas. Se algo der errado, o Gerente ou Director será o responsável, uma vez que a delegação parte sempre dele. Sendo assim, é fundamental delegar de maneira que as tarefas sejam executadas da forma correcta, e para isso é importante um bom treinamento e uma perfeita conscientização dos responsáveis, antes de iniciarem o serviço.

VERSUS ATRIBUIÇÃO DE TAREFAS

Delegação de tarefas, ao invés de atribuição de tarefas, é uma das facetas da inovação e passa pela qualidade dos serviços. Cada tarefa deve ter um padrão aprovado pelo Gerente ou Director, o qual verifica se o modelo apresentado inclui tudo o que ele deseja seja implementado naquela tarefa. A partir daí, começará o treinamento do empregado, e aquele padrão pode no futuro ser modificado, desenvolvido ou actualizado, conforme o necessário ou desejável, com o consequente treinamento do responsável no novo formato.


Uma vez que a delegação inclui alguma entrega de autoridade, não se poderá ditar a todo o momento o que é delegado, nem a forma como a delegação está a ser gerida. Para controlar a delegação é preciso estabelecer no início, a tarefa em si, a extensão da autoridade que esta inclui, o cronograma e as fontes de informação futura, a sua disponibilidade, e os critérios de sucesso. Esses pontos podem ser negociados com os funcionários no momento da admissão ou da promoção, e serem objecto de um acordo escrito que garanta o comprometimento do “delegado” em garantir um procedimento aceitável.
Para habilitar outras pessoas a fazer um trabalho que é da sua responsabilidade, é necessário garantir antecipadamente que:
·           Elas sabem o que você quer.
·           Elas têm a autoridade e a responsabilidade necessárias para executá-lo.
·           Elas foram bem treinadas e sabem como fazê-lo.

Todos estes aspectos dependem de uma descrição clara da natureza da tarefa, da extensão do seu poder discricionário, e das fontes de informação e conhecimento relevantes.
Devemos também considerar que os serviços, se executados pelo Gerente ou Director, serão sem dúvida de alta qualidade, mas as tarefas por ele delegadas, não têm que ser executadas tal como ele poderia fazer, basta que atinjam a qualidade julgada necessária e que o candidato seja preparado até alcançar a sua melhor aptidão para o efeito. Ele deve saber que os critérios e as normas pelas quais o resultado será julgado, são os do padrão pelo qual ele recebeu o treinamento. E ele mesmo deve anunciar quando sentir que está preparado, assinando um documento em que se considera pronto e se compromete a cumprir todos os pontos para os quais recebeu formação.

CONCLUSÃO

A delegação é uma forma de gestão à qual não se pode fugir na indústria hoteleira. O resultado dela depende de como esta for encarada, e da forma como forem preparados os empregados indicados para assumir as responsabilidades delegadas.
Se tiver pretensão de dirigir um empreendimento com qualidade, o Gerente ou Director deve seguir à risca as regras sobre delegação, pois este processo é crucial para um resultado final positivo. Deve certificar-se de que todos os seus supervisores estão aplicando os mesmos princípios, em cascata e ao longo de toda a organização. Isto significa que, se estiver conduzindo uma grande organização, deve verificar se os processos de gestão, comunicação e desenvolvimento de pessoas, estão certos e funcionando correctamente em todos os patamares da pirâmide, com a aplicação dos padrões por ele autorizados.
As decisões são uma competência inerente à Direcção, mas estas também podem ser delegadas se elas forem importantes para a equipa – aos chefes e supervisores, como parte integrante do cargo e até ao limite necessário para o desempenho deste, e  no caso da formação de jovens executivos, para que eles possam ir testando as suas capacidades. Na prática desta última delegação, deverão ser estabelecidos inicialmente os limites para as decisões, até que se possa avaliar o resultado, mas com o tempo, o escopo delas pode ir aumentando, conforme for sendo ampliada a capacidade e a confiança dos seus executantes.


[1] Usamos a palavra delegados, uma vez que estamos falando de delegação. Esperamos que os nossos leitores se apercebam de que, neste caso, delegados significa o mesmo que empregados designados para o cargo.


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