terça-feira, 14 de novembro de 2023

 

O Uso das Palavras


E o contexto das Ações

Ignorância, Arrogância, Teimosia, Estupidez

 

A falta de razão em nossas ações e no uso das palavras, muitas vezes nos causa problemas, que poderiam muito facilmente ser contornados ou evitados. A intolerância é um mal que nos atinge interiormente, e o que sobra são péssimos sentimentos e revides negativos. A convivência tem seus tributos e devemos pagá-los sem arrogância ou desdém, pois vivemos num Mundo partilhado. É importante prestarmos atenção aos atos e atitudes que nos apresentam para terceiros como uma demonstração do nosso caráter e de nossas ações. Se não tivermos cuidado, estes podem tornar-se uma parte da nossa identidade social. Por outro lado, se as nossas aspirações apontam para cargos de responsabilidade no futuro, devemos estar conscientes de que existe uma contra-mão, e admitir que os seres humanos aceitam naturalmente os seus valores, devendo ser nós como responsáveis, os facilitadores do convívio e da harmonia na coexistência para o trabalho ou para o contato social.

A teimosia, por exemplo, é uma qualidade ruim, pois o apego obstinado às próprias ideias, gostos etc., impede-nos de perceber quando desistir, e que essa decisão pode representar a libertação de um comportamento em que se perde um tempo precioso, e que muitas vezes traz infelicidade, mágoas, exaustão emocional, estresse psicológico e até depressão. As pessoas por vezes confundem obstinação ou persistência com teimosia e dizem: “foi isso que lhe garantiu aquele emprego”, ou: “o atleta superou suas dificuldades, provando que a sua teimosia não tem limites”.

Mas isso é resiliência.[i] Pessoa persistente é aquela que: Não desiste diante de obstáculos; reavalia e insiste, ou muda seus planos para superar objetivos;

Confundir persistência com teimosia é um grande equívoco. Persistir é manter seus objetivos sempre no foco, mesmo nas maiores dificuldades ou enfrentando obstáculos que poderiam se tornar intransponíveis, é você resistir e continuar. Ser resiliente tem a ver com resistir e recuperar. Já ser persistente tem a ver com insistir. Portanto, podemos entender que resiliência é a capacidade de superar um obstáculo, se recuperar e voltar à sua mesma forma. Por outro lado, a persistência é a capacidade de se manter firme e insistir no objetivo. Que tem a capacidade de recuperar após um revés ou de superar situações de crise, adversidade ou infortúnio;

Como a história tem demonstrado, as pessoas podem fazer a coisa certa permanecendo firmes nas suas crenças. É conhecido o caso do General Charles de Gaulle, que se recusou a admitir a derrota depois que a Alemanha nazista invadiu a França. Contra todas as probabilidades, ele convenceu os franceses de que acabariam por prevalecer. A sua crença inabalável na grandeza do seu país ajudou-o a transformar a sua visão em realidade. A persistência, quando usada como um sentimento de insistência na obtenção de objetivos, pode até ser um valoroso auxiliar.

A teimosia porém, quando se combina com a arrogância e a ignorância torna-se tóxica, pois estas duas são qualidades negativas que deveríamos eliminar do nosso armazém de atitudes e, os que têm responsabilidades de Gerencia ou Supervisão, do seu arsenal de liderança. A arrogância é um senso exagerado da importância ou das habilidades de alguém. Ignorância é a falta de informação, conhecimento, compreensão ou educação.

Muitas vezes, arrogância e ignorância andam de mãos dadas. A arrogância pode levar uma pessoa a ignorar algo importante, e a ignorância das habilidades e talentos dos outros, também pode tornar uma pessoa arrogante.

Ao procurar a mistura certa para exercer a liderança, a ignorância e a arrogância devem ser removidas, para permitir a quantidade certa de consistência das atitudes.

Somos os donos do nosso estilo de liderança e, como todos os grandes cozinheiros, precisamos de usar os ingredientes certos nas quantidades perfeitas.

Embora a ignorância e a estupidez sejam frequentemente usadas de maneiras semelhantes, elas têm nuances diferentes. A ignorância pode ser apenas falta de informação, mas pode significar falta de conhecimento, seja em geral ou sobre um assunto ou tema específico. Uma Ignorância intencional (não aprender porque acha que já sabe) é o mesmo que estupidez!

Qual é a diferença entre ignorância e ignorante?

A ignorância é por vezes caracterizada como falta de conhecimento, e descrita como um estado de desinformação. Não saber por impossibilidade ou circunstância, não significa necessariamente uma incapacidade de aprender ou de saber. Mas ser ignorante por escolha – existir num estado de ignorância – não é necessariamente uma condição de estado estacionário, precisamos admitir.

A ignorância intencional coloca uma ênfase particular na educação. Se você tem acesso à informação e capacidade de processá-la, mas escolhe ignorá-la, você é estúpido. Se lhe falta acesso à informação e, portanto, capacidade para processá-la, você pode ser ignorante; mas você não é estúpido. Estupidez refere-se à falta de um nível normal de inteligência, sagacidade ou rapidez mental.

Há muitos anos, em início de carreira, tive uma conversa passageira com um colega, que me deixou obcecado com o significado de estúpido. Fiz uma declaração sarcástica: “Ele não disse nada abertamente, mas eu me desculpei, dizendo: desculpe, acho que errei, mas não quis ser estúpido!” Meu colega concordou amigavelmente. Sentindo-me envergonhado, acrescentei: “Tenho muitas outras falhas de caráter, pois ainda não aprendi a me controlar”. Meu colega me corrigiu: “A estupidez não é uma falha de caráter”, comentou, “é apenas genética”. Passamos para outros tópicos, mas continuo pensando se ele estava correto ou não.

Considero estupidez, uma ignorância intencional. Por esta definição, a estupidez é uma falha de caráter. Numa rápida pesquisa de dicionários on-line, porém, meu colega parece ser a maioria. As definições apresentadas citam lentidão para processar informações ou apreender conceitos.

Na verdade, lembro-me de proibir meus filhos de chamar alguém de estúpido. Tratei isso como o seu equivalente de seis letras, idiota. Mantenho minha proibição, já que tais xingamentos nunca ajudaram nos relacionamentos entre irmãos - ou entre pessoas. Na época, eu disse a eles que poderiam dizer que alguém fez algo estúpido, mas não deveriam chamar a pessoa em questão de estúpida.

Se eu aplicasse minha definição atual, permitiria que acusassem um irmão irritante de um ato de ignorância intencional, mas não de um estado contínuo de ignorância intencional. Lembro-me claramente do meu mantra: “ninguém nesta família é estúpido!” Em retrospecto, eu quis dizer que eles tinham bons cérebros e podiam aplicá-los para um bom uso: uma definição diferente.

Tendo percebido a minha própria inconsistência, pergunto-me o que está em jogo na definição? A ignorância intencional coloca uma ênfase particular na educação. Se você tem acesso à informação e capacidade de processá-la, mas escolhe ignorá-la, você é estúpido. Se lhe falta acesso à informação e portanto, capacidade para processá-la, você pode ser ignorante; mas você não é estúpido.

Como alguém profundamente empenhado no acesso à educação, penso que deveríamos identificar aqueles que correspondem à minha definição de estupidez – a ignorância intencional. Aqueles que têm acesso à educação nos níveis mais elevados, mas optam por ignorar o conhecimento disponível, sugam recursos daqueles que anseiam desesperadamente por informação e pela oportunidade de aumentar a sua função cognitiva (independentemente do ponto de partida) através da prática e da adaptação criativa.

 

Em vez de despendermos os nossos esforços para discernir quem é “suficientemente inteligente” para merecer o nosso investimento educacional, procuremos quem quer aprender. Para moldar nossos programas e sistemas educacionais de acordo, e usar os meios ao nosso dispor, para difundir conhecimento e ajudá-los na sua luta por uma carreira decente.

Aqueles que nunca procuraram alargar, aprofundar e aguçar as suas mentes, e ratificar a sua capacidade inata com um pedaço de papel e um emprego bem remunerado, demonstrariam a ignorância deliberada das vantagens académicas.

Eles são estúpidos, NÃO por falta de capacidade mental, mas como resultado da sua recusa inaceitável, em empregar as habilidades que possuem.

 


O Idiota e o Imbecil que citamos

Ficaram ainda por analisar os termos Idiota e Imbecil que não são “em si” termos próprios de xingamento, ainda que muitas vezes sejam empregados para afrontar mesmo.

Estas palavras designam debilidades intelectuais graves, sendo o idiota pior que o imbecil, pois não elabora a mais primária faculdade intelectual, que é a de perceber, sem embargo de que a imbecilidade, ou impossibilidade de interpretar, também a segue como grave.

O idiota é aquele que não vê o sentido, e não percebe a objetividade exterior a si mesmo. Pode estar diante de uma coisa sem a perceber. Normalmente, há que se lhe falar várias vezes para que ele “perceba” que lhe estão falando, e ainda mais várias vezes para “perceber o que lhe estão dizendo”.

A percepção em si, é o acolhimento da realidade, a qual, para ser propriamente recebida, necessita de um processo ativo/atento do recebedor. O idiota recebe-a passivamente (muitas vezes disperso) o que leva a que várias insistências, repetições, reiterações, ênfases, etc. … precisem lhe ser feitas.

Outra característica inerente ao idiota, é ele achar que aquilo que ele não alcança (ou de que nunca teve conhecimento) não existe em boa verdade.

O imbecil, percebe a alteridade, mas capta-a em níveis de superfície. Tem insegurança para penetrar mais fundo que a camada das aparências, o que lhe exigiria interpretar sentidos, mas ele se “afasta” disso, razão porque fica estacionado nos degraus iniciais da compreensão.

A etimologia latina de imbecil vem de “sem apoio”, indicando alguém que entende algo, mas é fraco, desapoiado, e não sabe medir as coisas, não fica de pé por si só, optou por ficar como iniciante. Ele não “se representa”, e não interpreta porque interpretar exige decidir, caso em que ele passaria a ser ele próprio. O seu esquema de debilidade consiste em submeter todo o seu “eu” na ordem, no comando e na instrução, a um esquema de dependência quase vital. Não raro, o imbecil assume ares circunspectos de sisudez orgulhosa em seu rigor para com a literalidade.

 

Idiota do grego "idiotes" significava "pessoa leiga, sem habilidade profissional", por oposição àqueles que desenvolviam algum trabalho especializado. Na acepção grega original, idiota designava literalmente o cidadão afastado e longe dos outros, alguém que se dedicava apenas aos assuntos particulares, em oposição ao cidadão que ocupava algum cargo público ou participava dos assuntos de ordem pública. O escritor russo Leon Tolstoi, escreveu um livro com este título, onde o personagem principal está magnificamente apresentado.

O termo evoluiu de forma depreciativa para caracterizar uma pessoa ignorante, simples, sem educação e significa hoje, tolo ou pateta. Popularmente, um idiota é um indivíduo tolo, imbecil, desprovido de inteligência e de bom senso. Idiotice é o produto daquele que é idiota, e o afastamento deixou de ser uma opção, tornando-se uma razão de necessidade

Na Psiquiatria, o idiota é aquele que sofre de "idiotia", o diagnóstico atribuído ao indivíduo mentalmente deficiente, com grau avançado de atraso mental, ligado a lesões cerebrais. No estado de idiotia profunda, o portador desta patologia tem suas capacidades vitais reduzidas a um estado semelhante ao coma.

 


“A ignorância e a estupidez se disfarçam sob o nome de simplicidade e inocência”

“A verdade deve ser dita com amor, mas o amor nunca pode impedir a verdade de ser dita”.

⁠A nossa perfeição consiste em saber, que não somos perfeitos.

A verdade é como um leão; você não precisa defendê-la. Deixe-a solta, e ela se defenderá a si mesma.

Santo Agostinho

 




[i] Muito usada para descrever o comportamento do ser humano, a palavra resiliência significa que a pessoa supera seus problemas com mais tranquilidade, passando por eles com leveza e sabedoria. Para a Psicologia, uma pessoa resiliente tem maior resistência e equilíbrio frente às adversidades.

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