A
Qualidade e a Hotelaria
Garantia
de Qualidade Total
A Hotelaria é quase
tão antiga como a própria humanidade.
E digo quase,
porque não posso garantir esta asserção.
Os registos mais
antigos que se conhecem, regulando o funcionamento de hospedarias, remontam à
antiguidade e devem-se ao famoso rei legislador da Babilónia, Hammurabi.
Qualidade, sempre
foi uma das grandes preocupações da hotelaria. Neste momento, já não estou mais
me referindo à antiguidade, sequer Idade Média, mas sim a períodos mais
recentes e, a países com tradições hoteleiras respeitáveis, com bons
antecedentes de hotelaria profissional.
São países com
tradições hoteleiras, a Suíça, a França, a Itália e a Alemanha.
Países como
Espanha, Portugal e vários outros da orla mediterrânica, não têm, o que se
possa chamar de tradição hoteleira, se conceituarmos a análise deste facto, sob
o ponto de vista de antiguidade; digamos alguns séculos, embora tenham hoje,
hotelaria respeitável e de boa qualidade.
Existe uma crónica
de viagem, escrita por um francês na Idade Média, que não favorece, em nada, o
tipo de serviços e limpeza, encontrados nas estalagens da Península Ibérica.
Mas, estes países,
como vários outros, foram obrigados a evoluir em Hotelaria e no Turismo,
criando qualidade, pela necessidade de conseguir divisas e equilibrar suas
balanças de pagamento. Esses países são, hoje dependentes do turismo, pelo que
necessitam continuar lutando por uma boa Qualidade neste sector.
Qualidade e,
Modernização!
Ainda que, certos conceitos
modernos de Hotelaria não consigam uma total aprovação.
Os Estados Unidos,
que também não podem ser considerados como país de tradições hoteleiras pelo
conceito atrás citado, são no entanto responsáveis por muitas das grandes
evoluções contemporâneas desta indústria, baseadas quase todas, no espírito
empreendedor e comercial que caracteriza os americanos.
A Hotelaria do
pós-guerra é, podemos dizer, criação americana. São americanos os sistemas de
administração, controle e contabilidade, bem como muitas das soluções aplicadas
aos serviços.
As grandes cadeias
internacionais, na sua maior parte oriundas dos Estados Unidos, levaram o seu
nome, os seus conceitos e as suas técnicas, a muitos países do mundo.
Numa grande parte
deles, foram até responsáveis por profundas modificações nos hábitos da
sociedade, sobretudo na área de alimentação. Neste momento, em que chegam
notícias de que a Rússia e a China, já aceitaram a hegemonia hoteleira
americana, ao nível do hot-dog, esta afirmação já não é apenas retórica,
ou imagem para compor um texto.
Qualidade, em
hotelaria, está ligada ao sentimento de hospitalidade, ao prazer de receber
bem, à satisfação daqueles que nos procuram. Por essa razão, afirmei no início,
que qualidade sempre foi uma das grandes preocupações da hotelaria responsável
e, profissionalizada.
Qualidade, em
hotelaria (e não sei se noutros tipos de indústrias) está ligada à própria
mentalidade hoteleira do indivíduo.
A mentalização dos
que trabalham na hotelaria, para o real sentido de hospitalidade, é muito
importante, não só para o sucesso de qualquer empreendimento, como para a
criação de uma qualidade de base.
O TQC apresenta-se
como uma boa hipótese para a solução deste problema, pois desenvolve a
participação, a criatividade e a satisfação pessoal, tão importante ao
indivíduo, para o seu relacionamento com os outros.
A hotelaria é uma
indústria de relacionamento, formando um triângulo baseado no ser humano:
hoteleiro/empregado/hóspede.
Sendo também a
indústria onde menos automação tem sido possível, a evolução da sociedade, e
da industrialização, ao oferecer múltiplas oportunidades de
carreira, criaram uma pressão extra
sobre os hoteleiros, no equilíbrio da sua já débil economia.
Sem entrar no
pormenor da economia hoteleira, seria porém interessante fazer um pequeno
histórico, sem pretensões eruditas, como forma de demonstrar como qualidade e
conforto moderno, na maior parte das vezes não se completam e, até se chocam.
Se recuarmos, não
aos tempos medievais, em que não haveria propriamente hotelaria, mas digamos,
ao período da renascença, encontraremos as famosas Estalagens e Pousadas de
Mala-Posta, tão bem descritas, pelos escritores românticos, ou de capa e
espada.
Esses estabelecimentos,
eram propriedade do estalajadeiro, que fazia questão de dar aos seus nobres
clientes, a melhor qualidade em tudo:
O melhor vinho da
região
Carnes abatidas no
momento e, muito bem cozinhadas
Roupas do melhor
linho
Colchões da melhor
lã
Travesseiros de
boas penas
O melhor
atendimento, com o seu maior sorriso
Nas Pousadas de
Mala-Posta, havia ainda:
As melhores mudas
de cavalos
O melhor ferrador e
O melhor em
serralharia
Os hotéis da Idade
Dourada da Hotelaria, o Fin de Siécle, na velha Europa, traduziam ainda
esse sentimento e eram decalcados na tradição e experiência das hospedarias,
apenas, mais luxuosos.
Eles mantiveram,
todas as tradições da hotelaria atrás indicadas, com amplos e sumptuosos
quartos, bons restaurantes e atendimento sofisticado.
No após guerra, foi
grande o desenvolvimento da hotelaria comercial, tendo acabado a maior parte
dos empreendimentos de um dono só, os quais se viram, incapazes de competir, no
mercado altamente evolutivo que surgia. Surgiram as Empresas Hoteleiras.
Do mesmo modo, foi
grande o desenvolvimento social e foram grandes os movimentos de emancipação de
classe e contestatórios. Além de outros, a hotelaria viu-se a braços com um
problema que até aí não havia enfrentado: o da mão-de-obra qualificada.
Os grandes hotéis,
apareciam rapidamente, em todas as capitais e cidades importantes, absorvendo o
pessoal qualificado.
A grande facilidade
de mudar de emprego e até de cargo, fez com que os profissionais deixassem de
se identificar com o empregador, cumprindo apenas, a sua obrigação.
E contudo, a
Hotelaria, não podia abdicar de um dos seus princípios sagrados: Qualidade dos
serviços oferecidos.
É aí que, com
grande tristeza dos hoteleiros, o conforto moderno começa a chocar-se com a
tradicional qualidade.
Novos Padrões de
Qualidade tiveram que, ser encontrados. Novas fórmulas tiveram que, ser
estudadas.
E a hotelaria
iniciou o seu círculo de adaptação; por um lado, ao mercado abastecedor, por
outro lado, ao mercado de venda, à clientela.
Não é mais,
possível, travesseiro de penas, num hotel de 1200 camas.
Não é mais,
possível, bifes grelhados com lenha ou carvão.
Não é mais,
possível, lençóis de linho, colchões de boa lã, ou carnes abatidas na hora.
Não é mais,
possível uma equipe estável e duradoura, pois o mercado de trabalho é bastante
competitivo.
Começa a fazer
sentido, a busca de uma ferramenta para conseguir a qualidade que já não
aparece tão facilmente. Surgiram várias opções, baseadas no trabalho do Japão
neste campo, ao reerguer a sua economia, devastada pela guerra. E, embora
várias opiniões estejam estabelecidas, em nosso entender, o TQC é a opção que
melhor serve a hotelaria, pois esta não conta, com o recurso ao retrabalho,
possível noutras indústrias.
Temos, até aqui,
analisado apenas a hotelaria internacional, como um todo.
Será de outra
forma, que podemos avaliar, a hotelaria portuguesa ou a brasileira.
Embora sem a
tradição dos países europeus citados, sem a necessidade de equilíbrio de
balança já focalizado e, sem o grande know how dos E.U., Brasil e
Portugal tiveram também, o seu grande período de Fin de Siécle, e a sua
sofisticada hotelaria, nos grandes centros.
Restam ainda,
reminiscências desse bom momento, com a presença no Brasil do Quitandinha e do
Copacabana Palace, bem como da Colombo no Rio de Janeiro.
Em Portugal, o
Grande Hotel do Bussaco, o Avenida Palace, o Palace Hotel do Estoril e
recordações dos que foram um marco da hotelaria, marcaram essa época que deixou
saudades.
Mas, tal como aconteceu
noutros países, o rápido crescimento hoteleiro, sem a contrapartida da formação
profissional, criou um vazio, que levará muitos anos a preencher.
A falta de pessoal
bem treinado, é um fantasma que assola a hotelaria. Nos anos 60, o grande
esforço dos Serviços de Turismo e a grande equipe que aí se formou, alavancaram
o turismo em Portugal, culminando com as escolas hoteleiras e o Instituto
Nacional de Formação Turística, mas isso não chegou para consolidar uma
qualidade de serviços generalizada.
O brasileiro, como
o português, tem dotes positivos para a hotelaria, entre os quais citaremos:
A criatividade.
O espírito
prestativo e social.
Mas tem, também,
pontos altamente negativos, como sejam:
A pouca disciplina
O espírito individualista
Falta de sentido
profissional
.
Todo o treinamento
se perde, quando o indivíduo treinado, envereda por outra profissão, onde,
talvez, também não vai fixar-se.
Num país em
desenvolvimento como é o Brasil, a Hotelaria está em desvantagem, perante as
outras indústrias, pois não tem competitividade salarial.
É uma indústria que
não pode mecanizar-se, dependendo sempre e, para tudo, da mão-de-obra.
Uma folha salarial
hoteleira, é sempre superior á de qualquer outra indústria, percentualmente.
Por outro lado, é
uma indústria sacrificante, naquilo que todos mais prezam “Tempo Livre”.
Horários / Folga / Períodos de Trabalho / Fim
de Semana
Em Portugal, alguns
problemas serão idênticos, embora outros possam ser diferentes, mas, a maior
parte deles, serão comuns.
Na hotelaria,
trabalha-se mais, quando os outros descansam.
Todos verificaram
já, as dificuldades de treinamento que se enfrentam, perante:
Rotatividade alta
Falta de interêsse
Imediatismo no retorno (salário)
Desinteresse na profissionalização
A grande saída, a
nosso ver, parece ser a motivação através da implantação do TQC, criando
entusiasmo e participação. Por isso, aqui estamos, procurando fazer entender,
aos responsáveis da nossa indústria, as técnicas que se tem desenvolvido nesse
campo, adaptando-as às nossas necessidades, com as possíveis alterações.
Esperamos que nos
compreendam, pois esta parece ser, a curto prazo, a grande saída para a hotelaria.
O TQC,
ou Total Quality Control (Controle de Qualidade Total, é um sistema
de gestão da qualidade que busca transcender o conceito de qualidade aplicada
ao produto. No TQC a qualidade é entendida como a superação das expectativas
não apenas do cliente, mas de todos os interessados (stakeholders). Para
compreender melhor vejamos um pouco da evolução do conceito de qualidade.
O
primeiro conceito relacionado à qualidade referia-se ao enquadramento dos
produtos/serviços dentro de suas especificações técnicas. Ou seja, qualidade
era igual à ausência de defeitos no produto final, o que, por sua vez, era
verificado na medida exata da intensidade de inspeções realizadas. Mais tarde,
o “controle estatístico do processo” permitiu a extensão do conceito de
qualidade ao processo, passando o controle da qualidade, a englobar também as condições
em que o produto é produzido. Entretanto, o conceito de qualidade ainda
passaria por mais algumas mudanças incorporando o conceito de “custo da
qualidade”, e depois de, “defeitos-zero”, chegando enfim, a englobar a
satisfação ou superação das expectativas de todos os interessados, inclusive os
clientes (internos e externos).
O
termo “controle da qualidade total” foi usado pela primeira vez por Armand
Feigenbaum, em 1956, quando ele propôs a ideia de que a qualidade só poderá
resultar de um trabalho em conjunto de todos os que estão envolvidos no
desempenho da organização, não apenas de um grupo de pessoas. Embora
Feigenbaum também defendesse a criação de uma estrutura organizativa de
suporte à qualidade, a Engenharia de Qualidade, que seria a responsável por
resolver questões de qualidade que englobassem mais de uma área da empresa.
Assim, a abordagem proposta por Feigenbaum dá ênfase à comunicação entre
os departamentos da empresa, principalmente os responsáveis por produção,
materiais e design.
O
conceito de controle da qualidade total engloba os seguintes itens: orientação
ao cliente, qualidade em primeiro lugar, ações orientadas por prioridades,
fatos e dados, controle de processos e da dispersão (variação dos dados que
indicam quando há uma possível falha no processo) e investigação das causas,
“próximo processo é o seu cliente” (para que cada funcionário tenha em mente
que a qualidade de seu trabalho interfere na qualidade do produto na próxima
etapa do processo), identificação das verdadeiras necessidades dos clientes,
evitar que erros já identificados sejam cometidos novamente e comprometimento
da alta direção.
Apresentaremos
as bases deste Conceito noutra Postagem
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