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ALIMENTAÇÃO E A CULTURA
Texto adaptado do trabalho de K.C. Chang – Food in Chinese Culture-
Yale University Press, 1977
Dizer que o consumo de alimentos é parte
vital do processo biológico, será enfatizar o óbvio, mas, algumas vezes, nos
esquecemos que, a alimentação é mais do que vital. A outra atividade, que se
lhe assemelha, ou compara, pela importância que tem, tanto na nossa vida, como
na reprodução da espécie, é o sexo. Segundo Kao Tzu, filósofo chinês,
observador da natureza humana, “apetite por comida e sexo é natural”. No
entanto, estas duas atividades, têm alguma diferença.
O ser humano é, muito mais animalesco
nos seus empenhos sexuais, do que nos seus hábitos alimentares. E o âmbito de
variações é, sem dúvida, maior na alimentação do que no sexo. Por essa razão, a
importância da alimentação, como forma de entender a cultura dos povos, é muito
importante e, reside na análise, das suas infinitas variedades, pois estas não
são tão necessárias à sobrevivência.
Para sobreviver, todos os seres humanos,
em qualquer latitude, poderiam comer a mesma comida, medida apenas pelos
valores das calorias, gorduras, carboidratos, proteínas e vitaminas. No
entanto, as pessoas, não apenas dos vários países, ou regiões, do mundo, mas
também, de acordo com as várias classes sociais, comem de maneira diferente.
São grandes as variedades de
ingredientes básicos usados na preparação das refeições, bem como a forma como
eles são guardados, cortados, cozinhados (ou não) e as quantidades e
variedades, de cada repasto.
São também inúmeros, os sabores e os
gostos, os hábitos de servir, os utensílios de preparação e serviço, as crenças
sobre as verdadeiras propriedades da comida, a quantidade das refeições e, a
sua duração.Uma análise antropológica, sobre o estudo da alimentação, nos
levaria, sem dúvida, a isolar e identificar, as variantes alimentares,
sistematizar os resultados e, explicar, porque algumas delas se aproximam e
outras não.
Para melhor compreensão, poderemos usar
a palavra cultura, como uma explicação, para as variantes relacionadas à
alimentação. Ela pode ajudar-nos, a encontrar um padrão, ou estilo,
comportamental, nos vários grupos, de pessoas, que partilham, determinado
estilo alimentar.
Os hábitos de alimentação, podem ser usados, como critério importante, ou determinante, para este fim. Pessoas que partilham a mesma cultura, têm os mesmos hábitos alimentares, ou seja, partilham a mesma variedade, de comidas.
Culturas diferentes usam, misturas
diferentes, na alimentação.
Poderemos dizer que, culturas
diferentes, têm diferentes escolhas alimentares. E aqui, a palavra escolha,
pode não representar, uma decisão pessoal, mas, uma imposição do ambiente.
Quais são essas escolhas? O que as
determina?
Estas são as duas primeiras grandes
perguntas, num estudo de hábitos alimentares.
Dentro da mesma cultura, os hábitos
alimentares podem não ser homogêneos. Como regra, eles não o são, de fato.
Dentro de um estilo geral de
alimentação, existem diferentes manifestações, de variantes alimentares, para
diferentes posições sociais. Pessoas de classes sociais diferentes comem,
diferente. Pessoas, em ocasiões festivas, em luto, ou até mesmo na rotina
diária, comem diferente. Seitas religiosas, ou diferentes credos têm, códigos
diferentes de alimentação. Homens e mulheres, nos vários estágios das suas
vidas, alimentam-se diferentemente. Indivíduos diferentes têm, gostos diferentes.
Algumas dessas diferenças podem ser
creditadas a preferências pessoais, mas outras podem ser impostas. Identificar,
esclarecer e explicar, essas diferenças pode ser um trabalho interessante, para
quem se dedica ao serviço da alimentação.
Finalmente, é bom ter em conta que,
muitas das modificações nos hábitos alimentares, podem também ser colocadas, na
perspectiva dos tempos, como razão dos períodos históricos e, da sua duração.
Sabemos como os hábitos alimentares mudam e, procuram se adaptar, às razões e
consequências da evolução da sociedade.
O estilo de alimentação de uma cultura
é, certamente e antes de tudo, determinado pelos recursos naturais, de que a
sociedade dispõe.
Verificamos assim, que cada região do
planeta, desenvolveu a sua cozinha, na base da sua produção, tendo depois, ao
longo dos tempos, agregado novidades ao seu cardápio.
Foi assim com os italianos, que se
beneficiaram das viagens de Marco Polo e dos seus contatos no Norte de África.
Foi assim com os portugueses, que adicionaram aos seus cardápios, muitos dos
pratos africanos e orientais, recolhidos nas suas viagens e, foi assim com os
ingleses, nas suas andanças pelo mundo.
Nos dias de hoje, a culinária regional,
ou nacional, dos diversos países, está bastante divulgada, em função das
emigrações e do turismo.
Quem se dedica ao negócio da
alimentação, deve ter um bom conhecimento desta, para poder se manter sempre na
frente, numa profissão bastante difícil e evolutiva.
È muito importante partilhar com os chineses,
a crença de que a maneira como a comida é preparada, está na base de uma boa
saúde e que, a qualidade e a quantidade da comida ingerida é relevante, para a saúde do indivíduo. A
alimentação afeta a saúde, de uma forma direta, em relação ao futuro, mas a
seleção da comida em determinado momento, deve ter em conta, a própria saúde e
as condições do indivíduo, nessa exata ocasião. Chegamos assim à consideração
final: Comida também é remédio.
E como tal, devemos sempre estar
atentos, ao que comemos e, ao que servimos.
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