domingo, 27 de fevereiro de 2022

 


 


A ALIMENTAÇÃO E A CULTURA

Texto adaptado do trabalho de K.C. Chang – Food in Chinese Culture- Yale University Press, 1977

 

Dizer que o consumo de alimentos é parte vital do processo biológico, será enfatizar o óbvio, mas, algumas vezes, nos esquecemos que, a alimentação é mais do que vital. A outra atividade, que se lhe assemelha, ou compara, pela importância que tem, tanto na nossa vida, como na reprodução da espécie, é o sexo. Segundo Kao Tzu, filósofo chinês, observador da natureza humana, “apetite por comida e sexo é natural”. No entanto, estas duas atividades, têm alguma diferença.

O ser humano é, muito mais animalesco nos seus empenhos sexuais, do que nos seus hábitos alimentares. E o âmbito de variações é, sem dúvida, maior na alimentação do que no sexo. Por essa razão, a importância da alimentação, como forma de entender a cultura dos povos, é muito importante e, reside na análise, das suas infinitas variedades, pois estas não são tão necessárias à sobrevivência.

Para sobreviver, todos os seres humanos, em qualquer latitude, poderiam comer a mesma comida, medida apenas pelos valores das calorias, gorduras, carboidratos, proteínas e vitaminas. No entanto, as pessoas, não apenas dos vários países, ou regiões, do mundo, mas também, de acordo com as várias classes sociais, comem de maneira diferente.

São grandes as variedades de ingredientes básicos usados na preparação das refeições, bem como a forma como eles são guardados, cortados, cozinhados (ou não) e as quantidades e variedades, de cada repasto.

São também inúmeros, os sabores e os gostos, os hábitos de servir, os utensílios de preparação e serviço, as crenças sobre as verdadeiras propriedades da comida, a quantidade das refeições e, a sua duração.Uma análise antropológica, sobre o estudo da alimentação, nos levaria, sem dúvida, a isolar e identificar, as variantes alimentares, sistematizar os resultados e, explicar, porque algumas delas se aproximam e outras não.

Para melhor compreensão, poderemos usar a palavra cultura, como uma explicação, para as variantes relacionadas à alimentação. Ela pode ajudar-nos, a encontrar um padrão, ou estilo, comportamental, nos vários grupos, de pessoas, que partilham, determinado estilo alimentar.


 Os hábitos de alimentação, podem ser usados, como critério importante, ou determinante, para este fim. Pessoas que partilham a mesma cultura, têm os mesmos hábitos alimentares, ou seja, partilham a mesma variedade, de comidas.

Culturas diferentes usam, misturas diferentes, na alimentação.

Poderemos dizer que, culturas diferentes, têm diferentes escolhas alimentares. E aqui, a palavra escolha, pode não representar, uma decisão pessoal, mas, uma imposição do ambiente.

Quais são essas escolhas? O que as determina?

Estas são as duas primeiras grandes perguntas, num estudo de hábitos alimentares.

Dentro da mesma cultura, os hábitos alimentares podem não ser homogêneos. Como regra, eles não o são, de fato.

Dentro de um estilo geral de alimentação, existem diferentes manifestações, de variantes alimentares, para diferentes posições sociais. Pessoas de classes sociais diferentes comem, diferente. Pessoas, em ocasiões festivas, em luto, ou até mesmo na rotina diária, comem diferente. Seitas religiosas, ou diferentes credos têm, códigos diferentes de alimentação. Homens e mulheres, nos vários estágios das suas vidas, alimentam-se diferentemente. Indivíduos diferentes têm, gostos diferentes.

Algumas dessas diferenças podem ser creditadas a preferências pessoais, mas outras podem ser impostas. Identificar, esclarecer e explicar, essas diferenças pode ser um trabalho interessante, para quem se dedica ao serviço da alimentação.

Finalmente, é bom ter em conta que, muitas das modificações nos hábitos alimentares, podem também ser colocadas, na perspectiva dos tempos, como razão dos períodos históricos e, da sua duração. Sabemos como os hábitos alimentares mudam e, procuram se adaptar, às razões e consequências da evolução da sociedade.

O estilo de alimentação de uma cultura é, certamente e antes de tudo, determinado pelos recursos naturais, de que a sociedade dispõe.

Verificamos assim, que cada região do planeta, desenvolveu a sua cozinha, na base da sua produção, tendo depois, ao longo dos tempos, agregado novidades ao seu cardápio.

Foi assim com os italianos, que se beneficiaram das viagens de Marco Polo e dos seus contatos no Norte de África. Foi assim com os portugueses, que adicionaram aos seus cardápios, muitos dos pratos africanos e orientais, recolhidos nas suas viagens e, foi assim com os ingleses, nas suas andanças pelo mundo.

Nos dias de hoje, a culinária regional, ou nacional, dos diversos países, está bastante divulgada, em função das emigrações e do turismo.

Quem se dedica ao negócio da alimentação, deve ter um bom conhecimento desta, para poder se manter sempre na frente, numa profissão bastante difícil e evolutiva.

È muito importante partilhar com os chineses, a crença de que a maneira como a comida é preparada, está na base de uma boa saúde e que, a qualidade e a quantidade da comida ingerida é  relevante, para a saúde do indivíduo. A alimentação afeta a saúde, de uma forma direta, em relação ao futuro, mas a seleção da comida em determinado momento, deve ter em conta, a própria saúde e as condições do indivíduo, nessa exata ocasião. Chegamos assim à consideração final: Comida também é remédio.

E como tal, devemos sempre estar atentos, ao que comemos e, ao que servimos.

 

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