COMO
GERENCIAR UM RESTAURANTE -1
O
SERVIÇO
A
estrutura do serviço de um restaurante, obedece a normas básicas, circuitos,
apoios e outros semelhantes e imutáveis aos quais não se deve fugir. No
entanto, a quantidade de pessoas que vão fazer funcionar esses sectores, pode
variar, de acordo com o número de clientes que se espera servir e o maior ou
menor número de banquetes previsíveis (uma sala especial para banquetes, será
sempre uma excelente aquisição, em qualquer restaurante).
Do
mesmo modo que o número do pessoal varia com a procura esperada, também a
variedade de itens na carta deve estar de acordo com esta expectativa e, claro,
tudo isto deve estar já determinado para a análise do estudo de mercado, feita
antes da implantação.
Ao
estruturar um restaurante devemos linearmente pensar, que a operação do serviço
de alimentos é com efeito uma indústria, e que deve, portanto, seguir as normas
de qualquer montagem industrial.
A
única diferença é que, nesta indústria, o ciclo completo: confecção/transporte/venda,
se processam nas mesmas instalações.
Como
em qualquer indústria (na linha de montagem), também aqui, o circuito dos
produtos através dos vários processos, deve ser eficiente, rápido e tranquilo,
para bons resultados da operação. Apresentaremos um tipo de circuito, típico de
um restaurante.
Não
quer dizer, que todos devam ser assim, mas todos devem obedecer, a regra de que
as facilidades e qualidade do serviço, vêm de uma boa distribuição dos locais
de confecção e de apoio, seguindo uma sequência lógica. Esta boa definição de
circuitos, deve ser feita logo no início da construção, e sugerida ao
arquiteto, para que nela se baseie ao desenhar as instalações das cozinhas.
A
Apresentação dos Pratos e a Simpatia do Pessoal
É
fora de dúvida que a confecção de qualquer prato é importante e necessita ser
cuidada, para atingir o objetivo final de qualidade. No entanto, todo o esforço
do cozinheiro pode ser perdido, se a iguaria não for apresentada ao cliente de
forma condigna, ou se o empregado que o serve não o fizer acompanhar de
simpatia, que predisponha o cliente a saborear, com agrado, a iguaria que lhe é
apresentada.
Este
ponto, deve ser objeto de treinamento do pessoal, sobretudo dos Garçons.
O
Preço / A Qualidade / As Compras / A Confecção
Um
dos fatores que sem dúvida mais agradam e melhor pode atrair a clientela, é um
preço aceitável. Mas, se um preço muito baixo, não permitir manter uma
qualidade que satisfaça os clientes, é ilusório pensar que o negócio se mantém,
pois os clientes não voltarão por se sentirem fraudados.
Todos
buscam receber, em troca, o valor real do seu dinheiro. Se a pessoa se sente
mal servida, é legítimo pensar que o seu dinheiro foi mal gasto e que,
portanto, obteve um mau valor de troca.
Por
outro lado, ao pagar o preço justo, ainda que ache um pouco caro, raciocina que
valeu a pena, pois o seu dinheiro foi aproveitado. Teve em troca, um valor real
ao despendido. Sente confiança, em quem lhe deu essa satisfação, e vai, sem
dúvida, recordá-lo aos seus amigos. Deve portanto haver cuidado aos estabelecer
os preços, e evitar que a qualidade baixe, para vender barato.
O
mesmo se verifica com as compras. Embora mais adiante, analisemos isto em
detalhe, podemos já, aqui, alertar para o perigo de tentar comprar barato,
sacrificando a qualidade. Quem compra mau, vende mau, e quem vende mau, não
consegue manter o negócio por muito tempo.
A
qualidade do que se compra, deve ser a primeira coisa a ter em conta; depois,
vem o preço e a mesma atitude deve existir em relação ao fornecedor, como em
relação ao cliente; tentar obter o melhor valor pelo nosso dinheiro, mas não
obrigar o fornecedor, para nos manter como clientes, a fornecer-nos mau, só
porque queremos pagar barato.
Há
limites, para tudo.
Em
relação à confecção dos pratos, os mesmos princípios de honestidade devem ser
seguidos. Não usar ingredientes substitutos, omitindo os reais, ou servindo
itens de qualidade inferior, como se fossem de primeira. A fraude será
detectada, e o restaurante perde o prestígio, perdendo também a clientela.
A
preparação dos pratos deve também seguir critérios, visando a qualidade, os
quais serão analisados mais tarde, mas como conselho, podemos dizer já, que
cada carne e cada peixe têm a sua forma correta de ser cozinhados, e é um erro
tentar prepará-los de maneira diferente.
Nunca
se poderá grelhar, carne própria para um bom “cozido à portuguesa” ou,
vice-versa.
Nem
é aconselhável, cozer um linguado ou uma enguia, do mesmo modo que, se não
deveria nunca, assar um congro. Mais ainda, peixe para grelhar, só muito
fresco; de outro modo, existem excelentes preparações para ele.
A
CARTA
A
Ementa ou Cardápio é a pedra de toque ou cartão de visita, de todo restaurante
que se preza.
Deve
haver o maior cuidado, da parte dos responsáveis, pois a sua elaboração não é
coisa simples.
Gosto
muito de citar, a este propósito, o que vi escrito na carta de um grande hotel
alemão:
“uma
ementa é uma sinfonia; da composição da partitura, depende o resultado da
harmonia”.
Planejamento
da Carta e sua Apresentação
A
qualidade do papel, o custo da elaboração e da apresentação final, terá que
ser, sempre, compatível com a categoria do restaurante. Mas, mesmo no
restaurante mais simples, o cardápio ou a carta, deve ser, limpo e cuidado.
Vem a
propósito lembrar que, a palavra “ementa”, “cardápio” ou “menu”, é aplicada
quando se trate de uma refeição pré-escolhida, em que esta apenas serve, para
indicar aos convivas, quais os pratos, sobremesas e vinhos que serão servidos.
Chama-se
“lista” ou “carta”, a descrição dos pratos apresentada aos clientes, no
restaurante, para que estes escolham os que mais lhe agradam. Do mesmo modo se
diz, “lista, ou carta de vinhos”. Claro que um restaurante de luxo ou de
primeira, coloca muito da sua reputação na apresentação da sua carta,
apresentando-a em certos casos, com capas de couro ou outros materiais nobres.
Assim,
também a carta de um grande restaurante, reflete o tipo da clientela e, nela
intervém pratos selecionados, ou dispendiosos, como o caviar, o foie-gras, e os
mariscos, bem como o linguado e o filet mignon, além dos outros.
Conforme
a escala do restaurante vem baixando, encontraremos na carta, pratos mais
compatíveis com o gosto e as posses da clientela, até chegar ao restaurante
popular, onde são apresentados, pratos baratos e cozinha caseira.
Faremos
referência ao gosto da clientela pelo tipo de comida caseira, ou regional, o
qual se sobrepõe a outras confecções, nada tendo a ver com a classe do
estabelecimento.
As
Modernas Tendências de Alimentação
Nos
bons tempos, (1900 / belle-époque) uma ementa era composta no mínimo por 30
pratos, começando-se com os caldos e consomés e entrando depois, os peixes,
petites entrées, entrées, relevés, salades, rôtis, desserts etc.
Com
o passar dos tempos, as ementas foram sendo reduzidas e, até à década de 70, a
ementa típica era sopa, peixe, carne ou assado, sobremesa, frutas e café.
A
redução de pratos continuou, gradativa e, o que hoje se oferece normalmente,
como ementa fixa é: sopa, peixe ou carne, doce ou fruta e café.
As
pessoas passaram a comer mais racionalmente, dando menos importância à
quantidade, com maior atenção para a qualidade. Por outro lado, o tempo passou
a ter um novo valor para o indivíduo. Ninguém quer, hoje, passar muito tempo à
mesa, salvo em casos ou ocasiões especiais.
A
nova sociedade e a juventude, criaram outros hábitos de alimentação, alterando
as suas normas alimentares e adaptando-as ao ritmo do dia-a-dia. Novos tipos de
estabelecimentos surgiram, para acompanhar esta evolução e estes hábitos
alimentares: o coffee-shop; o counter coffee-shop (a que chamam
erradamente snack em Portugal) e o snack bar, que analisaremos em detalhe.
Por
outro lado, surgiram nos Estados Unidos espalhando-se rapidamente pelo mundo,
casas especializadas em novos tipos de comida; o “salad’s”, o buffet
service, o potatoes e o onions são, com o sanduíche-bar, alguns
dos novos conceitos de indústria alimentar. O fast food, tem inúmeras
aplicações e deles, não são únicos representantes os wimpy’s e os macdonald’s,
com os seus hamburguers e club sanduíche, mas também muitos pequenos
restaurantes que trabalham já com este tipo de comida pré-preparada e congelada
(frozen foods), a qual permite melhor aproveitamento de mão de obra e
não necessita de pessoal para ser servida. Basta apenas, retirar a embalagem da
câmara, colocá-la no microondas e, em 3 a 4 minutos no máximo, estará pronta a
ser servida, com excelente qualidade e apresentação.
A
Sazonalidade dos Produtos, versus Custo
Voltando
à cozinha tradicional e ao restaurante normal, tomamos consciência que um dos fatores
de êxito, é a competitividade. Já analisamos que o mercado não é elástico e a
economia é sensível.
Na
posse desta informação, vamos agora verificar como o responsável pelo cardápio
pode utilizar melhor os recursos do mercado de abastecimento.
Esta
utilização de recursos, consiste em planejar o cardápio, tendo em conta os
produtos da estação que, por serem mais abundantes, são também mais baratos.
Não vamos aqui analisar essa sazonalidade, nem tão pouco os produtos. Esse
conhecimento pode ser obtido por outros meios.
O
leitor ficará porém, de posse desta informação, valiosíssima em termos de
correlação de custos.
Os
Custos e o Controle
Analisaremos
detalhadamente o controle noutra
postagem, mas como falamos em custos e, como antes, no capítulo relativo
ao “estudo de viabilidade”, deles havíamos também falado, diremos que os custos
são vários e que quando falamos de custos em termos de cardápio, nos referimos
aos custos “primários” ou seja, custo das mercadorias, utilizadas na confecção
dos pratos.
Este
tipo de custo, não tem médias previamente estabelecidas, embora a experiência
nos indique que, entre 18 e 20% do preço da venda, é a média aceitável, para um
custo primário. No entanto, esta média pode ser menor ou mais elevada, por
decisão de gestão, se assim interessar ao negócio. E, esse interesse do
negócio, pode ser, baixar o preço para vender mais, fazendo assim maior receita
embora com custo mais elevado, ou melhorar a qualidade, com os mesmos
resultados.
Se a
receita aumentar na proporção, um
aumento de custo não exagerado, pode ser uma boa solução, pois o aumento de
receita faz baixar o rácio dos custos fixos, o que melhora a rentabilidade.
Neste caso, o controle através da análise dos resultados, serve de barómetro de
gestão.
Os
Pratos – Escolha/Repetição/Harmonia
Neste
ponto, remetê-los-ia para o meu livro “Manual de Gastronomia”, editado pela
Amazon Kindle Books, onde interessante informação é providenciada sobre este
assunto.
De
qualquer modo, para completarmos aqui a matéria que estamos tratando, diremos
que a sequência dos pratos é a mesma, tanto na “ementa ou cardápio”, como na
“lista ou carta”.
Temos
inicialmente os acepipes, (ditos antepastos no Brasil, hors d´oeuvre na
França e antipasto na Itália) depois as sopas e, em seguida, pela ordem,
os ovos, as massas, as saladas, os peixes, as carnes, os legumes, os queijos e
a sobremesa. Tal como as ementas foram sendo reduzidas com o tempo, também as
cartas atuais, tem menor número de pratos, embora bem selecionados. Deve ser
evitado, na elaboração da carta, a repetição de nomes dos pratos ou guarnições,
mantendo entre todos, uma boa harmonia, como falamos atrás.
A
Carta e a Qualidade dos Cozinheiros
Outro
dos fatores a considerar na elaboração da carta, é a capacidade dos
cozinheiros, para procederem à sua confecção. De nada adianta fazer um bonito
cardápio (ou carta) com muitos pratos e nomes pomposos, se os cozinheiros não
tiverem capacidade para confeccioná-los com qualidade, pois o resultado seria
desastroso em relação à clientela.
É
preferível analisar, com os cozinheiros, quais pratos eles sabem confeccionar
bem e elaborar a carta com base nestes pratos, para os quais teremos o sucesso
garantido.
Depois,
se reconhecermos a necessidade de incluir mais meia dúzia de pratos, para
valorizar a carta, selecionar os que em nosso entender sejam mais vendáveis e
dar aos cozinheiros, a oportunidade de um treinamento nestes pratos,
preparando-os várias vezes na nossa própria cozinha ou deslocando-os à cozinha
de um outro colega, não concorrente, onde os mesmos estejam sendo preparados
com qualidade.
As
Cozinhas Típicas e as Especialidades
Um
dos erros comuns em restauração é relacionar cozinha típica e especialidade,
quando afinal, as duas coisas podem ser distintas uma da outra. Há pratos
típicos que são especialidades, enquanto outros, não são, assim como podem
existir, especialidades culinárias que não são típicas, mas apenas fruto do
labor de determinado indivíduo ou equipe e como tal, propriedade e exclusivo de
determinado restaurante.
São
especialidades, confecções culinárias ou de pastelaria, que contenham
características próprias de originalidade e exclusividade, com alta qualidade
de elaboração e apresentação final.
São
pratos típicos (não confundir com regionais) os pratos que contêm,
características próprias, inerentes à cozinha de um país, com ou sem região
determinada.
Fazem
parte da cozinha regional, os pratos que tenham raízes predominantes em
qualquer parcela de um território, por serem tradicionalmente confeccionados e
consumidos pelos naturais dessa região, o que não quer dizer que não venham
depois, mercê da sua qualidade e popularidade adquirida, a ser servidos noutros
locais do país, ou do mundo. Não perdem porém, o seu carácter de pratos
regionais.
Isto
aconteceu, com pratos típicos de diversos países, os quais são hoje servidos
noutros continentes e capitais do mundo, sem contudo perderem a sua origem,
caso das pizzas, originárias da Itália, da bouillabaisse,
originária da França e da paella cuja origem é Espanhola. Outros ainda,
como o couscouss, típico do norte da África ou o curry (caril)
que veio da Índia. Sem falar na tortilla ou no taco Mexicano que,
não sendo uma especialidade, na minha avaliação, são pratos típicos, quem sabe
até, uma forma original de fast food, como o Baurú brasileiro e a sanduíche da
Tendinha..
Comida Típica Brasileira
Cozinha
Típica Romana
Continuaremos
numa próxima Postagem