quarta-feira, 8 de novembro de 2023

 

O Mescal e o Pulque


E o que sabemos Sobre “Tequilha”

 O México é caracterizado como o país dos agaves (também chamados magueyes), que crescem em quase todos os estados da república. Em geral, as plantas do gênero Agave são monocotiledôneas, caracterizadas por sua estrutura em roseta, longa vida útil, com reprodução que pode ser sexuada por sementes (muitas espécies florescem apenas uma vez na vida e depois morrem) ou se propagam vegetativamente pelo solo em brotos basais de nível ou bulbos aéreos. Todas as espécies de Agave são nativas do continente americano, sendo a região central do México considerada o centro de origem desta família. Essas plantas pertencem à cultura mexicana e têm sido utilizadas para diversos fins desde a antiguidade, como fonte de alimentos, remédios, bebidas, material de construção, cercas vivas, fibras, vinagre e enfeites, entre outros, e o que resta principalmente até hoje, para a elaboração de bebidas destiladas ou não. Os agaves são notáveis pelo seu alto teor de açúcares de reserva, frutíferos, que são polímeros altamente ramificados de frutose com uma molécula de glicose.

O termo genérico para as bebidas destiladas obtidas a partir de agaves é mezcal, que deriva do nahuatl mexcalli, de metl, maguey e ixca, para cozinhar ou assar, ou seja, maguey cozido ou assado; (Bowen, 2015). Em termos gerais, mezcal pode ser definido como uma bebida destilada obtida a partir da fermentação dos caules ou dos sucos dos caules de diferentes espécies de agave, previamente cozidos e triturados ou moídos (NOM-070-SCFI, 2016). Esta definição inclui todas as bebidas destiladas obtidas a partir de agaves, como Tequilla, Raicilla, Bacanora e o próprio mezcal (Álvarez-Ainza et al., 2017). Uma descrição ampla e divertida da cultura do mezcal pode ser encontrada no trabalho de Bullock (2017).

Com o tempo, a palavra mezcal evoluiu de um nome genérico para um termo mais específico usado para descrever as bebidas destiladas com agave produzidas no território protegido pela Denominação de Origem mezcal (DOM) sob a norma oficial mexicana NOM-070-SCFI- 2016 (NOM). Desde sua primeira publicação no Diário Oficial da Federação (DOF) em 1994, bem como suas alterações posteriores, o mezcal é definido como uma “bebida alcoólica destilada mexicana, 100% de maguey ou agave, obtida pela destilação de sucos fermentados com espontâneo ou microrganismos cultivados, extraídos de cabeças maduras de maguey ou de agaves cozidas, colhidas no território abrangido pelo DOM.” Para os primeiros estados integrados, todo o território pertence ao DOM. Nas ampliações posteriores, apenas alguns municípios dos novos estados foram incluídos no Território DOM no México. No caso de estados que não pertencem integralmente, é mencionado o número de municípios incluídos na denominação/número total de municípios do estado.

A mesma norma menciona que se trata de um líquido com aroma e sabor derivado das espécies de maguey ou agave utilizadas, bem como do processo de elaboração; diversificando as suas qualidades pelo tipo de solo, topografia, clima, água, produtor autorizado, mestre de mezcal, graduação alcoólica, microrganismos, entre outros fatores que definem o carácter e as sensações organolépticas produzidas por cada mezcal.

De acordo com o processo específico utilizado para cozinhar o maguey ou agave, triturar ou moer, fermentar e destilar, obtêm-se três categorias de mezcal: mezcal, Mezcal artesanal e mezcal ancestral .

 Além destas três categorias, o NOM menciona seis classes de mezcal:

·         “Blanco” ou “Joven” (mezcal incolor e translúcido que não está sujeito a qualquer processamento adicional);

·          “Madurado en Vidrio” (mezcal estabilizado em recipientes de vidro por mais de 12 meses, no subsolo ou em espaço com variações mínimas de luz, temperatura e umidade);

·         “Reposado” (mezcal que deve permanecer entre 2 e 12 meses em recipientes de madeira que garantam a sua inocuidade, sem restrição de tamanho, forma e capacidade de volume, num espaço com variações mínimas de luz, temperatura e humidade);

·         “Añejo” (mezcal que deve permanecer por mais de 12 meses em recipientes de madeira que garantam sua inocuidade, com capacidade <1.000 L, em espaço com variações mínimas de luz, temperatura e umidade);

·         “Abocado con” (mezcal que deve incorporar diretamente ingredientes para adicionar sabores, como verme maguey, damiana, limão, mel, laranja, manga, entre outros) e finalmente...

·         “Destilado con” (mezcal que deve ser destilado com ingredientes para adicionar sabores , como peito de peru ou frango, coelho, toupeira, ameixa, entre outros), nos termos do NOM.

 Embora a norma estabeleça um enquadramento legal para a produção da bebida e proporcione uma certa garantia de qualidade ao consumidor, tanto a nível nacional como internacional, é importante referir esta certificação, em parte porque é muito complexo certificar processos artesanais e, finalmente, porque o produtor não quer depender de um organismo certificador. Legalmente isto impede que estes produtores utilizem a palavra mezcal nos seus rótulos (Gallardo-Valdez, 2016), neste caso é comum ver mencionado por exemplo o termo “bebida destilada de agave” ou algumas marcas já posicionadas não mencionam nada específico. Por esta razão, é difícil ter números exatos da produção anual global de mezcal.

Os últimos anos também mostraram um aumento significativo nas exportações tanto de mezcal certificado como de produtos não certificados. Em 2020, 66,6% do mezcal certificado foi exportado para o exterior, principalmente para os Estados Unidos (73,8%), seguido por Espanha, Canadá e Austrália, entre outros. No total, o mezcal foi exportado para 72 países e, desde 2020, é interessante destacar algumas primeiras vendas na China (COMERCAM, 2020). Além deste aumento nas exportações, é importante notar que hoje existe um nicho de mercado crescente para bebidas destiladas premium de agave onde os consumidores procuram produtos artesanais com características específicas, por exemplo feitos de agaves selvagens, o que coloca uma pressão excessiva sobre as populações naturais (Martínez Jiménez et al., 2019).

Quais são os desafios da cadeia produtiva para satisfazer um aumento na demanda, sem sacrificar a tradição e a cultura relacionadas a esta icônica bebida mexicana...

Materiais e métodos

As informações analisadas foram coletadas por meio de cuidadosa revisão da literatura em diferentes bases de dados. Pesquisas bibliográficas foram realizadas para detectar o status da pesquisa sobre a sustentabilidade do processo de produção do mezcal. O período de busca foi de 1990 até ao momento. Além disso, foram coletadas pelos pesquisadores informações de relatórios técnicos, teses ou livros publicados principalmente no México e não disponíveis nas bases de dados. Várias palavras-chave ou combinações de palavras-chave foram utilizadas para a busca: [(1) mezcal, (2) mezcal e agave, (3) mezcal e sustentabilidade, (4) mezcal e social, (5) sustentabilidade e produtos artesanais, (6) sustentabilidade e artesanato, e produto].

A análise da informação encontrada mostra que os dados disponíveis são muito escassos e poucos artigos abordam a questão da sustentabilidade da produção de mezcal como tal.

 “Toda tequilla[i] é mezcal, mas nem todo mezcal é tequilla.” É uma afirmação muito comentada e, em espírito, verdadeira: mezcal é qualquer licor destilado de agave, uma planta suculenta nativa das Américas, e “tequilha” é feita com a espécie de agave azul Weber.

Mas para o bebedor médio, é compreensivelmente confuso quando uma copita de mezcal herbáceo, esfumaçado e terroso tem um sabor significativamente diferente da tequilha que você bebe há anos. Nas lojas de bebidas e nos cardápios de coquetéis, a distinção entre os dois é complicada pelas regras vigentes no México que determinam como as bebidas destiladas de agave podem ser rotuladas. Para complicar ainda mais as coisas, anos de colheita excessiva levaram a muitos atalhos na indústria da tequilla, como cozinhar o agave em autoclaves industriais, o que significa que a tequila que provavelmente verá nas prateleiras hoje pode não ser fiel ao espírito do mezcal tradicional.

E será bom aproveitar o espaço para também saber, que do coração do agave que os nativos chamam “piña” (pinha) também é produzido um vinho razoável. Após cerca de um mês, este “coração” é escavado e, a partir daí, durante até seis meses, serão retirados quatro litros diários de aguamiel. Esse líquido será fermentado em barris de madeira e terá um teor alcoólico similar ao de uma cerveja.

 


Estes são os princípios básicos que você deve saber ao escolher tequilla em vez de mezcal.

 

Quais são as principais diferenças entre Tequilla e Mezcal?

A tequilla só pode ser produzida com a planta agave Weber azul, enquanto o mezcal pode ser feito legalmente com mais de 40 espécies de agave, incluindo espadín, tobalá e tepeztate. Embora ambas as bebidas espirituosas sejam destiladas a partir dos açúcares das piñas de agave, ou corações, as piñas são cozidas no vapor em fornos acima do solo para produzir tequilla e assadas.

Para fazer mezcal são usados poços forrados de pedra ou forno a lenha, o que explica o sabor defumado e saboroso deste último. Além dessas diferenças importantes, as bebidas espirituosas rotuladas como mezcal e tequilla são mais frequentemente produzidas em diferentes regiões do México: embora haja alguma sobreposição, a maior parte do mezcal é produzida no estado de Oaxaca, enquanto a maior parte da tequilla é produzida no estado de Jalisco. Além do mais, a popularidade da tequilla levou a uma industrialização da bebida espirituosa que é menos provável de encontrar em bebidas espirituosas rotuladas como mezcal.

 História da tequilla e do mezcal

Muito antes da chegada dos espanhóis, os povos da região central do atual México já consumiam o pulque, uma bebida fermentada (não destilada) produzida a partir da seiva do maguey, que apesar da aparência não é um cacto, mas sim da família dos agaves.  Nesses tempos pré-coloniais, o pulque tinha status sagrado. Era oferenda aos deuses, consumido por sacerdotes em rituais e era considerado a cura para doenças como diabetes e insônia. Foi também um importante componente da alimentação de diversas populações indígenas, graças ao seu alto valor nutricional que ajudava a evitar a desnutrição em áreas áridas e que sofriam com a escassez de alimentos. Foi usado como analgésico, afrodisíaco e como uma forma de aumentar a lactação em gestantes.

Nos anos 1500, os colonos espanhóis introduziram processos de destilação aos que os nativos indígenas usavam para o agave, planta sagrada na cultura asteca, tendo originado o mezcal. Na cidade de Tequilla, em Jalisco, os moradores preparavam seu próprio mezcal com espécies locais de agave.

Foi aqui que a família Cuervo criou a primeira tequilla [ii]comercial, então chamada de vino de mezcal de tequilla, em 1758. Don Cenobio Sauza o seguiu em 1873, e ele é conhecido como o Pai da Tequilla por um bom motivo: ele introduziu o forno vapor como forma de cozinhar piñas de agave, diferenciando o processo de cozimento dos fornos a lenha do mezcal. Ele também destacou a espécie de agave Weber azul, ou agave tequillana, para a produção de tequilla (o naturalista alemão Franz Weber classificou a planta pela primeira vez na virada do século XX, dando à espécie o seu nome comum). E em 1893 tornou-se o primeiro produtor a exportar tequilla para os Estados Unidos. Os americanos desenvolveram uma sede ainda maior pela bebida durante a Lei Seca, quando contrabandeavam a bebida do México.

Até 1974, a tequilla era coloquialmente chamada de vino de mezcal de tequilla. Naquela época, o governo mexicano declarou a palavra “tequilla” propriedade intelectual do México para evitar que outros países produzissem garrafas com o rótulo. O Consejo Regulador del Tequilla (CRT) também foi estabelecido, limitando a produção de tequilla a Jalisco e partes de outros cinco estados. Com os regulamentos em vigor, a bebida logo foi chamada simplesmente de “tequilla”. Mais tarde, o Mezcal recebeu sua própria Denominação de Origem em 1994 e hoje pode ser produzido legalmente em nove estados. A produção de mezcal, incluindo tequilla, remonta assim a algumas centenas de anos. Mas só no final do século XX é que as suas Denominações de Origem foram definidas, colocando limites geográficos ao que pode ser legalmente chamado de tequilla “tequilhae mezcal. Não temos o direito de interferir em denominações de Origem, para simplificar e sobretudo no que é aceite como “palavra intelectual”. Nós somos profissionais. Devemos manter a nossa dignidade e a dos outros.


     O Pulque

Como são feitos a tequilla e o mezcal?

Tequilla e mezcal são feitos com corações, ou piñas, da planta agave, assim chamada porque lembram o abacaxi. As folhas da planta são retiradas e depois as piñas são cozidas e esmagadas.

A principal diferença é como as piñas são cozidas: para o mezcal: elas são assadas em covas forradas de pedra no forno a lenha, o que transmite as características defumadas que muitos associam à bebida espirituosa. Para a tequilla, elas são tradicionalmente cozidas no vapor em fornos de tijolos acima do solo. As autoclaves, essencialmente panelas de pressão industrializadas, são uma alternativa contemporânea. E agora, alguns grandes produtores empregam difusores como atalho, de forma controversa, que muitos especialistas em agave comparam a um micro-ondas. Após o cozimento, as piñas são esmagadas para extrair o suco, e o líquido (ou uma mistura de líquido e fibras, no caso dos mezcals) fermenta em recipientes abertos, na maioria das vezes com fermento aerotransportado para mezcal e fermento comercial para tequilla. O processo de destilação é quase idêntico para ambos, embora varie de acordo com a industrialização da bebida: o líquido pode ser destilado duas vezes em uma panela de cobre ou barro ou em um alambique de coluna contínua.

Onde são feitos a tequilla e o mezcal?

A resposta é curta: a maior parte do mezcal é feita em Oaxaca e a maior parte da tequilla é feita em Jalisco – até 90% de ambas as bebidas espirituosas. Mas as suas Denominações de Origem vão além destes dois estados.

O Mezcal pode ser feito legalmente nos estados de Oaxaca, Durango, Guanajuato, Guerrero, Michoacán, Puebla, San Luís Potosí, Tamaulipas e Zacatecas.

A tequilla, por sua vez, pode ser produzida legalmente em Jalisco e em partes de Guanajuato, Michoacán, Nayarit e Tamaulipas.


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[i] Quando aprendi espanhol, os dois L eram vocalizados como ‘lh’, mas com o andar dos tempos, mesmo na Espanha, dependendo das regiões, estão sendo usadas expressões vocais que vieram das ex-colónias de ‘ll’ como ‘y’, ’j’, ’sh’, etc., o que dá ‘pojo’ ou ‘poyo’ para frango, e ‘juvia’ ou ‘yuvia’ para chuva. E está ficando comum, escrever tequila só com um L.

Para mim no entanto, que sou um tradicionalista, e profissional honesto, o “lh” será sempre válido. E se gostarmos de traduzir para o nosso idioma, deveremos manter a caraterística inicial do nome e chamar-lhe “tequilha”, pois não gostaríamos de ver os espanhóis chamar “cajaza’ à nossa bebida tradicional, ou os portugueses “vinho de Oporto” à sua, nem desonestamente modificar uma palavra classificada como “propriedade intelectual” de um p

[ii] Qual a origem da palavra tequilla?

A palavra “tequilla” significa “montanha de fogo”, e deu esse nome à bebida Feita de Agave-Azul, devido aos índios Tequilis que habitavam a região de Tequilla, no México, próximos de um vulcão. A Agave-Azul demora de oito a 12 anos para estar pronta para a extração de cerca de um litro da bebida. O solo vulcânico vermelho da região da cidade de Tequilla, no estado mexicano de Jalisco, é o mais propício ao crescimento do Agave-Azul. Cerca de 300 milhões de plantas são colhidas todo ano. A planta cresce de formas diferentes em cada região. As Agaves-Azuis plantadas em áreas altas são maiores e mais doces em aromas e sabor. As plantadas em áreas mais baixas possuem sabor e fragrância mais herbáceos. A planta não foi utilizada inicialmente para a produção de tequila. Antes disso, as folhas eram utilizadas na construção de telhados, produção de cordas, agulhas, alfinetes e até pregos. Foi apenas a partir do século XVI que os habitantes da região de origem espanhola descobriram que era possível fazer bebida com a planta.

 

Na lenda asteca, conta-se que Mayahuel, deusa da fertilidade, deu origem ao Agave. Ela seria mãe de um grupo de 400 coelhos divinos e, um dia, ao enxotar os bichos que se alimentavam de uma plantação, notou que um deles não corria, mas saltava em volta de uma planta. Mayahuel então cortou um pedaço do agave e deixou descansar. Após a fermentação, o pedaço se tornou uma variação da “tequilha”. (O que posso fazer? Manter a minha versão ou dizer Tequila como os outros?)

Eu sou tradicionalista e neto de uma Castillana, vamos manter os ”ll”, como “lh” e tentar salvar o “castelhano”, que hoje chamam de espanhol. Assim traduzirei para “tequilha”, ou direi tequilla, mas com dois L. Vamos ajudar o México e ser honestos.

 

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