COMO GERENCIAR UM RESTAURANTE- 3
O CONTROLE
Controle
é como palavra, o aportuguesamento da palavra francesa control, a qual
significa: verificar, conduzir, conferir, fiscalizar, etc. Não veio pois
adicionar nada, ao já vasto número de expressões portuguesas para significar o
mesmo.
De
qualquer modo, em hotelaria convencionou-se chamar controle, ao departamento e
ao sistema através do qual se faz a verificação, conferência
e fiscalização das compras, das vendas, do estoque, etc.
Existem,
muitas e variadas formas de controle, podendo ainda muitas mais ser inventadas
se necessário, tendo em conta porém, que nenhuma forma de controlo será 100%
efetiva e que ela não deve ser mais custosa, do que as perdas que se propõe
evitar.
Tem-se
feito sobre o controle uma tão grande polémica, que ele tem para os
responsáveis uma imagem que convém desmistificar.
É
fora de dúvida que todos os movimentos atrás indicados devem ser acompanhados,
mas isso já é função da contabilidade, se bem montada. Por outro lado, se
controle é supervisão, a atitude dos chefes ao minimizarem os prejuízos e os
esbanjamentos nas suas secções, já são atitudes de controle.
Diremos
enfim, que qualquer sistema de controle é coisa muito simples, que se resume em
fazer o acompanhamento de tudo o que se consome, desde que é solicitado ao
fornecedor, até ser vendido ao cliente e, de tudo o que se recebe em troca das
vendas: dinheiro, cheques, cartões de crédito, etc., até ao seu depósito no
banco, em conta da empresa. A emissão de cheques a partir daí, obedecerá às
normas estatutárias da própria empresa, que estabelecerão o número de
assinaturas necessárias.
E
como acabamos de expor é tudo muito simples! Mas precisa ser feito! E, ser bem
feito!
Não
pretendemos esgotar o assunto, mas não poderemos tão pouco terminá-lo assim,
pelo que falaremos um pouco mais, sobre controle.
As
variações entre previsões e resultados, tem muitas causas. Nenhuma porém é tão
difícil de evitar, como as que são devidas às fraquezas e tentações humanas. Os
produtos em uso na hotelaria e sobretudo na restauração, são os de maior apelo
a essas fraquezas. A comida, as bebidas e o dinheiro, são de uma maneira geral,
ou úteis ou facilmente convertíveis, o que as torna propensas a desaparecer.
Podemos também incluir neste grupo, os utensílios de porcelana e os talheres.
E
não pensemos que a necessidade de manter esses itens sob vigilância, tem a sua
origem no pessoal ou que só deva incluir este. Duma maneira geral, o cliente de
hotel também é, nesse aspecto, uma dor
de cabeça, pois começa com o inocente desejo de completar uma colecção, mas
acaba muitas vezes, sobretudo em hotéis, por atingir artigos de alto custo,
como: toalhas, bules, copos, e quem sabe, televisores e aparelhos de ar
condicionado, passando pelos quadros e outros objetos de parede.
O
controle interno é tão velho como a própria contabilidade, como atrás dissemos.
Controle, no sentido de proteger o imobilizado, tem sido uma tarefa cumprida há
bem mais longo tempo, do que no significado que agora lhe atribuímos.
Proteger
o imobilizado, significa desenvolver sistemas que permitam acompanhar em
pormenor, tudo o que nele se insere, de forma a detectar e reduzir as faltas a
um mínimo, visto que proteção total seria impossível e custosa.
Em
controle, devemos sempre jogar no fato psicológico de que a existência de um
sistema é, por si própria, um dissuasor. Isto é muito importante, pois a
principal finalidade do controle é dissuadir qualquer tentação.
O
controle interno é precioso auxiliar do gerente ou do diretor, pois a este é
fisicamente impossível estar em todos os lugares, todo o tempo, verificando
cada passo das operações.
Um
bom controle aplica uma série de técnicas já testadas, nos pontos críticos, com
uma boa sequência de ações, que terminarão na transação com o cliente.
Esses
pontos chaves são pela ordem:
• Ordem de Compra
• Recebimento de mercadorias
• Requisição dos sectores
• Pedido à secção manipuladora
• Cobrança ao cliente
• Conferência de caixas
Esta
é uma das várias possíveis sequências no negócio,
mas não pensemos que tudo se resume nisso. Todos os pontos devem ser vigiados,
embora alguns mais do que outros. As folhas de salários e o controle de horas
extras; a forma como são utilizados os aproveitamentos e os desperdícios;
descontos; vasilhame; desembolsos; etc. são, outros tantos pontos onde uma boa
verificação evitará dissabores.
Na
maior parte dos casos, sobretudo quando o controle está bem organizado, a
prevenção do prejuízo não é muito custosa e deve sempre ter em linha de conta,
que poupar ou evitar perder ou desperdiçar o que já está ganho, é sempre mais
fácil do que tentar ganhar de novo.
Para
um estabelecimento, operando a um lucro final de 10%, desperdiçar 1.000,00 reais,
obriga a um esforço de vendas de 10.000,00,
ou vice-versa.
Assim,
o controle pode não estar positivamente instalado para prevenir roubo, pois
desperdício ou perdas por negligência, também dão, ao estabelecimento, os
mesmos prejuízos.
Operações
de Controle
Erros
ou fraude, podem ser por vezes descobertos, pelo simples processo de colocar
provisoriamente um empregado novo no lugar, seja em substituição seja como
complemento, ainda que pouco tenha que fazer. Outro exemplo: toda a
correspondência é aberta pela secretária do gerente, mas os cheques só são
entregues à tesouraria, depois de registrados num mapa, que passará a fazer
parte dos registros diários obrigatórios, do estabelecimento. Periodicamente, o
diretor pode confrontar esse mapa com as folhas de caixa e estas, com os depósitos
em banco.
Mudança
de horários, é outra medida simples de segurança. Grandes variações nas vendas
efetuadas pela anterior equipe e pela atual, podem ser dignas de atenção.
Medidas simples e aparentemente sem custo para a empresa, podem conduzir a um
efetivo controle das receitas. Do mesmo modo, deve ser evitada a perda de tempo
com o controle dos pequenos erros, que às vezes não são intencionais, enquanto
na compra e entrega de mercadorias, por exemplo, se perde 20 ou 30 vezes mais.
Dissemos
que novos sistemas de controle poderiam ser criados se servissem o fim em
vista.
Deve
haver porém o maior cuidado, em não criar sistemas que apenas consomem mão de
obra. Conheço o caso de um Hotel que tinha um sistema completo de assinaturas
para controlar os pedidos, passados pelos garçons, bem como um excelente
confronto, dos originais com os duplicados. Mas, durante vários anos, o
encarregado por esse serviço, nunca se preocupou em alertar, para a grande
quantidade de pedidos desaparecidos num mesmo período. Assim, um sistema que
parecia perfeito, pode ter dado azo a inúmeras fraudes, que nunca foram detectadas
e talvez continue funcionando e sendo tido como bom.
Depois
de toda a matéria apresentada, voltamos ao orçamento e à previsão que já
analisamos antes. Eles continuam a ser, ainda, o grande instrumento de controle
de que dispõe qualquer gestor, desde que sejam capaz e eficientemente
elaborados. Qualquer discrepância deve ser estudada em pormenor e as razões,
analisadas. Este escrutínio, vai forçosamente conduzir à descoberta de pontos
fracos, erros intencionais ou propositados e, esquecimentos.
São
duas, as tendências normalmente usadas em controle.
A
primeira é o controle de procedimentos, misto de organização e contabilidade.
Estabelecendo o fluxo ou sequência de determinada transação; a gerência aplica
a regra mestra de controlo, “divisão de responsabilidades”. Duas pessoas,
complementando o trabalho uma da outra.
O
controle através dos números, com estatísticas e rácios, é o segundo método. A
informação é retirada de diferentes fontes e comparada de diversas maneiras,
para explorar diferenças sem explicação, as quais depois de detectadas são por
sua vez analisadas.
Esta
última técnica, pode chamar-se “correlação de informações” e será por nós
analisada mais adiante, em “novas formas de controle”.
As
duas técnicas apresentadas, fazem do controle uma arma efetiva da contabilidade
e esta, uma arma efetiva, para a defesa da gestão.
Mas,
para fazer depois o controle desses documentos, a análise não pode ser tão
superficial.
Nem
pode ser superficial, a decisão que entrega o controle a qualquer pessoa, ou à
mesma pessoa, permanentemente. Peculato não é só tentação, mas sim, a união de
tentação e oportunidade.
Será
pois uma decisão pouco apropriada, deixar que um empregado de confiança fique
submetido à tentação, por culpa apenas do responsável. Minimizar as
possibilidades dessa tentação é possível, através de uma partilha de
responsabilidades. Ou seja, uma divisão do trabalho, em que uma pessoa termina
o que é começado por outra, numa cadeia ininterrupta.
O
sistema de controle sai fortificado e a oportunidade de lesão ao património da
empresa, minimizada.
Os
exemplos seguintes, indicam algumas das práticas usualmente seguidas, para
efeito de controle interno:
-
Todas as receitas do dia, devem ser depositadas intactas.
- As
faturas da mercadoria recebida, devem ser conferidas por outra pessoa, que não
tenha feito a encomenda, nem vá guardar essa mercadoria.
- Os
inventários mensais dos estoques, devem ser feitos por alguém estranho a
secção.
- O
relatório diário da governanta (num hotel), deve ser confrontado com a lista
dos quartos ocupados.
- A
folha de pagamentos, deve ser conferida, por quem não tenha feito os cálculos,
ou preparado os cheques. (o recurso ao
pagamento através do banco é hoje muito usado).
- Os
extratos bancários, devem ser reconciliados por pessoa alheia aos registros
pertinentes aos bancos.
- A
leitura do movimento das caixas dos sectores, deve ser feita por alguém alheio
ao movimento do caixa.
-
Todos os caixas devem ter um fundo fixo, o qual será controlado, pelo menos,
semanalmente.
-
Todos os cheques de pagamentos, devem ter no mínimo duas assinaturas.
Apesar
de tudo o que dizemos sobre o controle, temos que reconhecer ser difícil,
sobretudo em pequenas unidades, conseguir a divisão das responsabilidades,
apontada.
Neste
caso, é de toda conveniência, poder contar com um serviço de auditoria externa,
entregue a uma empresa de confiança.
Uma
verificação, direta e independente, dos livros de devedores e credores;
balanços bancários; fundos de maneio; fundos de caixa; inventários; bem como os
testes aos vários sectores de caixa e o funcionamento dos registros de
contabilidade, são os pontos onde esta auditoria deverá incidir, independente
de outros lugares necessários.
Nasceu
assim, o rácio (ou percentagem), elemento que modificou, também, as técnicas de
gestão, dinamizando o processo de obtenção de resultados. Comparações
inteligentes e úteis são possíveis, pela utilização coerente das estatísticas e
dos rácios, sob condição de que sejam confiáveis. E ao dizer-se que sejam
confiáveis, já estamos imediatamente pressupondo, que não há nada perfeito sobre
a terra.
Claro!
Os rácios e as estatísticas, podem ser manipulados, mal analisados, ou
simplesmente mal preparados, o que os torna, inutilizáveis ou ineficazes.
A
escolha de quem vai ocupar-se da elaboração desta informação é portanto vital,
visto que ela joga um papel preponderante, na exploração do negócio.
Tal
como o computador, as estatísticas e os rácios podem ser valiosos, ou
completamente inúteis.
Tudo
depende, de quem os manuseia!
Continuaremos
numa próxima Postagem
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