segunda-feira, 14 de março de 2022

 



O Restaurante

Pressupostos para a montagem de um empreendimento

 

ESTUDO DE VIABILIDADE

Chama-se estudo de viabilidade todo o processo que antecede à tomada de decisão para pôr em marcha um empreendimento.

O primeiro acto de um estudo de viabilidade é a avaliação do mercado.

Com essa finalidade, efectua-se um estudo de mercado na área onde se pretende implantar o empreendimento, trabalho que se aconselha que seja feito por uma empresa especializada. Existem escritóros preparados para este trabalho, que já possuem nos seus arquivos muita da informação pertinente, ou têm os contactos necessários para obter a que faltar, bem como os acessos às entidades oficiais que normalmente intervêm no processo.

Os passos, ou procedimentos iniciais serão mais simples ou mais elaborados, conforme o tipo de estabelecimento que se pretende montar e o valor que se pretende investir.

Em qualquer dos casos, e porque é sempre bom ter uma noção daquilo que nos propomos fazer, vamos analisar, de forma sucinta, os elementos que basicamente devem ser considerados, para um estudo de mercado.

(No nosso caso, um restaurante ou bar, mas que podem ser aplicados a outro tipo de empreendimento).

 CARACTERIZAÇÃO DA ZONA E LOCALIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO

 

Localização

-  Tipo de área ou local (conhecido, desconhecido ou pouco conhecido).

-  Acessos (trânsito fácil, ou difícil, estacionamento).

-  Saneamento Básico.

-  Abastecimentos.

-  Planos regionais ou governamentais para a área.

-  Pólos de interesse nas vizinhanças.

-  Outros de interesse a analisar.

 

Tipo da eventual clientela

-  Turistas.

-  Homens de negócios .

-  Famílias

-  Outros.

-  Quais os factores que determinam a análise final dos itens anteriores.

 

Análise da oferta existente

-  Número e características dos estabelecimentos Similares existentes.

-  Apreciação do tipo e qualidade dos serviços prestados.

-  Quais os preços praticados.

-  Qual a promoção e publicidade que têm feito.

-  Receitas aproximadas (média por cliente).

-  Qual a rentabilidade verificada.

-  Problemas verificados na exploração (pessoal, abastecimentos, outros).

 

Perspectivas de evolução da oferta e da procura

-  Factores que tenham condicionado a procura.

-  Evolução previsível.

-  Identificação de outros projectos para a área (novos ou de expansão dos existentes).

-  Quais os projectos ou decisões que podem influir nessa evolução.

-  Quais os segmentos de mercado ainda não trabalhados.

 

Conclusões finais, a partir das pesquisas anteriores, com uma idéia do tipo de estabelecimento mais aconselhável para o local.

Se o estudo de mercado determinar que o projeto é viável, o passo seguinte será o estudo da viabilidade, em si próprio. Ele vai estimar o investimento necessário e avaliar a sua rentabilidade. Quer se tenha de construir o edifício desde as fundações, quer se tenha de adaptar um imóvel alugado, os cuidados devem ser os mesmos antes de partir para um investimento, pois é sempre uma decisão de certo risco. 

Ainda que se trate apenas de adquirir um estabelecimento já em funcionamento, todos os pontos devem ser analisados: neste caso, até a análise da contabilidade dos últimos anos deve ser incluída no estudo prévio, de que atrás falámos.

Como todo este trabalho custa dinheiro, devemos a esta altura, ter já idéia se vale a pena ou não avançar com o projecto. Se no nosso espírito, surgirem dúvidas, podemos fazer uma avaliação, ainda que empírica, dos prováveis custos e receitas, visto que o resultado deste binómio é que vai,  no futuro, pagar os encargos contraídos.

Uma avaliação, ainda que superficial, do custo da obra, pode também ajudar neste momento: projecto de arquitetura ou decoração (ou ambos).

 

·      Equipamentos,

·      Móveis,

·      Utensílios, etc.

 

Se o resultado for positivo, a fase seguinte é: estudo da viabilidade final.

 

Descrição do Estabelecimento

 -  Áreas de cozinhas, salas, copas, vestiários, etc.

-  Equipamento a utilizar.

-  Pessoal.

-  Mobiliário e decorações finais.

Estudo do mercado (que já vimos atrás)

 

Tipo de organização e forma de gestão

 -  Quanto ao pessoal

-  Tipo de gestão (pelo próprio; próprio com um gerente ou director; próprio com assessoria externa; exploração por terceiros; gestão associada com terceiros, etc.; em qualquer dos casos, devem ser previstos os custos e os resultados do tipo escolhido).

 

Investimento

(descriminação por tipo de despesas)

 -  Preparação do terreno e construção (ou obras de adaptação se já estiver construído).

- Instalações eléctricas ou mecânicas (rede eléctrica, água, gás, telefones, ar condicionado).

-  Mobiliário e decoração.

- Equipamentos (cozinha, copas, refrigeração, etc.) não esquecendo o equipamento de  escritório.

-  Custos do projecto e da fiscalização da obra.

-  Despesas de pré-inauguração (pessoal pré-contratado, campanhas de promoção, despesas de primeiro estabelecimento).

-  Capital circulante.

-  Juros e encargos bancários (se houver financiamentos).

Cálculo de rentabilidade

Neste parágrafo, serão incluídas todas as análises previamente feitas sobre previsões de custos e de vendas, mas agora com mais apuro e cuidado.

Devem ser estabelecidas as contas provisionais de exploração, pelo que será de todo o interesse poder contar já com o plano de contas que vai ser utilizado na exploração.

 - Previsão de receitas por sector (comidas/bebidas/outros) tendo em conta a sazonalidade se houver

- Salários e encargos sociais (por secções)

- Indicadores para o cálculo de custos sobre a receita, tendo em conta o que dissemos acima, em “Previsão de receitas”

- Consumos Previsíveis, de água e energia; seguros; taxas de amortização; contribuições e impostos; comissões sobre as vendas; despesas de promoção e publicidade (normalmente atribui-se uma % sobre as vendas).

 CONTAS PREVISIONAIS DE EXPLORAÇÃO

Partindo do material indicado no item anterior, obtém-se um mapa ou balancete final que é de grande auxilio para a análise do cálculo da rentabilidade do empre- endimento e, também, do fluxo de caixa (cash-flow), bem como dos fundos líquidos gerados pelo negócio no futuro.

As contas de exploração são apresentadas globalmente; no entanto, é aconselhável que, para efeitos de gestão, se faça o que chamamos de “contabilidade analítica”, ou seja, análise por secções, das receitas e despesas, com detalhe dos vários itens de consumo. Este tipo de análise facilita a detecção de gastos excessivos ou de desperdícios e ajuda, também, quando for necessário elaborar novos preços.

 Uma conta de exploração engloba:

+ receitas (alimentação + bebidas + outras).

- despesas variáveis (mercadoria, água, energia, salários).

-  despesas fixas (seguros, encargos financeiros, amortizações e aluguer).

= lucro de gestão.

- impostos.

= lucro final da exploração (ou líquido de impostos)

 Análise de Sensibilidade

 Chama-se “sensibilidade” às reações do negócio perante as dificuldades que se vão apresentando e que originam diferenças de rentabilidade do empreendimento em relação às bases de cálculo dos lucros e custos iniciais. Um empreendimento é tanto mais sensível, quanto menos consegue reagir positivamente para enfrentar essas dificuldades. Os pontos a ter em conta são: as variações de clientela que podem ser devidas a múltiplos factores e influem sempre na receita. As variações de custo que podem ser causadas por aumento de preço dos produtos ou má compra. Por exemplo: legumes, no Inverno, frutos, no Verão, falta de pesquisa de mercado, etc. Os custos fixos que são exagerados em relação ao movimento total do negócio.[1]

O restaurante é um negócio de economia muito sensível que requer atenção aos mínimos detalhes para bons resultados da exploração.

ORÇAMENTO DE TESOURARIA

Plano Financeiro

 Um orçamento de tesouraria elabora-se através das previsões de receitas, tendo em conta, também, os pagamentos previsíveis; estes devem ser escalonados de forma a não coincidirem, evitando complicações por falta de um fluxo de caixa correspondente. Assim, aos fornecedores, devem ser marcadas datas para as quais não estejam previstos pagamentos de impostos ou salários e vice-versa, de forma a que o bom nome da firma não venha a sofrer as conseqüências de uma má programação.

 Os pagamentos normais, de uma unidade, são:

Em datas a escalonar com os anteriores

 
Fornecedores.

Outros pagamentos.

O plano financeiro estabelece a aplicação dos fundos próprios da empresa, ou seja, lucros do negócio, capital e financiamentos (se houver), com descrição programada, dessa aplicação, que tanto pode ser em novos empreendimentos, como reembolso de financiamentos anteriores a vencer.

As informações dadas devem ter esclarecido, sucintamente, o assunto que nos propusemos tratar.

Mas, como nunca é de mais conhecer os pormenores, daremos, ainda, alguns conselhos adicionais sobre este assunto.

No caso de construção nova, é bom ter em conta ao comprar e, ao construir:

-  Média do metro quadrado de terreno, na área escolhida.

-  Média do metro quadrado de construção, na mesma área.

 

Em equipamentos, o mais barato sai sempre mais caro; escolher o melhor e procurar quem o venda mais barato.

O mobiliário e a decoração são itens que tendem a passar de moda, a menos que se opte por um estilo rústico ou clássico. Ao escolher o tipo de decoração, deve ser analisado o ponto indicado e, se a decisão for mobiliário e decoração modernos, escolher razoável mas não muito caro, tendo em conta que dentro de cinco ou seis anos, deve ser trocado pois ficará desactualizado.

 

O Que se Espera do Empreendimento e a Que Clientela se Destina

 

A resposta a esta questão está implícita no texto anterior, pois o estudo de mercado faz, simultaneamente, uma análise da clientela e, a menos que ele reflita a tendência para dois tipos de clientela com a mesma capacidade de garantir o êxito do negócio, obrigando o responsável a ter que optar, o mais sensato será seguir as conclusões do estudo, ainda que não sejam as que mais nos satisfariam. Se esta decisão for demasiado traumatizante, resta ainda a hipótese de pensar noutro local, onde a clientela se ajuste melhor ao tipo de empreendimento que havíamos idealizado.

Não é sensato impor decisões contra a corrente neste tipo de negócio, pois só muito raramente se consegue que elas tenham sucesso e, mesmo assim, à custa de grande investimento publicitário.

Um restaurante não é uma boîte, que as pessoas procuram. Procurar um restaurante, só em certos casos de “griffe” como atrás falámos.

As necessidades de determinada comunidade em relação aos serviços de comidas e bebidas são difíceis de determinar, pois podem ter em conta apenas os residentes na área ou contarem, também, com uma percentagem de visitantes de outras cidades, ou de outras áreas da cidade.

Para determinar essas necessidades, devem ser visitados os concorrentes da área e analisada a sua actividade.

Com uma lista pré-elaborada das firmas principais, clubes e associações das redondezas, pode fazer-se, também, um número de visitas a estas entidades, para avaliar a forma como estão a efectuar, no momento, as suas reuniões ou banquetes, com que frequência ou grau de satisfação e se essa freqüência pode aumentar com a presença de uma nova unidade.

Se existem na área, fábricas ou escritórios de negócios, a sua presença não deve ser negligenciada, pois esse tipo de empresa tem, normalmente, muitos visitantes do exterior (o que não quer dizer estrangeiros), que podem, eventualmente, ser incluídos na lista dos prováveis clientes.

 

O EQUIPAMENTO VERSUS SERVIÇO PRETENDIDO

 

Ao seleccionar o equipamento, deve ter-se já uma idéia exacta do tipo de serviço que se pretende e da carta que vai ser usada, pois cada tipo de serviço e cada tipo de carta pressupõem o correspondente equipamento.

Em linguagem simbólica, diremos que, ninguém faz uma embalagem antes de conhecer o produto pois é em função deste que se estuda a embalagem, a qual reforçará a sua aceitação junto ao público.

A cozinha e o seu equipamento são comparáveis à embalagem, visto que o produto, neste caso, é a Carta. É esta que será apresentada ao público e é esta, portanto, que importa estabelecer ou, pelo menos, idealizar, para que todo o investimento em equipamento seja coordenado. Devemos ter em linha de conta que a cozinha deve ser o mais funcional possível e que não é o exagero de equipamentos que a torna mais funcional. A cozinha-laboratório será sem dúvida excelente para mostrar nos casos de visitas às instalações, mas terá resultado prático duvidoso, com máquinas e aparelhos em excesso, sobretudo num restaurante “à la carte”, onde as porções são individuais e se necessita mudar de utensílio a cada vez que se inicia a preparação de um novo prato.



[1] Custos fixos, como iremos exemplificar noutra parte do trabalho, são aqueles que se originam sem interferência do volume dos clientes, pois fazem parte do próprio negócio. A água, a electricidade, o telefone, os impostos, os salários do pessoal, etc.

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