PADRÃO e qualidade de serviços
Extrato do
meu livro “Introdução à Hotelaria” editado pela Amazon em Kindle
Books, em papel com capas de cartolina e enviado pelo correio.
Use também
o meu Blog Falar de Hotelaria: https://albanomarques.blogspot.com
A qualidade do produto é um item basico e
constitui a estrutura em que assenta a sobrevivência de qualquerempreendimento.
Sem ela, as finanças deterioram-se; sem um produto de qualidade não há empresa, e não haverá negócio em hotelaria.
Devemos pois encarar a qualidade como algo necessário, que é da
responsabilidade de todos num hotel.
Ao referir a qualidade e a sua gestão,
devemos evitar a expressão “controlo de qualidade”. De preferência, deve-se
dizer “gestão da qualidade”.
A qualidade é algo que se cria e se mantém.
Não se pode pensar em qualidade, apenas verificando e corrigindo erros através
de inspecções. Devem-se criar estruturas que permitam que os erros não
aconteçam.
A qualidade
vem da certeza de que cada um desempenha as suas tarefas correctamente e de
forma uniforme, de cada vez que deva executá-las. A qualidade significa consistência de execução.
Os clientes voltam sempre a um local
onde a execução é
consistente, (com igual
eficiência a todos os momentos, sem altos nem baixos).
Não há quem
não deseje ver as suas expectativas preenchidas em qualquer momento, sem
surpresas desagradáveis. Quando isto não acontece, e o cliente tem de discutir
ou argumentar para ter o que deseja, ele parte para outro
lugar, onde obtenha o que pretende com mais objectividade.
A qualidade apresenta-se, assim, como um acordo aos padrões e o padrão aparece,
portanto, como o passo básico para a qualidade.
PADRÃO
O
que é um Padrão?
Na linha do
que muitos defendem, os padrões são níveis de execução
desejáveis. Embora não
sejam o único meio, são o alicerce do grande edifício da qualidade
Quando se
estabelece um padrão, este torna-se uma obrigação e deve ser atingido
todas as vezes que a tarefa for executada. Por quem quer que vá executá-la.
Todos a usar de igual modo o mesmo critério, o mesmo
padrão. Proceder de modo diferente, é fazer do padrão algo sem efeito ou desnecessário.
Se
tivermos como padrão dar
aos nossos hóspedes um quarto limpo, arrumado, com determinado tipo de roupas e utensílios, colocados em
lugares determinados, com uma apresentação escolhida, e equipamentos
funcionando corretamente, é assim que ele deve ser entregue de cada vez que for
usado – e o mesmo deverá suceder para todos os outros
serviços. Caso contrário, o padrão não servirá para nada.
Os padrões, são níveis de execução
estabelecidos.
Por vezes,
o cliente é acordado no horário que definiu, outras vezes não. Algumas vezes, a
recepção tem anotação das reservas, outras vezes não. O ar condicionado dos quartos
funciona, outras vezes não. O resultado de padrões que são cumpridos segundo a
vontade de cada um, é que o cliente não retorna. E este resultado prejudica a todos que dependem
do hotel para a sua sobrevivência.
A elaboração dos Padrões de Serviço deve ser
elaborada em reuniões de cada equipa, sob o controlo do seu chefe, e os
resuiiados finais após aprovação da Gerência ou Direcção, devem ser
apresentados aos envolvidos para treinamento e aplidação. Os empregados devem
estar conscientes de que todos os erros cometidos em serviço têm um custo para
a empresa e, como tal devem ser evitados até ao seu limite máximo.
CUSTO DO ERRO COMETIDO
(estudo auxiliar)
Erro zero deve
ser o objectivo
O objectivo máximo de cada estabelecimento,
deve ser: levar as pessoas a fazer as coisas bem, de cada vez que têm de
cumprir uma tarefa. Sempre bem! Sempre igual! Para isso, é necessário criar
organização, educar as pessoas para a qualidade, dar formação técnica e
comportamental, criar incentivos para que as pessoas façam bem, logo à primeira.
O erro, não é lei obrigatória da natureza -
logo, as causas do erro devem ser eliminadas.
Uma boa forma de eliminar os erros, é
começar a procurá-los e ter uma noção da sua origem. Não para simplesmente saber onde estão, mas
para eliminá-los. Na gíria da qualidade, diz-se que um erro detectado é um erro
50% eliminado. Se houver força de
vontade para isso.
Os erros
trazem sempre perdas de
dinheiro. Devem portanto ser evitados, se desejarmos gerir um negócio com sucesso.
QUAL O PREÇO DOS ERROS ?
Surpreendentemente,
esta questão nunca foi satisfatoriamente esclarecida, apesar de há muitos anos
a hotelaria ser uma indústria de ponta.
Não porque
os hoteleiros fujam a encontrar uma resposta, mas apenas porque ainda não foi encontrada uma forma convincente de analisar o custo do erro.
A maior
parte dos hoteleiros dá como
estimativa geral do custo do
erro 1,2% do total das receitas.
Para uma pesquisa do Citicorp/Diners, realizada
há vários anos, foi solicitado a um certo número de hoteleiros de qualidade,
seleccionados para o efeito, de calcular o custo dos 50 erros mais comuns em
hotelaria. Alguns desses erros são: desvio de clientes para outro hotel por erro de reserva; atitude desagradável do
pessoal; check-in ou check-out demorados, etc.
O resultado indicou que o custo total desses 50 erros pode chegar a mais de 5% das
receitas.
Se considerarmos a grande complexidade da
indústria hoteleira e o facto de que numa só unidade analisada foram detectados 379
erros, começamos a verificar que, num estabelecimento sem padrões, ou sem compromisso
assumido no respeito pelos
padrões, o custo dos erros pode facilmente, chegar, a 10% da receita total..
Na
indústria da manufactura, o custo dos erros está
estimado entre 20 e 25%.
Assim, uma estimativa de l0% para a industria hoteleira,
parece-nos conservadora.
Isso sem
ter em conta o aumento de vendas que se poderá esperar, numa operação sem erros
(ou com baixo índice de erros).
O custo do
erro é, com efeito, o custo da oportunidade
COMO CALCULAR O CUSTO DO ERRO?
Fazendo dez
perguntas em ordem sequencial, é possível, a qualquer pessoa calcular o custo
de um erro.
As
perguntas deverão ser as seguintes:
- Qual
é o erro?
- Quais
as consequências desse erro?
- Com
que frequência, cada consequência pode acontecer?
- Qual
seria o prejuízo, caso tal consequência, se verificasse?
- Qual
o custo esperado de cada ocorrência?
- Qual
é o custo específico do erro?
- Quantas
vezes por ano, pode acontecer o erro?
- Em
que percentagem é que o erro efectivamente ocorre?
-
Quantas vezes por ano o erro efectivamente ocorre?
- Qual
é o custo total do erro?
O processo
de determinar o custo do erro ajuda todos os envolvidos e interessados, a
identificar o amplo espectro de consequências que os erros produzem. Ajuda
também os empregados a visualizarem o custo do erro individualmente, a
imensidade e o custo no volume do negócio, bem como o total de erros possíveis
por ano.
No momento
em que, com as contas todas feitas, se obtém um custo final dos erros, o
processo em si já atingiu o principal objectivo: a consciencialização, e
este é o passo principal para desenvolver uma atitude válida, no longo caminho
a percorrer na busca da qualidade total.
A partir do
momento em que qualidade se define como concordância de padrões e que os erros
ocorrem em função de falta de padrões ou de
padrões que existem, mas não são seguidos, torna-se mais simples
explicar ao pessoal que a principal definição de falta de qualidade é erro por
padrões não atingidos. Torna-se ainda mais simples explicar que se deve levar
em linha de conta a capacidade que o cliente tem de avaliar por si próprio. E
não há melhor maneira de chegar ao cliente, do que conseguir influenciar os que
estão em contacto com ele, para conseguir resultados na interpretação e
satisfação das suas necessidades e expectativas.
Tendo
analisado o custo do erro, podemos ir um pouco mais longe e analisar também as
expectativas dos clientes.
EXPECTATIVA DOS CLIENTES
Antes de
proceder a uma análise mais pormenorizada, convém deixar claro que a
expectativa dos clientes pode ter sido criada pelo próprio estabelecimento,
através da sua publicidade ou da sua classificação. Os clientes escolhem o estabelecimento,
pela idéia que têm formada sobre êle.
O
responsável e o seu pessoal têm pois a obrigação de cumprir aquilo que ficou
implícito nos dois aspectos que apontámos.
Como ajuda inicial, apresentamos uma
listagem de erros frequentes em qualquer hotel:
-
anotação insuficiente ou defeituosa das mensagens,
-
aposento não devidamente arrumado,
-
apresentar ao hóspede um quarto de tipo diferente do que este pede na
reserva,
-
bagagem e cliente no mesmo elevador,
- barulhos, obras e outros acontecimentos
estranhos, sem que se tenha dado qualquer satisfação ao cliente,
-
chaveiro mal apresentado,
- circulação de funcionários na área de
clientes sem nela terem serviço,
-
cliente vip, com atendimento normal,
-
contas com erros ou mal apresentadas,
- dar o
número do quarto a desconhecidos,
- dar
quartos não permitidos pela governança (não limpos),
-
deixar um hóspede sem atendimento, enquanto se atende um outro,
-
demora do check-in,
-
displicência na atitude,
-
entregar a chave sem conhecer ou identificar o cliente,
-
equipamentos não verificados,
- excesso de interesse (pode ser tão mau, como
a falta, pois soa falso e incomoda),
- falar
alto, ou trocar informações à distancia, gritar (ou elevar a voz),
- falta
de trintanário na portaria, em hotéis onde o cargo existe,
- falta
de conhecimento do processo do cliente,
- falta
de entrega do key-card (cartão de chave),
- falta
de espontaneidade ou excesso de formalidade,
- falta
de informações sobre cofres ou cartões do crédito,
- falta
de informativos na recepção e elevadores,
- falta
de material do apoio (caneta, desdobráveis do hotel, outros),
- falta
de medicamentos de uso imediato,
- falta
de programação, em caso de grupo,
- falta
de reserva que tenha sido confirmada,
- falta
do quarto pronto à chegada,
- falta
do serviço de despertar solicitado,
-
frieza ou distanciamento no atendimento,
-
funcionários a sorrir nas costas do cliente,
- informar estranhos do nome do hóspede (ou
dizer que ele está hospedado sem o consultar),
-
lâmpadas queimadas,
-
limpeza geral pouco cuidada,
- má
apresentação do uniforme.
-
mandarete ou bagageiro com mau odor,
-
mandarete de costas no e1evador,
-
mandarete à espera, a insistir para obter gorjeta,
-
mandarete que leva o cliente para andar diferente,
-
mandarete que não apresenta o quarto e o hotel ao cliente,
-
mandaretes e recepção não coordenados,
-
manuseio inadequado da bagagem,
-
demonstração de mau humor na recepção,
- muito
tempo de espera no check-in ou check-out ou pela bagagem,
- não
cumprimentar os hóspedes,
- não
dar informação aos clientes,
- não
encontrar a reserva,
- não
entregar recados ou mensagens existentes, à chegada,
- não
sorrir ao atender,
- não
dar acompanhamento ao cliente, em caso de overbooking,
- odor
desagradável no quarto,
- pouca
atenção a senhoras sós,
-
recepcionistas a discutir ou a falar alto na recepção,
- som
ambiente desregulado,
- transferência do problema, quando o cliente
pede ajuda ou informações,
- troca
de bagagens,
- troca
de chaves,
De todos os
erros que apontamos como comuns em hotelaria, os mais citados em todas as
pesquisas são os dez que a seguir apresentamos:
Atitude Negativa Do Pessoal – 22%
Por atitude negativa, não devemos apenas
entender falta de simpatia, mas também:
- pouca
atenção,
- falta
de solidariedade para com os problemas do cliente,
-
displicência no atendimento,
-
negligência com o serviço ou pertences do hóspede,
- falta
de informação ou desejo de ajudar,
-
excesso de formalismo,
-
excesso de intimidade (sobretudo com senhoras),
-
insistência na burocracia,
-
impertinência.
Quarto não disponível – 14%
Quartos muito desgastados – Manutenção pouco cuidada – 13%
Registo de reserva inexistente – 10%
Check-In / Check-Out – 9%
Chamada para acordar – Inexistente, cedo ou tarde – 7%
Quarto mal limpo – 7%
Troca do tipo de quarto – 6%
Barulhos incomodativos – 6%
Falta de limpeza em geral – 6%
Verificamos
que a atitude inadequada do pessoal é o erro que mais impressiona o cliente.
Por outro lado, numa pesquisa feita entre directores de hotel, sobre qual o
maior obstáculo encontrado para conseguir qualidade, 70% indicaram de uma forma
ou outra o empregado. Quase todos apontaram uma atitude deficiente, a falta de
motivação ou falta de desejo de conseguir melhor.
O SENTIMENTO
NEGATIVO NÃO PODE VENCER
Quando se aponta o dedo ao empregado e se diz, não nos segue, a
possibilidade de que a Gerência ou Direcção não esteja a liderar, também pode e
deve ser considerada.
Neste caso, é ainda importante perguntar se, quando chega a altura de
ministrar a formação, não se estará a dar uma atenção exagerada ao
desenvolvimento da capacidade humana, em detrimento de um equilíbrio entre esta
e o conhecimento pelos empregados da verdadeira natureza da hospitalidade e dos
reais desejos e expectativas dos clientes.
Se for este
o caso, todos os processos de formação devem ser revistos e o cliente deverá
ser levado em linha de conta e incluído como a primeira matéria a estudar, a
analisar e a desenvolver.
A hotelaria
tem de olhar mais de perto, tanto o produto como a filosofia usada para
geri-lo.
Muitas
outras perguntas podem e devem ainda ser feitas, e muitas respostas obtidas
deverão ser devidamente avaliadas.
Eliminar
erros é um dos princípios da qualidade. Mas por outro lado,
a qualidade também não é
algo que se possa produzir e
guardar, para usar quando for
necessário. É um processo que
deve merecer sempre as atenções de todos e deve ficar claro que um erro
eliminado é um erro que não se deve repetir. Se
não for assim, a qualidade se perderá e com ela todo o trabalho que
já tiver sido desenvolvido. O bom serviço converter-se-à em mau serviço, e
um bom hotel tornar-se-á em um mau hotel.
Houve boas empresas que se tornaram más
empresas apenas porque não cuidaram do seu
produto.
É perigoso empolgar-se com resultados
positivos que eventualmente apareçam
quando o produto apresenta boa qualidade e tem a preferência do cliente.
Pensar: “Está bom, está a dar resultado, não é preciso fazer mais nada”,
constitui um grande engano e representa uma atitude que não é de maneira
nenhuma aconselhável.
Quando o hotel está completo e tem a
preferência da clientela, é que se deve ter cuidado com a qualidade, para
acautelar essa preferência dos clientes, garantindo ao hóspede que a sua
escolha merece o nosso respeito.
MANTER A QUALIDADE
É UMA OBRIGAÇÃO
A decisão de agir em qualidade deve ser
encarada como a do paciente a quem o médico indica o uso de um marcapasso.
Depois de implantado é para toda a vida! Se for tirado
o paciente morre.
Iniciar
um processo de qualidade, implica
comprometer-se com o seu andamento e com a sua continuidade.
Há que fazer todos os esforços necessários para mantê-lo vivo.
Qualidade é
para ser levada a sério
Não está generalizada porque as pessoas não
entendem a sua essência.
Ao gerir a qualidade, o maior problema não é
o que as pessoas não sabem, mas o que as
pessoas pensam que sabem.
Anos e anos de trabalho, criam pressupostos
convencionais sobre qualidade que uma
carreira bem sucedida apoia, mas
que se chocam na maior parte das vezes com a realidade.
Só
aceita estar errado, quem
se encontra em
apuros.
Os responsáceis devem estar conscientes de
que vivem num mundo em evolução permanente er portanto os seus conhecimentos
podem ficar ultrapassados se não continuarem estudando e analisando o que se
passa à sua volta.Nos EUA qualquer Certificado tem a validade de cinco anos e,
perde o seu valor se não houver reciclagem. A úni caforma de se manter
atualizado é usar o sistema da Aprendizagem Permanente. O mesmo sistema deve
ser usado para os Padrões, que devem ser revistos e atualizados periódicamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário