O
SER HUMANO E A SUA ALIMENTAÇÃO Parte 1
(de 3)
A
Alimentação a Gastronomia e a Culinária
A
ALIMENTAÇÃO E A CULTURA
Dizer que o consumo de
alimentos é parte vital do processo biológico, será enfatizar o óbvio, mas por
vezes, esquecemo-nos que a alimentação é mais do que vital. A outra actividade
que se lhe assemelha, ou compara, pela importância que tem, tanto na nossa vida,
como na reprodução da espécie, é o sexo. Segundo Lao Tzu, filósofo chinês
observador da natureza humana, “apetite por comida e sexo é, natural”.
No entanto, estas duas
actividades têm, alguma diferença. O ser humano é muito mais animalesco nos
seus empenhos sexuais do que nos seus hábitos alimentares. Além de que a
variação é, sem dúvida, maior na alimentação do que no sexo. Por essa razão, a
importância da alimentação, como forma de entender a cultura dos povos, é muito
importante e está na base da análise das suas infinitas variedades, pois estas
não são tão necessárias à sobrevivência.
Para sobreviver, todos
os seres humanos, em qualquer latitude, poderiam comer o mesmo, tendo em conta
apenas os valores calóricos: gorduras, hidratos de carbono, proteínas e
vitaminas. No entanto, as pessoas alimentam-se de maneira diferente,
devido ás diferenças de proveniência “os
países ou regiões do mundo de que são oriundos”, mas também de acordo com as
várias classes sociais.
É grande, a variedade
de ingredientes básicos usados na preparação das refeições, bem como a forma
como eles são guardados, cortados, cozinhados (ou não) e as quantidades e
variedades de cada repasto. São também inúmeros os sabores e os gostos, os
hábitos de servir, os utensílios de preparação e serviço, as crenças sobre as
verdadeiras propriedades da comida, a quantidade das refeições e, a sua
duração.
Uma análise
antropológica sobre o estudo da alimentação levar-nos-ia, sem dúvida, a isolar
e identificar as variantes alimentares, sistematizar os resultados e explicar
porque algumas delas se aproximam e outras não.
Para melhor
compreendermos estas matérias, poderemos recorrer à especifidade de cada
cultura, para explicarmos as variantes relacionadas à alimentação. Ela pode
ajudar-nos, a encontrar um padrão, ou modelo comportamental, nos vários grupos
de pessoas que partilham determinado estilo alimentar. Os hábitos alimentares
podem ser considerados um critério importante, determinante mesmo, para este
fim. O conjunto das pessoas que partilham uma mesma cultura têm os mesmos
hábitos alimentares, ou seja, partilham a mesma variedade de comidas. Culturas
diferentes, usam misturas diferentes, na alimentação. Poderemos dizer que as
diferentes culturas demonstram diferentes escolhas alimentares. Aqui, a palavra
“escolha” pode não representar uma decisão pessoal, mas uma imposição do
ambiente. Quais são essas escolhas? O que as determina? Estas são as duas
primeiras grandes perguntas, num estudo dos hábitos alimentares.
Dentro da mesma cultura,
os hábitos alimentares podem não ser homogéneos. Como regra, não o são, de
facto. Dentro de um estilo geral de alimentação, existem diferentes
manifestações de variantes alimentares, para diferentes posições sociais.
Pessoas, de classes sociais diferentes comem de maneira diferente. Em ocasiões
festivas, em luto, ou até mesmo na rotina diária, come-se de maneira diferente.
De acordo com diferentes seitas religiosas, ou credos, há códigos de
alimentação distintos. Os homens e as mulheres, nos vários estágios das suas
vidas, alimentam-se diferentemente. Indivíduos diferentes, têm gostos
diferentes.
Algumas dessas
diferenças, podem, ser atribuídas a preferências pessoais, mas outras podem ser
impostas. Identificar, esclarecer e explicar essas diferenças, pode ser um
trabalho interessante, para quem se dedica ao serviço da alimentação.
Finalmente, é bom ter
em conta que muitas das modificações nos hábitos alimentares se podem também
atribuir às diversas épocas, aos períodos históricos e à sua duração. Sabemos
como os hábitos alimentares mudam e procuram adaptar-se aos dados e
consequências da evolução da sociedade.
O estilo de alimentação
de determinada cultura é, certamente e, antes de tudo, determinado pelos
recursos naturais de que a sociedade dispõe.
Verificamos, assim, que
cada região do planeta desenvolveu a sua cozinha na base da sua própria
produção. Posteriormente, ao longo dos tempos, foram-se agregando novidades, às
diferentes ementas. Foi assim com os italianos, que se beneficiaram das viagens
de Marco Polo e dos seus contactos no Norte de África. Foi assim com os
portugueses, que adicionaram aos seus cardápios, muitos dos pratos africanos e
orientais, recolhidos nas suas viagens, e foi assim com os ingleses, nas suas
andanças pelo mundo.
Nos dias de hoje, a
culinária regional, ou nacional, dos diversos países está bastante divulgada,
em função das migrações e do turismo.
Quem se dedica ao
negócio da alimentação deverá possuir um bom conhecimento na matéria, para
poder manter-se sempre na frente, numa profissão bastante difícil e que evolui
a cada passo. É muito importante partilhar a crença dos chineses, que afirma
que a maneira como a comida é preparada está na base de uma boa saúde e que a
qualidade e a quantidade da comida ingerida são relevantes para a saúde do
indivíduo. A alimentação afecta a saúde, de uma forma directa, em relação ao
futuro, mas a selecção da comida, em determinado momento, deve ter em conta a
própria saúde e as condições do indivíduo, nessa mesma ocasião. Chegamos,
portanto, à consideração final: a comida também é remédio. Como tal, e
importante que estejamos sempre atentos ao que comemos e ao que servimos aos
nossos clientes.
Breve
Introdução à Culinária
A evolução da raça humana é marcada pelo progresso das artes, pelos
triunfos alcançados nas lutas contra as rudes condições da natureza e pelo
desenvolvimento dos conhecimentos que permitiram ao homem ampliar e melhorar as
suas condições de vida.
Cozinhar é, assim, produto da evolução do ser humano, estando ligada à
civilização, pois com o avanço do conhecimento, o homem foi sentindo
necessidade dos benefícios trazidos pelo conforto.
No seu primitivo estado, o habitante da terra alimentava-se de frutos e
raízes que comia tal como eram encontrados. Ao fazer nascer, pela fricção de
duas pedras, uma faísca luminosa – o fogo – o homem deu um grande passo para
melhorar a sua dieta, incluindo nela alimentos cozinhados. Essa faísca que
crescia e rugia, crepitante e ameaçadora, produzindo ao contacto dor forte e
insuportável, proporcionava-lhe também – ao aprender a controlá-la – vantagens
das mais extraordinárias.
Com a progressão dos seus conhecimentos, tornou-se agricultor, pescador
e caçador, abrindo caminho para o desenvolvimento da “Culinária” que nasceu com
o princípio da cocção dos alimentos.
Ao estabelecer-se em comunidades, criou novos hábitos e idéias, tais
como o direito de propriedade e a utilização da água na cozinha.
A floresta, o rio e o mar, tornaram-se insuficientes à sua ânsia de
buscar novas variedades de comestíveis. A máxima “Comer para Viver” foi
esquecida. O sal e os condimentos, bem como o vinho, tornaram-se companheiros
inseparáveis da Culinária.
O necessário, não seria apenas viver, mas viver bem; viver o mais
confortável e luxuosamente possível. Disso, veio o Império Romano dar-nos exemplo e uma prova indiscutível.
Tal como se desenvolveram as artes, a cozinha também avançou; tal como
surgiram vitórias sobre a pedra, em estátuas, túmulos e monumentos, das mãos
dos cozinheiros começaram surgindo novas composições que deliciavam os
paladares, entorpeciam os membros e tornavam a volúpia da mesa prazer único.
Em Roma, os jantares duravam dias seguidos. Os convivas, depois de
saciados, deixavam a sala de jantar (Triclinium)
e passavam a outro compartimento, onde se recompunham, para regressar depois ao
seu lugar onde recomeçavam de novo.
Foi o grande triunfo da Culinária, que a partir de então se sobrepõe a
tudo, na vontade do homem e no seu sentir.
Um bom cozinheiro é um grande senhor.
Nos tempos de luxúria da Grécia antiga, os cozinheiros sicilianos eram
disputados e recebiam altos honorários pelos seus serviços. Entre eles, um,
chamado Trimálcio, tomou-se famoso pela maneira admirável como cozinhava peixe.
Um chefe cozinheiro, nos tempos áureos de Roma, ganhava anualmente o
equivalente a cerca de 600,00 euros, soma considerável para a época; Marco
António, ofereceu uma cidade ao cozinheiro que fez o jantar, capaz de
satisfazer Cleópatra.
São famosas, as ceias romanas dos tempos de Tibério, Calígula e Nero.
Apício, gastrónomo conceituado e libertino famoso, descreveu através da sua
literatura, o valor da ciência culinária de então.
A ocupação da Ibéria pelas legiões da República, influenciou a cozinha
nativa, razão por que existe uma acentuada similitude, entre as especialidades
típicas, portuguesas e italianas, descendentes directas das que até nós foram
trazidas pelos cozinheiros dos generais romanos.
Com a queda do Império, a arte culinária caiu em menor consideração e;
na Idade Média, os cozinheiros lutavam por impor-se e ganhar reputação,
compondo novos molhos e fazendo estranhas combinações, em busca de novidade.
Foi na Europa Central que, gradualmente, a Culinária se foi impondo com
a Renascença. Na França e nas cidades Estado da Itália, ressurgiram com grande
opulência o esplendor e o luxo, bem como a sua cozinha. Entre todos os países
do mundo porém, a França mantém ainda o primeiro lugar, pela excelência e o
cuidado dos seus pratos.
A contribuição portuguesa foi enorme, pois no século XVI, com a
descoberta do caminho marítimo para a Índia, Vasco da Gama tornou possível a
menor preço, a utilização das especiarias vindas do Oriente nas suas naus.
Mercê da grande procura das mesmas, pela sua necessidade em culinária, Lisboa
elevou-se ao primeiro lugar das capitais comerciais da Europa desse tempo,
competindo com Veneza, que até então detinha o quase monopólio da
comercialização desses produtos.
A passagem dos portugueses pelo Japão, de algum modo influenciou a
cultura da alimentação neste país. Muitas palavras do idioma ali usado, soam
como portuguesas. Arigato e Tempura, talvez sejam algumas delas.
A pimenta, o cravinho, a canela e outros tão culinariamente necessários
condimentos, até então caríssimos devido às enormes sobrecargas do transporte
por terra – motivadas por penosas caminhadas através de desertos e pelos
ataques dos piratas, salteadores de caravanas – tornaram-se mais acessíveis aos
que confeccionavam os ágapes dos grandes senhores.
Essas tão disputadas sementes, foram fruto das invejas e ataques que os
portugueses sofreram; da Espanha, como rival mais directo na conquista das
terras donde elas provinham e, das repúblicas italianas, Holanda, Alemanha e
potentados árabes, que antes os comercializavam, ou recebiam taxas de passagem
pelos seus territórios, das caravanas de transporte.
Gostaríamos de deixar aqui, uma referência ao primeiro cozinheiro que
se lembrou de ajudar os mais novos, ao produzir um Abregé de Cuisine profissional. Chamava-se Auguste Escoffier e
tinha a nacionalidade francesa, embora estivesse trabalhando na Inglaterra
quando apresentou o seu trabalho. Em Portugal, foi conhecido Manuel Ferreira
com o seu Manual de Cozinha e Copa,
excelente livro que apenas pecava por seguir a linha dos livros produzidos por
senhoras da sociedade que gostavam de cozinha e escreviam livros de Culinária.
Mas muitos foram os pioneiros desta grande Arte, que alguns chamam (e com
razão) Ciência da Cozinha. Não poderemos fazer uma listagem, pois ela seria
longa e alguns importantes nomes ficariam esquecidos. Foi ao seu esforço, à sua
persistência, imaginação e poder criador que ficamos devendo o conceito que ela
actualmente merece. Gutta
cavat lapidem.
A
evolução e o progresso da Culinária
Cozinhar é a elaboração
artificial dos alimentos e tem como objectivo principal, preparar estes para a
sucessão de modificações que irão sofrer na sua viagem através do corpo humano,
conhecida como digestão e assimilação. Outra finalidade secundária é tornar
itens eventualmente nocivos à alimentação, no seu estado natural, aproveitáveis
para o consumo. Tanto a batata como a mandioca, por exemplo, seriam
prejudiciais se não cozinhadas. Outros legumes se comidos crus, não teriam a
mesma capacidade de satisfazer o paladar e facilitar a digestão.
Cozinhar tem se tornado
uma verdadeira arte e evoluído de forma considerável. O cozinheiro tornou-se um
filósofo e adora fazer demonstrações da sua capacidade para a satisfação de
terceiros. Essa atitude só pode ser louvada e encorajada. Sobretudo em tempos
como os de hoje, em que os fast-food
e os preparados tendem a desencorajar
arrojos culinários e aumentam os problemas de saúde e os obesos.
Razões
para Cozinhar
Os alimentos são
preparados e cozinhados por seis razões:
Para facilitar a
mastigação.
Para beneficiar e
abreviar e digestão.
Para transformar certas
substancias, naturalmente danosas, em alimentos nutritivos.
Para eliminar elementos
nocivos ou prejudiciais desenvolvidos nos alimentos. Como a tinha e a
solitária, possíveis na vaca e no carneiro, ou a ténia e a triquina no porco.
Para combinar os
alimentos nas proporções adequadas às necessidades do corpo.
Para torná-los
saborosos ao paladar e agradáveis à vista.
Embora pareça que a
ultima razão se conflita com a segunda, tal asserção não terá suporte se
tivermos em consideração que o valor estético de uma agradável refeição é
importante e se dermos razão ao aforismo popular de que “Os olhos também comem”.
É sabido que o aroma e
a vista agradável de um prato desenvolvem a predisposição para a comida e os
sucos gástricos necessários à sua absorção.
Acção
do calor sobre os alimentos
É indiscutível (e
devemos estar conscientes dessa verdade), que o calor altera a constituição
química dos alimentos. Mas não a um ponto que mereça reprovação, pois muitos
alimentos não poderiam ser usados pelo ser humano se não fossem cozinhados. Por
isso o calor deve ser usado na sua exacta proporção e acompanhado com cuidado.
A transformação de alguns é facilmente identificada, como a solidificação da
clara de ovo desde o cremoso até ao duro; a modificação das fibras quando
mirradas ou intumescidas, ou a apresentação da gelatina quando macia, ou seca e
quebradiça.
Como todas as
transformações têm a sua explicação e devem ser conhecidas pelos cozinheiros, é
a exacta apresentação do produto que demonstra a qualidade do prato e separa
aqueles que satisfazem o consumidor, dos que o deixam aborrecido e descontente.
Combinação
dos alimentos
Ao preparar um prato,
devemos estar sempre conscientes da necessidade de combinar os ingredientes na
proporção exacta, de acordo com a sua constituição. Alguns alimentos são
deficientes num aspecto, enquanto outros são excessivos, não só no mesmo como
em outros. Uma pequena adição aqui e ali, torna-os mais nutritivos, mais fáceis
de digerir e leva ao organismo os valores que este necessita. Todos os
cozinheiros são induzidos a essa combinação, pela utilização dos vários
instigadores do paladar ou do apetite. Ao arroz, rico em gomas, adicionam
manteiga ou natas; com ervilhas servem um pouco de bacon; para o peixe, buscam
o enriquecimento que o molho de ovos adiciona; o bife é balanceado com batata
cozida ou “sautée”.
Mas nem sempre os
hábitos da culinária devem ser cegamente seguidos, pois podem eventualmente
necessitar de correcção. Há muita coisa a aprender para além do uso do simples
estimulador do paladar ou do apetite.
Carbonatos
e sais
Estes incluem o cloreto
de sódio ou sal comum, os sais potássicos, o fosfato de cálcio e o ferro. O
primeiro é o único que se adiciona como tal aos alimentos e deve ser dosado com
cuidado, pois normalmente ele já está incluído em muitas das preparações
apresentadas no mercado. Os sais potássicos estão presentes nas frutas frescas
e nos legumes. O cálcio, tão necessário aos ossos e dentes, incorpora-se no
leite e nos grãos. Quanto ao ferro, mais medicamento que alimento, é um
importante componente do sangue que se encontra presente nos legumes frescos,
estando também em quantidades variáveis na maior parte das águas.
Amidáceos
e farinhas
Sendo alimentos baratos
e de fácil aquisição, são encontrados na maior parte das preparações
culinárias.
Pão, batatas, massas,
arroz, trigo e cevada são constituídos de amido na sua quase totalidade,
enquanto que, milho, araruta, sagu e tapioca, podem ser considerados como amido
puro. As lentilhas, as ervilhas e o feijão, são leguminosas com grande
quantidade de amido, embora sejam cotados como albuminóides. O leite não contém
amido, mas inclui algum açúcar que substitui aquele. As crianças pequenas não
devem ingerir amidos, pois não têm capacidade de digerir estes. A transformação
do amido pelo calor produz dextrina, a qual se encontra sempre nos biscoitos,
nos bolos e na codea do pão.
Açúcar e melaço são
bons alimentos e substitutos dos farináceos, podendo no entanto produzir acidez
em adultos com predisposição para tal. As crianças, como não estão sujeitas a
essa alteração, podem encontrar nestes alimentos, se bem controlados, um bom
suporte alimentar em vez dos farináceos que conduzem à obesidade.
As gorduras e os
farináceos são considerados produtores de calor por serem oxidados ou queimados
pelo corpo para manutenção da temperatura adequada deste. Deve existir porém
cuidado na absorção dos últimos, pois quantidades exageradas levarão a que a
gordura existente neles não seja totalmente consumida por desnecessária ao
organismo, e por este armazenada, conduzindo à obesidade. A melhor forma de
manter equilíbrio de massa corporal é através de exercícios físicos para oxidar
os excedentes.
Gorduras
A gordura, seja sob a forma de manteiga,
natas, óleo, azeite, carne, bacon ou qualquer outro nome, é necessária em
culinária, sendo notada a sua falta pelos que tem menos posses ou pelos que
sendo doentes encontram dificuldade na sua digestão. Mas algum substituto pode
sempre ser encontrado. Se digerida, qualquer gordura é boa. Óleo de vegetais,
azeite, natas e óleo de peixe, são gorduras de fácil digestão, embora existam
restrições ao seu uso em fritura, pois o calor decompõe o óleo e oxida-o em
demasia, o que não é aconselhável para uma boa saúde.
Gorduras e farináceos,
são alimentos que se substituem entre si dentro de certos limites. Devem ser
consumidos em climas frios e com maior cuidado nos climas quentes.
Albuminosos
O termo albume ou albúmen, designa o tecido nutritivo rico em substancias alimentares que envolve o embrião de muitas plantas.
Algumas vezes estas são indicadas como boas para a pele ou designadas alimentos nitrogenados ou azotados, porque contém nitrogénio ou
azoto, o qual não se encontra nos farináceos, gorduras ou açucares. Tudo o que
vive e cresce necessita de nitrogénio e ele se encontra em maior ou menor
quantidade em todas as plantas e em todos os animais. Os nossos suprimentos de
albuminas vêem da carne magra, peixe, aves, leite ou queijo, ovos, glúten,
fibras de cevada, lentilhas, feijão e ervilhas. Esta pode ser encontrada também
em sucos de vegetais, sementes e nozes, castanhas ou amendoas.
Fibras
Podem ser de origem
animal ou vegetal. Da carne, legumes, frutas e cereais, obtemos a nossa ração
quotidiana destas. Por essa razão, os talos de legumes e as cascas das frutas
devem ser usados sempre que possível, bem como os legumes mais fibrosos, a
cenoura, os brócolos, ou as couves, os nabos e as abóboras. Aqui, será também
interessante lembrar que a casca da laranja dá uma excelente confiture, que da casca da melancia se
faz uma boa compota e que com a casca do pepino um pouco mais grossa, se
prepara um agridoce
que pode ser servido como acepipe ou acompanhamento de vários pratos.
Métodos de Cocção
São seis, os métodos de
cozinhar mais comumente usados:
Grelhar (na chapa ou
nas brasas)
Assar (no forno ou
directamente sobre o fogo)
Cozer no Forno
Cozer em Água
Guisar, Estufar ou
Ensopar
Fritar
Grelhar
na Chapa
As regras para este
grelhado são as mesmas que para o grelhado nas brasas, pelo que a chapa não
deve ser lisa mas sim ondulada, para permitir que a peça receba o calor sem
queimar. Por outro lado, as marcas que ficam imitando as da grelha, são
altamente decorativas para a peça.
Grelhar
nas brasas
Preparar um brasido
forte e uma grelha a altura regulável. Inicialmente, dar mais calor à peça para
criar uma capa externa e depois afastar um pouco para cozinhar gradualmente.
Voltar a peça com frequencia. Não picar a superfície da carne com garfo, nem
cortar para ver se está cozinhada.
A carne deve ser
voltada regularmente para que o cozimento seja uniforme e não apenas de um
lado. Deve ser usada uma espátula na chapa e uma grelha dupla para grelhado
sobre brasas. Não cozinhar em excesso. Um bom grelhado deve ficar “ao ponto” ou seja, com sabor ao suco da
carne.
Só é aconselhável
grelhar carnes macias e suculentas, pois de outro modo ficarão duras e secas.
Para grelhar peixe,
pode ser usado um espeto além da grelha, ou embrulhar este em papel alumínio,
marcando no final com ferro em brasa para enfeitar a peça. No caso de peixe
aberto, grelhar primeiro do lado interno e depois voltar para o lado da pele,
continuando a voltar até estar plenamente cozinhado. Se for salmão, grelhar
sempre embrulhado em papel alumínio.
Assar
no forno
O verdadeiro assado
começou com a tradicional forma de cozinhar as carnes (por vezes animais
inteiros) sobre o fogo, rodando-os com o auxílio de um espeto rotativo. Pela
incapacidade de fazer fogueiras sempre que era necessário assar, começaram os
assados a ser feitos nos lares ou lareiras interiores das casas, mantendo o
sistema do espeto e do fogo. Com o tempo, foram sendo tentados os assados com
temperos e molhos, feitos nos grandes fornos de pão que todas as grandes
cozinhas mantinham. Este sistema agradou, pois as carnes adquiriam um sabor
agradável pelos temperos adicionados e hoje, todos os assados ou a maior parte
deles, são feitos no forno. Um dos segredos de um bom assado é seguir os
critérios usados para o grelhado e conseguir nos primeiros minutos de cocção,
que uma película firme se forme no exterior da peça, mantendo os sucos da carne
no interior desta. Isto é conseguido, aumentando o calor no início do cozimento
e reduzindo-o depois, afastando a peça do fogo ou baixando a temperatura do
forno. Quanto maior a peça, menor deve ser o fogo, para que esta não fique
queimada por fora antes de completamente cozinhada. Mas o critério de calor
mais forte no início e mais fraco a seguir, deve ser observado pelas razões
indicadas. Numa peça bem assada, a parte exterior deve estar dourada, mas lisa
e uniforme, enquanto as fibras interiores devem apresentar-se macias e
suculentas, sem passar demais. Quando o ponto certo é ultrapassado, as fibras
começam a endurecer e a formar nódulos que tornam a mastigação desagradável e
dificultam a digestão. Este fenómeno pode passar imperceptível em peças
grandes, mas aparecerá com desagrado nas peças pequenas.
Assar
no fogo
Os cuidados que
indicamos para assar no forno, devem ser usados aqui. Para preparar a fogueira,
podem ser usadas duas pedras de tamanho regular onde o espeto seja apoiado
depois. As peças podem ser untadas com uma mistura de sal e óleo, à qual
eventualmente se adicionem outros temperos ao gosto.
Para regular a cozedura
da peça, esta pode ser salpicada com água, de forma a equilibrar o calor
evitando que se queime em demasia.
Cozer
no Forno
Este tipo de cocção
apresenta aspectos semelhantes ao assado, mas a sua utilização é mais frequente
em padaria ou pastelaria, embora usado também para outros como os estufados, nhóquis ou rizotto. A
temperatura do forno é sempre maior do que a de água a ferver, mas os alimentos
assim cozinhados não estarão muito mais quentes do que se fossem cozinhados em
água até que tenham diminuído o conteúdo desta no seu corpo. A partir daí deve
haver o maior cuidado, pois a possibilidade de se tornarem carvão vai
aumentando progressivamente. O ar quente do forno é voraz no consumo de água e
a evaporação é muito alta (este tipo de cocção compara-se ao de uma câmara de
vapor quente) pelo que só deve ser usado para alimentos que tenham no seu corpo
liquido suficiente para durar o tempo da cocção e quando esta estiver
terminada, serem retirados. Um método a ser seguido, sempre que se queira usar
o forno para reaquecer alimentos ou terminar uma cocção sem queimar as peças, é
colocar dentro deste um recipiente com água para que esta, ao evaporar-se pelo
calor, possa garantir a humidade necessária para que a peça se não queime.
Cozer
em Água
Este é o tipo de
cozinhado que todos acham ser o mais fácil. Com efeito, nada pode parecer menos
fatigante ou perturbador do que o simples processo de cozer ou até estufar
carne. No entanto, o sucesso deste método culinário tem muito a ver com o
líquido e a forma como o processo é conduzido. A temperatura é importante; se
para a cozedura, não faz muita diferença se a água está a fervilhar ou a
borbulhar, pois a temperatura será a mesma e as peças seguirão a sua cocção ao
mesmo ritmo, os resultados finais porém não serão os mesmos.
Carnes
- Haverá uma grande diferença no resultado final da peça cozinhada em fogo
lento, da que for preparada com cozedura rápida, pois esta ficará mais dura e
menos suculenta. Para saber o lume exacto, deve conhecer-se algo mais sobre
albúmen e a sua constituição. O item mais fácil de cozinhar é um ovo. A clara é
constituída de albúmen e água; a gema compõe-se de albúmen, água, gordura e
algum enxofre, sendo este albúmen de um carácter diferente. Sabemos que o
albúmen começa a coagular aos 65 graus centígrados, transforma-se numa geléia
mole aos 71ºC aproximadamente e, a partir daí rapidamente endurece. Os ovos
devem portanto ser cozinhados com cuidado. Alguns recomendam que sejam
colocados em água fervente e, retirado o recipiente do fogo, deixar estes se
cozinhar. Outros indicam que o ovo seja colocado em água fria e deixá-lo ficar
no recipiente até a água ferver, quando deve ser retirado.
Cada um encontrará a
sua forma correcta de cozinhar o ovo, mas deve sempre faze-lo com cuidado para
obter bons resultados. Ao cozer carne magra para consumir em cozido, estaremos
também lidando com albúmen. Do mesmo modo que a gema de ovo endurece ao
cozinhar, isso também acontece com a carne, pelo que alguns cuidados podem ser
tomados. Um bom conselho é seguir o indicado para os grelhados. Colocá-la na
água quando esta já estiver a ferver para lhe dar um aperto forte e criar uma
capa externa; depois, terminar a cocção em fogo brando, para que os sucos da
carne se mantenham dentro desta. Se a carne for cozinhada para sopas ou caldos
e o objectivo for extrair os sucos desta, o albúmen solúvel e o máximo possível
da gelatina contida nas fibras, a prática será a de multiplicar as faces de
extracção cortando a peça em pedaços, colocar esta em água fria e, em fogo
brando, levar a água até ao ponto de ebulição. Como se vê, para fins
contrários, actos contrários.
Farináceos
- O macarrão, arroz, sagu, milho e outros semelhantes, devem ser sempre
mantidos em água fervente, para se beneficiar da movimentação originada pelo
borbulhar e evitar que se formem granulos ou que as peças parem e se colem ao
fundo do recipiente. Além de mexer é claro.
Peixe
- Se o peixe for cozido para consumir como tal (queremos dizer, se não for uma
caldeirada ou semelhante) é de toda a conveniência usar o método indicado para
a carne, de colocar o peixe quando a água já estiver a ferver e depois baixar o
lume para que a cocção seja terminada em fervura lenta. O sal, um pouco de suco
de limão ou vinagre podem ser adicionados à água, pois o albúmen coagula mais
rapidamente ao contacto com ácidos, o que favorece a firmeza da textura do
peixe.
Legumes
- A maioria dos vegetais e, aceitamos que possa haver algumas excepções, também
devem ser colocados para cozer em água já a ferver e não em água fria.
Guisados,
Estufados ou Ensopados
Guisado
é a preparação das peças ao fogo, em uma cocção longa, com pouco líquido. O
resultado final é um prato consistente e suculento com pouco molho, compacto e
espesso.
Estufado
é normalmente uma cocção idêntica ao guisado, mas no forno e com mais líquido.
O prato final apresenta-se menos homogéneo e com molho. A Chanfana ou Lapantana é
um excelente prato de forno, mais estufado que assado, embora eu conheça casos
de quem a prepare no fogão com bastante molho.
Ensopado
é uma derivação do Estufado, com mais
molho e servido sobre uma camada de fatias de pão duro ou torrado, as quais
absorvem o molho excedente, ensopando
este. As Caldeiradas e similares, são
a meu ver sopas, podendo em certos casos ser enquadradas na classificação de estufados ou ensopados dependendo da sua apresentação.
De uma forma geral,
estes pratos requerem menos calor do que os cozidos, para a sua confecção; 74ºC
é a temperatura mais aconselhável. A iguaria a ser cozinhada, partilha muito do
seu sabor com o líquido que a envolve, o qual não deve portanto ser desperdiçado.
Para este tipo de cocção, é menor a quantidade de líquido necessária do que
para cozer. È também o processo adequado para carnes gelatinosas ou fibrosas,
pois o período mais longo de cocção com menor temperatura, torna a gelatina e
as fibras facilmente assimiláveis pelo aparelho digestivo. Por outro lado, nada
se perde nesta preparação. Tudo o que se colocar na caçarola aparece no final.
Pode ser usado para carnes de menor custo e necessita pouca atenção embora
mereça cuidados. Um bom guisado é uma excelente demonstração de culinária. As
peças podem ser ligeiramente passadas no sauté
antes de cozinhar, pois isto dá-lhes uma cor agradável e preserva os sucos,
criando nelas a capa exterior de que temos falado. O guisado não deve ferver ou
borbulhar, mas desenvolver-se tranquilamente, com um leve rorejar nos bordos da
caçarola. Para os que usam adicionar nabos ou cenouras ao guisado, aconselhamos
a que escolham estes novos e macios, ou os cozam antes, guardando a água de
cozedura para fazer o prato. Não deve ser colocado muito líquido inicialmente
num guisado, pois a carne já segrega algum suco e a cocção a lume brando
provoca pouca evaporação. Se necessário, o líquido pode ser corrigido durante a
preparação.
Fritar
Fritar é muitas vezes
descrito como cozer em gordura. Nada mais errado, pois a gordura não é cozida e
a peça nem sempre é imersa na gordura. É no entanto a forma mais rápida de
cocção, pois a gordura derretida ou o óleo, podem ser elevados a altas
temperaturas e ao seu contacto, o item nelas infuso é rapidamente aquecido e
transformado. As temperaturas de que falamos estão sempre acima do ponto de
fervura e a mais indicada, embora possa variar um pouco de acordo com o tipo de
gordura utilizado é entre 177ºC e 205ºC.
Fritura seca
- É assim chamada, devido à pouca quantidade de gordura usada para cozinhar as
peças. Pode começar com a frigideira apenas untada, até uma leve camada de
gordura cobrindo o fundo. Seja qual for porém a quantidade de gordura usada,
esta deve sempre estar bem quente no momento de lhe incluir a peça a fritar.
Fritura por
imersão - Também conhecido como frito à francesa este método é melhor e mais económico do que o
anterior, para cozinhas de muito movimento. Pode ser usado com qualquer
utensílio que tenha profundidade suficiente para a imersão total da peça
durante a fritura e é aconselhável que para peças pequenas ou delicadas seja
utilizado um cesto de arame ou algo semelhante.
Todas as gorduras podem
ser usadas para fritar, mas alguns conhecimentos sobre o assunto são
necessários. Gorduras de vaca estão desatualizadas. Gordura de porco deixa um
sabor nos alimentos que não agrada a todos os paladares. Deve ser usada apenas
quando a receita o indique. A margarina e a manteiga queimam muito rapidamente,
sendo aconselhadas apenas para molhos rápidos. Os óleos vegetais são os mais
indicados para fritura, embora o mercado já apresente óleos especiais que
agüentam altas temperaturas sem oxidar. A grande pergunta que se coloca é - Qual o melhor óleo de fritura?
– canola, girassol, soja? E o azeite, quando pode ser usado?
Sem querer exarar uma opinião definitiva, direi que os óleos mais
indicados são: o de arroz refinado (ele faz com que os alimentos absorvam 20%
menos de gordura), amendoim (tem ponto de saturação alto, acima de 220°C) soja,
milho e azeite (não o extra virgem, que apenas deve ser consumido cru).
Alguns conselhos aos
novos cozinheiros (ou aos amadores)
As faltas mais comuns,
cometidas por quem começa na Cozinha, são:
Não prestar suficiente
atenção à receita.
Não dar criteriosa
atenção aos detalhes da preparação.
Não ter paciência para
esperar o tempo necessário a um bom cozinhado.
Desconhecimento da
verdadeira participação do calor em Culinária.
É sabido que a
preparação de sopas e bons molhos é um teste para a qualidade dos cozinheiros.
Ora, tanto sopas como molhos (com algumas excepções que só comprovam a regra)
precisam de uma boa preparação prévia e muita atenção durante o cozinhado. O
tempo devotado a planear, limpar, cortar, aparar ou acomodar as peças, não é
tempo perdido. Ele irá se reflectir na facilidade da confecção e nos resultados
finais do prato.
Quanto à utilização do
calor, é sempre bom ter em conta nos cozidos e assados que a temperatura deve
ser mais alta no início para prevenir perda de nutrientes, mas que deve ser
menor durante a cocção, para evitar que a peça fique causticada e seca. Nos guisados,
contudo (e isto também se aplica às sopas), o calor deve ser moderado e a
cozedura lenta.
Todos os pratos devem
ser correctamente temperados com os necessários condimentos durante o processo
da confecção, com excepção das carnes assadas em que a adição de sal é
aconselhável apenas um pouco antes de servir.
A água é um solvente,
pelo que todos os vegetais e carnes devem ser passados por água a ferver, a
menos que se destinem a sopas, onde o seu sabor próprio seja necessário.
Se desejar preparar
receitas suas, tenha o cuidado de não enveredar pelo caminho errado de que se
os temperos são bons, quanto mais variedades puser melhor ficará o prato. Os
sabores têm o seu caracter próprio e quando muito misturados, acabam se
chocando e perdendo o valor individual sem vantagens para o resultado final.
Para emergências, um
bom substituto das natas é uma mistura de leite, um pouco de manteiga e
farinha.
Ter sempre em mente que
cada tipo de alimento tem uma forma própria de ser preparado. O que é bom para
um pode não ser adequado para outro. Do mesmo modo, o tamanho da peça também
influi na sua forma de preparação. Enguias grandes darão uma boa caldeirada, mas se forem pequenas é
melhor fritar. Do mesmo modo, carne para cozer não deve ser preparada de outro
modo e um filé mignon não dará nunca
um bom Cozido.
Quantidades
e tempo
Balanças e pesos podem
ser desejáveis na cozinha, mas não são necessárias para a boa confecção de um
prato. Embora sejam indispensáveis para uma boa preparação de pastelaria. As
necessidades são diferentes. Na Cozinha, o que vale é o dedo do mestre. Na Pastelaria, o que vale é a equivalência dos
vários itens entre si. E aqui, mais ainda do que na Cozinha, o acompanhamento
do calor é de importância vital. O tamanho dos ovos pode ter influencia numa
mistura. As quantidades precisam ser exactas ou os resultados não serão
satisfatórios.
Com esta pequena
introdução, pretendi apenas ajudar, facilitando o trabalho dos mestres ao
alertar os candidatos a cozinheiro, para as necessidades e responsabilidades
que o cargo implica. Temos em Portugal uma boa tradição de bons cozinheiros que
espero se manterá no futuro.
Um abraço para todos os
que enveredarem por esta profissão tão dignificante.
È bem conhecido o
aforismo “Boa mesa faz bons amigos”.
Boa Sorte e que assim
seja!