domingo, 3 de janeiro de 2021

 

O SER HUMANO E A SUA ALIMENTAÇÃO  Parte 1 (de 3)

A Alimentação a Gastronomia e a Culinária

 



 

A ALIMENTAÇÃO E A CULTURA

 

Dizer que o consumo de alimentos é parte vital do processo biológico, será enfatizar o óbvio, mas por vezes, esquecemo-nos que a alimentação é mais do que vital. A outra actividade que se lhe assemelha, ou compara, pela importância que tem, tanto na nossa vida, como na reprodução da espécie, é o sexo. Segundo Lao Tzu, filósofo chinês observador da natureza humana, “apetite por comida e sexo é, natural”.

No entanto, estas duas actividades têm, alguma diferença. O ser humano é muito mais animalesco nos seus empenhos sexuais do que nos seus hábitos alimentares. Além de que a variação é, sem dúvida, maior na alimentação do que no sexo. Por essa razão, a importância da alimentação, como forma de entender a cultura dos povos, é muito importante e está na base da análise das suas infinitas variedades, pois estas não são tão necessárias à sobrevivência.

Para sobreviver, todos os seres humanos, em qualquer latitude, poderiam comer o mesmo, tendo em conta apenas os valores calóricos: gorduras, hidratos de carbono, proteínas e vitaminas. No entanto, as pessoas alimentam-se de maneira diferente, devido  ás diferenças de proveniência “os países ou regiões do mundo de que são oriundos”, mas também de acordo com as várias classes sociais.

É grande, a variedade de ingredientes básicos usados na preparação das refeições, bem como a forma como eles são guardados, cortados, cozinhados (ou não) e as quantidades e variedades de cada repasto. São também inúmeros os sabores e os gostos, os hábitos de servir, os utensílios de preparação e serviço, as crenças sobre as verdadeiras propriedades da comida, a quantidade das refeições e, a sua duração.

Uma análise antropológica sobre o estudo da alimentação levar-nos-ia, sem dúvida, a isolar e identificar as variantes alimentares, sistematizar os resultados e explicar porque algumas delas se aproximam e outras não.

Para melhor compreendermos estas matérias, poderemos recorrer à especifidade de cada cultura, para explicarmos as variantes relacionadas à alimentação. Ela pode ajudar-nos, a encontrar um padrão, ou modelo comportamental, nos vários grupos de pessoas que partilham determinado estilo alimentar. Os hábitos alimentares podem ser considerados um critério importante, determinante mesmo, para este fim. O conjunto das pessoas que partilham uma mesma cultura têm os mesmos hábitos alimentares, ou seja, partilham a mesma variedade de comidas. Culturas diferentes, usam misturas diferentes, na alimentação. Poderemos dizer que as diferentes culturas demonstram diferentes escolhas alimentares. Aqui, a palavra “escolha” pode não representar uma decisão pessoal, mas uma imposição do ambiente. Quais são essas escolhas? O que as determina? Estas são as duas primeiras grandes perguntas, num estudo dos hábitos alimentares.

Dentro da mesma cultura, os hábitos alimentares podem não ser homogéneos. Como regra, não o são, de facto. Dentro de um estilo geral de alimentação, existem diferentes manifestações de variantes alimentares, para diferentes posições sociais. Pessoas, de classes sociais diferentes comem de maneira diferente. Em ocasiões festivas, em luto, ou até mesmo na rotina diária, come-se de maneira diferente. De acordo com diferentes seitas religiosas, ou credos, há códigos de alimentação distintos. Os homens e as mulheres, nos vários estágios das suas vidas, alimentam-se diferentemente. Indivíduos diferentes, têm gostos diferentes.

Algumas dessas diferenças, podem, ser atribuídas a preferências pessoais, mas outras podem ser impostas. Identificar, esclarecer e explicar essas diferenças, pode ser um trabalho interessante, para quem se dedica ao serviço da alimentação.

Finalmente, é bom ter em conta que muitas das modificações nos hábitos alimentares se podem também atribuir às diversas épocas, aos períodos históricos e à sua duração. Sabemos como os hábitos alimentares mudam e procuram adaptar-se aos dados e consequências da evolução da sociedade.

O estilo de alimentação de determinada cultura é, certamente e, antes de tudo, determinado pelos recursos naturais de que a sociedade dispõe.

Verificamos, assim, que cada região do planeta desenvolveu a sua cozinha na base da sua própria produção. Posteriormente, ao longo dos tempos, foram-se agregando novidades, às diferentes ementas. Foi assim com os italianos, que se beneficiaram das viagens de Marco Polo e dos seus contactos no Norte de África. Foi assim com os portugueses, que adicionaram aos seus cardápios, muitos dos pratos africanos e orientais, recolhidos nas suas viagens, e foi assim com os ingleses, nas suas andanças pelo mundo.

Nos dias de hoje, a culinária regional, ou nacional, dos diversos países está bastante divulgada, em função das migrações e do turismo.

Quem se dedica ao negócio da alimentação deverá possuir um bom conhecimento na matéria, para poder manter-se sempre na frente, numa profissão bastante difícil e que evolui a cada passo. É muito importante partilhar a crença dos chineses, que afirma que a maneira como a comida é preparada está na base de uma boa saúde e que a qualidade e a quantidade da comida ingerida são relevantes para a saúde do indivíduo. A alimentação afecta a saúde, de uma forma directa, em relação ao futuro, mas a selecção da comida, em determinado momento, deve ter em conta a própria saúde e as condições do indivíduo, nessa mesma ocasião. Chegamos, portanto, à consideração final: a comida também é remédio. Como tal, e importante que estejamos sempre atentos ao que comemos e ao que servimos aos nossos clientes.

 

Breve Introdução à Culinária

 

 

A evolução da raça humana é marcada pelo progresso das artes, pelos triunfos alcançados nas lutas contra as rudes condições da natureza e pelo desenvolvimento dos conhecimentos que permitiram ao homem ampliar e melhorar as suas condições de vida. 

Cozinhar é, assim, produto da evolução do ser humano, estando ligada à civilização, pois com o avanço do conhecimento, o homem foi sentindo necessidade dos benefícios trazidos pelo conforto.

No seu primitivo estado, o habitante da terra alimentava-se de frutos e raízes que comia tal como eram encontrados. Ao fazer nascer, pela fricção de duas pedras, uma faísca luminosa – o fogo – o homem deu um grande passo para melhorar a sua dieta, incluindo nela alimentos cozinhados. Essa faísca que crescia e rugia, crepitante e ameaçadora, produzindo ao contacto dor forte e insuportável, proporcionava-lhe também – ao aprender a controlá-la – vantagens das mais extraordinárias.

Com a progressão dos seus conhecimentos, tornou-se agricultor, pescador e caçador, abrindo caminho para o desenvolvimento da “Culinária” que nasceu com o princípio da cocção dos alimentos.

Ao estabelecer-se em comunidades, criou novos hábitos e idéias, tais como o direito de propriedade e a utilização da água na cozinha.

A floresta, o rio e o mar, tornaram-se insuficientes à sua ânsia de buscar novas variedades de comestíveis. A máxima “Comer para Viver” foi esquecida. O sal e os condimentos, bem como o vinho, tornaram-se companheiros inseparáveis da Culinária.

O necessário, não seria apenas viver, mas viver bem; viver o mais confortável e luxuosamente possível. Disso, veio o Império Romano dar-nos  exemplo e uma prova indiscutível.

Tal como se desenvolveram as artes, a cozinha também avançou; tal como surgiram vitórias sobre a pedra, em estátuas, túmulos e monumentos, das mãos dos cozinheiros começaram surgindo novas composições que deliciavam os paladares, entorpeciam os membros e tornavam a volúpia da mesa prazer único.

Em Roma, os jantares duravam dias seguidos. Os convivas, depois de saciados, deixavam a sala de jantar (Triclinium) e passavam a outro compartimento, onde se recompunham, para regressar depois ao seu lugar onde recomeçavam de novo.

Foi o grande triunfo da Culinária, que a partir de então se sobrepõe a tudo, na vontade do homem e no seu sentir.

Um bom cozinheiro é um grande senhor.

Nos tempos de luxúria da Grécia antiga, os cozinheiros sicilianos eram disputados e recebiam altos honorários pelos seus serviços. Entre eles, um, chamado Trimálcio, tomou-se famoso pela maneira admirável como cozinhava peixe.

Um chefe cozinheiro, nos tempos áureos de Roma, ganhava anualmente o equivalente a cerca de 600,00 euros, soma considerável para a época; Marco António, ofereceu uma cidade ao cozinheiro que fez o jantar, capaz de satisfazer Cleópatra.

São famosas, as ceias romanas dos tempos de Tibério, Calígula e Nero. Apício, gastrónomo conceituado e libertino famoso, descreveu através da sua literatura, o valor da ciência culinária de então.

A ocupação da Ibéria pelas legiões da República, influenciou a cozinha nativa, razão por que existe uma acentuada similitude, entre as especialidades típicas, portuguesas e italianas, descendentes directas das que até nós foram trazidas pelos cozinheiros dos generais romanos.

Com a queda do Império, a arte culinária caiu em menor consideração e; na Idade Média, os cozinheiros lutavam por impor-se e ganhar reputação, compondo novos molhos e fazendo estranhas combinações, em busca de novidade.

Foi na Europa Central que, gradualmente, a Culinária se foi impondo com a Renascença. Na França e nas cidades Estado da Itália, ressurgiram com grande opulência o esplendor e o luxo, bem como a sua cozinha. Entre todos os países do mundo porém, a França mantém ainda o primeiro lugar, pela excelência e o cuidado dos seus pratos.

A contribuição portuguesa foi enorme, pois no século XVI, com a descoberta do caminho marítimo para a Índia, Vasco da Gama tornou possível a menor preço, a utilização das especiarias vindas do Oriente nas suas naus. Mercê da grande procura das mesmas, pela sua necessidade em culinária, Lisboa elevou-se ao primeiro lugar das capitais comerciais da Europa desse tempo, competindo com Veneza, que até então detinha o quase monopólio da comercialização desses produtos.

A passagem dos portugueses pelo Japão, de algum modo influenciou a cultura da alimentação neste país. Muitas palavras do idioma ali usado, soam como portuguesas. Arigato e Tempura, talvez sejam algumas delas.

A pimenta, o cravinho, a canela e outros tão culinariamente necessários condimentos, até então caríssimos devido às enormes sobrecargas do transporte por terra – motivadas por penosas caminhadas através de desertos e pelos ataques dos piratas, salteadores de caravanas – tornaram-se mais acessíveis aos que confeccionavam os ágapes dos grandes senhores.

Essas tão disputadas sementes, foram fruto das invejas e ataques que os portugueses sofreram; da Espanha, como rival mais directo na conquista das terras donde elas provinham e, das repúblicas italianas, Holanda, Alemanha e potentados árabes, que antes os comercializavam, ou recebiam taxas de passagem pelos seus territórios, das caravanas de transporte.

Gostaríamos de deixar aqui, uma referência ao primeiro cozinheiro que se lembrou de ajudar os mais novos, ao produzir um Abregé de Cuisine profissional. Chamava-se Auguste Escoffier e tinha a nacionalidade francesa, embora estivesse trabalhando na Inglaterra quando apresentou o seu trabalho. Em Portugal, foi conhecido Manuel Ferreira com o seu Manual de Cozinha e Copa, excelente livro que apenas pecava por seguir a linha dos livros produzidos por senhoras da sociedade que gostavam de cozinha e escreviam livros de Culinária. Mas muitos foram os pioneiros desta grande Arte, que alguns chamam (e com razão) Ciência da Cozinha. Não poderemos fazer uma listagem, pois ela seria longa e alguns importantes nomes ficariam esquecidos. Foi ao seu esforço, à sua persistência, imaginação e poder criador que ficamos devendo o conceito que ela actualmente merece. Gutta cavat lapidem.

 

A evolução e o progresso da Culinária

Cozinhar é a elaboração artificial dos alimentos e tem como objectivo principal, preparar estes para a sucessão de modificações que irão sofrer na sua viagem através do corpo humano, conhecida como digestão e assimilação. Outra finalidade secundária é tornar itens eventualmente nocivos à alimentação, no seu estado natural, aproveitáveis para o consumo. Tanto a batata como a mandioca, por exemplo, seriam prejudiciais se não cozinhadas. Outros legumes se comidos crus, não teriam a mesma capacidade de satisfazer o paladar e facilitar a digestão.

 

Cozinhar tem se tornado uma verdadeira arte e evoluído de forma considerável. O cozinheiro tornou-se um filósofo e adora fazer demonstrações da sua capacidade para a satisfação de terceiros. Essa atitude só pode ser louvada e encorajada. Sobretudo em tempos como os de hoje, em que os fast-food e os preparados tendem a desencorajar arrojos culinários e aumentam os problemas de saúde e os obesos.

 

Razões para Cozinhar

Os alimentos são preparados e cozinhados por seis razões:

Para facilitar a mastigação.

Para beneficiar e abreviar e digestão.

Para transformar certas substancias, naturalmente danosas, em alimentos nutritivos.

Para eliminar elementos nocivos ou prejudiciais desenvolvidos nos alimentos. Como a tinha e a solitária, possíveis na vaca e no carneiro, ou a ténia e a triquina no porco.

Para combinar os alimentos nas proporções adequadas às necessidades do corpo.

Para torná-los saborosos ao paladar e agradáveis à vista.

Embora pareça que a ultima razão se conflita com a segunda, tal asserção não terá suporte se tivermos em consideração que o valor estético de uma agradável refeição é importante e se dermos razão ao aforismo popular de que “Os olhos também comem”.

É sabido que o aroma e a vista agradável de um prato desenvolvem a predisposição para a comida e os sucos gástricos necessários à sua absorção.

 

Acção do calor sobre os alimentos

É indiscutível (e devemos estar conscientes dessa verdade), que o calor altera a constituição química dos alimentos. Mas não a um ponto que mereça reprovação, pois muitos alimentos não poderiam ser usados pelo ser humano se não fossem cozinhados. Por isso o calor deve ser usado na sua exacta proporção e acompanhado com cuidado. A transformação de alguns é facilmente identificada, como a solidificação da clara de ovo desde o cremoso até ao duro; a modificação das fibras quando mirradas ou intumescidas, ou a apresentação da gelatina quando macia, ou seca e quebradiça.

Como todas as transformações têm a sua explicação e devem ser conhecidas pelos cozinheiros, é a exacta apresentação do produto que demonstra a qualidade do prato e separa aqueles que satisfazem o consumidor, dos que o deixam aborrecido e descontente.

 

Combinação dos alimentos

Ao preparar um prato, devemos estar sempre conscientes da necessidade de combinar os ingredientes na proporção exacta, de acordo com a sua constituição. Alguns alimentos são deficientes num aspecto, enquanto outros são excessivos, não só no mesmo como em outros. Uma pequena adição aqui e ali, torna-os mais nutritivos, mais fáceis de digerir e leva ao organismo os valores que este necessita. Todos os cozinheiros são induzidos a essa combinação, pela utilização dos vários instigadores do paladar ou do apetite. Ao arroz, rico em gomas, adicionam manteiga ou natas; com ervilhas servem um pouco de bacon; para o peixe, buscam o enriquecimento que o molho de ovos adiciona; o bife é balanceado com batata cozida ou “sautée”.

Mas nem sempre os hábitos da culinária devem ser cegamente seguidos, pois podem eventualmente necessitar de correcção. Há muita coisa a aprender para além do uso do simples estimulador do paladar ou do apetite.

 

Carbonatos e sais

Estes incluem o cloreto de sódio ou sal comum, os sais potássicos, o fosfato de cálcio e o ferro. O primeiro é o único que se adiciona como tal aos alimentos e deve ser dosado com cuidado, pois normalmente ele já está incluído em muitas das preparações apresentadas no mercado. Os sais potássicos estão presentes nas frutas frescas e nos legumes. O cálcio, tão necessário aos ossos e dentes, incorpora-se no leite e nos grãos. Quanto ao ferro, mais medicamento que alimento, é um importante componente do sangue que se encontra presente nos legumes frescos, estando também em quantidades variáveis na maior parte das águas.

 

Amidáceos e farinhas

Sendo alimentos baratos e de fácil aquisição, são encontrados na maior parte das preparações culinárias.

Pão, batatas, massas, arroz, trigo e cevada são constituídos de amido na sua quase totalidade, enquanto que, milho, araruta, sagu e tapioca, podem ser considerados como amido puro. As lentilhas, as ervilhas e o feijão, são leguminosas com grande quantidade de amido, embora sejam cotados como albuminóides. O leite não contém amido, mas inclui algum açúcar que substitui aquele. As crianças pequenas não devem ingerir amidos, pois não têm capacidade de digerir estes. A transformação do amido pelo calor produz dextrina, a qual se encontra sempre nos biscoitos, nos bolos e na codea do pão.

Açúcar e melaço são bons alimentos e substitutos dos farináceos, podendo no entanto produzir acidez em adultos com predisposição para tal. As crianças, como não estão sujeitas a essa alteração, podem encontrar nestes alimentos, se bem controlados, um bom suporte alimentar em vez dos farináceos que conduzem à obesidade.

As gorduras e os farináceos são considerados produtores de calor por serem oxidados ou queimados pelo corpo para manutenção da temperatura adequada deste. Deve existir porém cuidado na absorção dos últimos, pois quantidades exageradas levarão a que a gordura existente neles não seja totalmente consumida por desnecessária ao organismo, e por este armazenada, conduzindo à obesidade. A melhor forma de manter equilíbrio de massa corporal é através de exercícios físicos para oxidar os excedentes.

 

Gorduras

 A gordura, seja sob a forma de manteiga, natas, óleo, azeite, carne, bacon ou qualquer outro nome, é necessária em culinária, sendo notada a sua falta pelos que tem menos posses ou pelos que sendo doentes encontram dificuldade na sua digestão. Mas algum substituto pode sempre ser encontrado. Se digerida, qualquer gordura é boa. Óleo de vegetais, azeite, natas e óleo de peixe, são gorduras de fácil digestão, embora existam restrições ao seu uso em fritura, pois o calor decompõe o óleo e oxida-o em demasia, o que não é aconselhável para uma boa saúde.

Gorduras e farináceos, são alimentos que se substituem entre si dentro de certos limites. Devem ser consumidos em climas frios e com maior cuidado nos climas quentes.

 

Albuminosos

O termo albume ou albúmen, designa o tecido nutritivo rico em substancias alimentares que envolve o embrião de muitas plantas. Algumas vezes estas são indicadas como boas para a pele ou designadas alimentos nitrogenados ou azotados, porque contém nitrogénio ou azoto, o qual não se encontra nos farináceos, gorduras ou açucares. Tudo o que vive e cresce necessita de nitrogénio e ele se encontra em maior ou menor quantidade em todas as plantas e em todos os animais. Os nossos suprimentos de albuminas vêem da carne magra, peixe, aves, leite ou queijo, ovos, glúten, fibras de cevada, lentilhas, feijão e ervilhas. Esta pode ser encontrada também em sucos de vegetais, sementes e nozes, castanhas ou amendoas.

 

Fibras

Podem ser de origem animal ou vegetal. Da carne, legumes, frutas e cereais, obtemos a nossa ração quotidiana destas. Por essa razão, os talos de legumes e as cascas das frutas devem ser usados sempre que possível, bem como os legumes mais fibrosos, a cenoura, os brócolos, ou as couves, os nabos e as abóboras. Aqui, será também interessante lembrar que a casca da laranja dá uma excelente confiture, que da casca da melancia se faz uma boa compota e que com a casca do pepino um pouco mais grossa, se prepara um agridoce que pode ser servido como acepipe ou acompanhamento de vários pratos.

 

Métodos de Cocção

São seis, os métodos de cozinhar mais comumente usados:

Grelhar (na chapa ou nas brasas)

Assar (no forno ou directamente sobre o fogo)

Cozer no Forno

Cozer em Água

Guisar, Estufar ou Ensopar

Fritar

 

Grelhar na Chapa

As regras para este grelhado são as mesmas que para o grelhado nas brasas, pelo que a chapa não deve ser lisa mas sim ondulada, para permitir que a peça receba o calor sem queimar. Por outro lado, as marcas que ficam imitando as da grelha, são altamente decorativas para a peça.

 

Grelhar nas brasas

Preparar um brasido forte e uma grelha a altura regulável. Inicialmente, dar mais calor à peça para criar uma capa externa e depois afastar um pouco para cozinhar gradualmente. Voltar a peça com frequencia. Não picar a superfície da carne com garfo, nem cortar para ver se está cozinhada.

A carne deve ser voltada regularmente para que o cozimento seja uniforme e não apenas de um lado. Deve ser usada uma espátula na chapa e uma grelha dupla para grelhado sobre brasas. Não cozinhar em excesso. Um bom grelhado deve ficar “ao ponto” ou seja, com sabor ao suco da carne.

Só é aconselhável grelhar carnes macias e suculentas, pois de outro modo ficarão duras e secas.

Para grelhar peixe, pode ser usado um espeto além da grelha, ou embrulhar este em papel alumínio, marcando no final com ferro em brasa para enfeitar a peça. No caso de peixe aberto, grelhar primeiro do lado interno e depois voltar para o lado da pele, continuando a voltar até estar plenamente cozinhado. Se for salmão, grelhar sempre embrulhado em papel alumínio.

 

Assar no forno

O verdadeiro assado começou com a tradicional forma de cozinhar as carnes (por vezes animais inteiros) sobre o fogo, rodando-os com o auxílio de um espeto rotativo. Pela incapacidade de fazer fogueiras sempre que era necessário assar, começaram os assados a ser feitos nos lares ou lareiras interiores das casas, mantendo o sistema do espeto e do fogo. Com o tempo, foram sendo tentados os assados com temperos e molhos, feitos nos grandes fornos de pão que todas as grandes cozinhas mantinham. Este sistema agradou, pois as carnes adquiriam um sabor agradável pelos temperos adicionados e hoje, todos os assados ou a maior parte deles, são feitos no forno. Um dos segredos de um bom assado é seguir os critérios usados para o grelhado e conseguir nos primeiros minutos de cocção, que uma película firme se forme no exterior da peça, mantendo os sucos da carne no interior desta. Isto é conseguido, aumentando o calor no início do cozimento e reduzindo-o depois, afastando a peça do fogo ou baixando a temperatura do forno. Quanto maior a peça, menor deve ser o fogo, para que esta não fique queimada por fora antes de completamente cozinhada. Mas o critério de calor mais forte no início e mais fraco a seguir, deve ser observado pelas razões indicadas. Numa peça bem assada, a parte exterior deve estar dourada, mas lisa e uniforme, enquanto as fibras interiores devem apresentar-se macias e suculentas, sem passar demais. Quando o ponto certo é ultrapassado, as fibras começam a endurecer e a formar nódulos que tornam a mastigação desagradável e dificultam a digestão. Este fenómeno pode passar imperceptível em peças grandes, mas aparecerá com desagrado nas peças pequenas.

 

Assar no fogo

Os cuidados que indicamos para assar no forno, devem ser usados aqui. Para preparar a fogueira, podem ser usadas duas pedras de tamanho regular onde o espeto seja apoiado depois. As peças podem ser untadas com uma mistura de sal e óleo, à qual eventualmente se adicionem outros temperos ao gosto.

Para regular a cozedura da peça, esta pode ser salpicada com água, de forma a equilibrar o calor evitando que se queime em demasia.

 

Cozer no Forno

Este tipo de cocção apresenta aspectos semelhantes ao assado, mas a sua utilização é mais frequente em padaria ou pastelaria, embora usado também para outros como os estufados, nhóquis ou rizotto. A temperatura do forno é sempre maior do que a de água a ferver, mas os alimentos assim cozinhados não estarão muito mais quentes do que se fossem cozinhados em água até que tenham diminuído o conteúdo desta no seu corpo. A partir daí deve haver o maior cuidado, pois a possibilidade de se tornarem carvão vai aumentando progressivamente. O ar quente do forno é voraz no consumo de água e a evaporação é muito alta (este tipo de cocção compara-se ao de uma câmara de vapor quente) pelo que só deve ser usado para alimentos que tenham no seu corpo liquido suficiente para durar o tempo da cocção e quando esta estiver terminada, serem retirados. Um método a ser seguido, sempre que se queira usar o forno para reaquecer alimentos ou terminar uma cocção sem queimar as peças, é colocar dentro deste um recipiente com água para que esta, ao evaporar-se pelo calor, possa garantir a humidade necessária para que a peça se não queime.

 

Cozer em Água

Este é o tipo de cozinhado que todos acham ser o mais fácil. Com efeito, nada pode parecer menos fatigante ou perturbador do que o simples processo de cozer ou até estufar carne. No entanto, o sucesso deste método culinário tem muito a ver com o líquido e a forma como o processo é conduzido. A temperatura é importante; se para a cozedura, não faz muita diferença se a água está a fervilhar ou a borbulhar, pois a temperatura será a mesma e as peças seguirão a sua cocção ao mesmo ritmo, os resultados finais porém não serão os mesmos.

Carnes - Haverá uma grande diferença no resultado final da peça cozinhada em fogo lento, da que for preparada com cozedura rápida, pois esta ficará mais dura e menos suculenta. Para saber o lume exacto, deve conhecer-se algo mais sobre albúmen e a sua constituição. O item mais fácil de cozinhar é um ovo. A clara é constituída de albúmen e água; a gema compõe-se de albúmen, água, gordura e algum enxofre, sendo este albúmen de um carácter diferente. Sabemos que o albúmen começa a coagular aos 65 graus centígrados, transforma-se numa geléia mole aos 71ºC aproximadamente e, a partir daí rapidamente endurece. Os ovos devem portanto ser cozinhados com cuidado. Alguns recomendam que sejam colocados em água fervente e, retirado o recipiente do fogo, deixar estes se cozinhar. Outros indicam que o ovo seja colocado em água fria e deixá-lo ficar no recipiente até a água ferver, quando deve ser retirado.

Cada um encontrará a sua forma correcta de cozinhar o ovo, mas deve sempre faze-lo com cuidado para obter bons resultados. Ao cozer carne magra para consumir em cozido, estaremos também lidando com albúmen. Do mesmo modo que a gema de ovo endurece ao cozinhar, isso também acontece com a carne, pelo que alguns cuidados podem ser tomados. Um bom conselho é seguir o indicado para os grelhados. Colocá-la na água quando esta já estiver a ferver para lhe dar um aperto forte e criar uma capa externa; depois, terminar a cocção em fogo brando, para que os sucos da carne se mantenham dentro desta. Se a carne for cozinhada para sopas ou caldos e o objectivo for extrair os sucos desta, o albúmen solúvel e o máximo possível da gelatina contida nas fibras, a prática será a de multiplicar as faces de extracção cortando a peça em pedaços, colocar esta em água fria e, em fogo brando, levar a água até ao ponto de ebulição. Como se vê, para fins contrários, actos contrários.

Farináceos - O macarrão, arroz, sagu, milho e outros semelhantes, devem ser sempre mantidos em água fervente, para se beneficiar da movimentação originada pelo borbulhar e evitar que se formem granulos ou que as peças parem e se colem ao fundo do recipiente. Além de mexer é claro.

Peixe - Se o peixe for cozido para consumir como tal (queremos dizer, se não for uma caldeirada ou semelhante) é de toda a conveniência usar o método indicado para a carne, de colocar o peixe quando a água já estiver a ferver e depois baixar o lume para que a cocção seja terminada em fervura lenta. O sal, um pouco de suco de limão ou vinagre podem ser adicionados à água, pois o albúmen coagula mais rapidamente ao contacto com ácidos, o que favorece a firmeza da textura do peixe.

Legumes - A maioria dos vegetais e, aceitamos que possa haver algumas excepções, também devem ser colocados para cozer em água já a ferver e não em água fria.

 

Guisados, Estufados ou Ensopados

Guisado é a preparação das peças ao fogo, em uma cocção longa, com pouco líquido. O resultado final é um prato consistente e suculento com pouco molho, compacto e espesso.

Estufado é normalmente uma cocção idêntica ao guisado, mas no forno e com mais líquido. O prato final apresenta-se menos homogéneo e com molho. A Chanfana ou Lapantana é um excelente prato de forno, mais estufado que assado, embora eu conheça casos de quem a prepare no fogão com bastante molho.

Ensopado é uma derivação do Estufado, com mais molho e servido sobre uma camada de fatias de pão duro ou torrado, as quais absorvem o molho excedente, ensopando este. As Caldeiradas e similares, são a meu ver sopas, podendo em certos casos ser enquadradas na classificação de estufados ou ensopados dependendo da sua apresentação.

De uma forma geral, estes pratos requerem menos calor do que os cozidos, para a sua confecção; 74ºC é a temperatura mais aconselhável. A iguaria a ser cozinhada, partilha muito do seu sabor com o líquido que a envolve, o qual não deve portanto ser desperdiçado. Para este tipo de cocção, é menor a quantidade de líquido necessária do que para cozer. È também o processo adequado para carnes gelatinosas ou fibrosas, pois o período mais longo de cocção com menor temperatura, torna a gelatina e as fibras facilmente assimiláveis pelo aparelho digestivo. Por outro lado, nada se perde nesta preparação. Tudo o que se colocar na caçarola aparece no final. Pode ser usado para carnes de menor custo e necessita pouca atenção embora mereça cuidados. Um bom guisado é uma excelente demonstração de culinária. As peças podem ser ligeiramente passadas no sauté antes de cozinhar, pois isto dá-lhes uma cor agradável e preserva os sucos, criando nelas a capa exterior de que temos falado. O guisado não deve ferver ou borbulhar, mas desenvolver-se tranquilamente, com um leve rorejar nos bordos da caçarola. Para os que usam adicionar nabos ou cenouras ao guisado, aconselhamos a que escolham estes novos e macios, ou os cozam antes, guardando a água de cozedura para fazer o prato. Não deve ser colocado muito líquido inicialmente num guisado, pois a carne já segrega algum suco e a cocção a lume brando provoca pouca evaporação. Se necessário, o líquido pode ser corrigido durante a preparação.

 

Fritar

Fritar é muitas vezes descrito como cozer em gordura. Nada mais errado, pois a gordura não é cozida e a peça nem sempre é imersa na gordura. É no entanto a forma mais rápida de cocção, pois a gordura derretida ou o óleo, podem ser elevados a altas temperaturas e ao seu contacto, o item nelas infuso é rapidamente aquecido e transformado. As temperaturas de que falamos estão sempre acima do ponto de fervura e a mais indicada, embora possa variar um pouco de acordo com o tipo de gordura utilizado é entre 177ºC e 205ºC.

Fritura seca - É assim chamada, devido à pouca quantidade de gordura usada para cozinhar as peças. Pode começar com a frigideira apenas untada, até uma leve camada de gordura cobrindo o fundo. Seja qual for porém a quantidade de gordura usada, esta deve sempre estar bem quente no momento de lhe incluir a peça a fritar.

Fritura por imersão - Também conhecido como frito à francesa este método é melhor e mais económico do que o anterior, para cozinhas de muito movimento. Pode ser usado com qualquer utensílio que tenha profundidade suficiente para a imersão total da peça durante a fritura e é aconselhável que para peças pequenas ou delicadas seja utilizado um cesto de arame ou algo semelhante.

Todas as gorduras podem ser usadas para fritar, mas alguns conhecimentos sobre o assunto são necessários. Gorduras de vaca estão desatualizadas. Gordura de porco deixa um sabor nos alimentos que não agrada a todos os paladares. Deve ser usada apenas quando a receita o indique. A margarina e a manteiga queimam muito rapidamente, sendo aconselhadas apenas para molhos rápidos. Os óleos vegetais são os mais indicados para fritura, embora o mercado já apresente óleos especiais que agüentam altas temperaturas sem oxidar. A grande pergunta que se coloca é - Qual o melhor óleo de fritura?

– canola, girassol, soja? E o azeite, quando pode ser usado?

Sem querer exarar uma opinião definitiva, direi que os óleos mais indicados são: o de arroz refinado (ele faz com que os alimentos absorvam 20% menos de gordura), amendoim (tem ponto de saturação alto, acima de 220°C) soja, milho e azeite (não o extra virgem, que apenas deve ser consumido cru).

 

Alguns conselhos aos novos cozinheiros (ou aos amadores)

As faltas mais comuns, cometidas por quem começa na Cozinha, são:

Não prestar suficiente atenção à receita.

Não dar criteriosa atenção aos detalhes da preparação.

Não ter paciência para esperar o tempo necessário a um bom cozinhado.

Desconhecimento da verdadeira participação do calor em Culinária.

 

É sabido que a preparação de sopas e bons molhos é um teste para a qualidade dos cozinheiros. Ora, tanto sopas como molhos (com algumas excepções que só comprovam a regra) precisam de uma boa preparação prévia e muita atenção durante o cozinhado. O tempo devotado a planear, limpar, cortar, aparar ou acomodar as peças, não é tempo perdido. Ele irá se reflectir na facilidade da confecção e nos resultados finais do prato.

Quanto à utilização do calor, é sempre bom ter em conta nos cozidos e assados que a temperatura deve ser mais alta no início para prevenir perda de nutrientes, mas que deve ser menor durante a cocção, para evitar que a peça fique causticada e seca. Nos guisados, contudo (e isto também se aplica às sopas), o calor deve ser moderado e a cozedura lenta.

Todos os pratos devem ser correctamente temperados com os necessários condimentos durante o processo da confecção, com excepção das carnes assadas em que a adição de sal é aconselhável apenas um pouco antes de servir.

A água é um solvente, pelo que todos os vegetais e carnes devem ser passados por água a ferver, a menos que se destinem a sopas, onde o seu sabor próprio seja necessário.

Se desejar preparar receitas suas, tenha o cuidado de não enveredar pelo caminho errado de que se os temperos são bons, quanto mais variedades puser melhor ficará o prato. Os sabores têm o seu caracter próprio e quando muito misturados, acabam se chocando e perdendo o valor individual sem vantagens para o resultado final.

Para emergências, um bom substituto das natas é uma mistura de leite, um pouco de manteiga e farinha.

Ter sempre em mente que cada tipo de alimento tem uma forma própria de ser preparado. O que é bom para um pode não ser adequado para outro. Do mesmo modo, o tamanho da peça também influi na sua forma de preparação. Enguias grandes darão uma boa caldeirada, mas se forem pequenas é melhor fritar. Do mesmo modo, carne para cozer não deve ser preparada de outro modo e um filé mignon não dará nunca um bom Cozido.

 

Quantidades e tempo

Balanças e pesos podem ser desejáveis na cozinha, mas não são necessárias para a boa confecção de um prato. Embora sejam indispensáveis para uma boa preparação de pastelaria. As necessidades são diferentes. Na Cozinha, o que vale é o dedo do mestre. Na Pastelaria, o que vale é a equivalência dos vários itens entre si. E aqui, mais ainda do que na Cozinha, o acompanhamento do calor é de importância vital. O tamanho dos ovos pode ter influencia numa mistura. As quantidades precisam ser exactas ou os resultados não serão satisfatórios.

Com esta pequena introdução, pretendi apenas ajudar, facilitando o trabalho dos mestres ao alertar os candidatos a cozinheiro, para as necessidades e responsabilidades que o cargo implica. Temos em Portugal uma boa tradição de bons cozinheiros que espero se manterá no futuro.

Um abraço para todos os que enveredarem por esta profissão tão dignificante.

È bem conhecido o aforismo “Boa mesa faz bons amigos”.

Boa Sorte e que assim seja!

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

 

EDUCAÇÃO AMBIENTAL


TURISMO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

 

O turismo não sobrevive sem o meio ambiente, pelo que todo o cuidado que se possa ter nunca será demais.


      “A educação para o turismo ambiental deverá ser desenvolvida através de programas informais, conclamando o pessoal de hotelaria e  o “cidadão-turista” a uma participação consciente na protecção do meio ambiente, não apenas durante as suas férias, mas também no quotidiano, e no local da sua residência permanente. (Ruschmann[1], 1997, p. 75).

 



Ecoturismo ou Turismo Ambiental

O ecoturismo é originado pelo desejo que todos sentimos de estar em contacto com a natureza, e visa explorar o potencial turístico desta, objectivando a sua conservação e desenvolvimento, evitando o impacto negativo à ecologia, à cultura e à estética. Como o turismo é uma actividade económica com grande crescimento nas últimas décadas em todo o mundo, as áreas naturais e os ricos patrimónios histórico-culturais, estão a ser explorados e valorizados pelo turismo ambiental, ou seja, o ecoturismo.

    Este é pois um segmento dentro do turismo e, infelizmente, ainda mal conduzido, pelo que os seus impactos negativos já se manifestam, embora através da educação, possam ser minimizados. A educação ambiental deve ser desenvolvida a um nível geral mas, sobretudo, em comunidades com carência económica que apresentem potencial para desenvolver o ecoturismo, visando evitar que esses impactos passem despercebidos e possam ser detectados por toda a população, para que esta se mobilize no sentido de evitá-los. Não basta apenas desenvolver o ecoturismo, é preciso que ele obedeça a um planeamento, e possa se transformar numa forma de  turismo sustentável.

    A nossa opinião apenas ecoa o que verificamos no quotidiano, pois outras opiniões interessadas em ajudar a resolver estes problemas são acrescentadas com frequência à literatura turística, como a da Dra. Doris Ruschmann quando diz que “o planeamento é uma actividade que envolve a intenção de estabelecer condições favoráveis para alcançar os objectivos propostos”.

    E segundo propostas de outros autores, o planeamento deve envolver: 

·       Políticas para implementação de equipamentos, actividades, e seus respectivos prazos;

·       Coordenação e controlo do desenvolvimento espontâneo;

·       Prover os incentivos necessários para estimular a implantação de equipamentos e serviços turísticos, para órgãos públicos e privados;

·       Garantir que espaços necessários ao desenvolvimento turístico não sejam utilizados para outras actividades económicas;

·       Minimizar a degradação dos locais e recursos sobre os quais o turismo se estrutura, e proteger aqueles que são únicos;

·       Capacitar os vários serviços públicos para a actividade turística;

·       Garantir a introdução e o cumprimento dos padrões reguladores exigidos da iniciativa privada;

·       Atrair financiamentos nacionais ou internacionais e assistência técnica para o desenvolvimento do turismo e a preservação ambiental;

·       Coordenar o turismo com outras actividades económicas, pela integração do seu desenvolvimento aos planos económicos e físicos existentes. 

 

Todo o planeamento turístico deve ser cauteloso, pois os impactos negativos causados pelo turismo são intimidantes.

    Doris Ruschmann, no seu trabalho, alerta para o facto de que “um planeamento bem elaborado, consegue solucionar com eficiência os problemas futuros e muitas vezes evitá-los”.

    O ecoturismo, por estar ligado directamente ao meio ambiente e depender dos recursos naturais para se concretizar, é um dos segmentos do turismo com maior impacto negativo ambiental, embora também cause impactos positivos, que analisaremos adiante.

 

Análise do Ecoturismo e dos seus impactos

O turismo como actividade económica, gera impactos que muitas vezes são irreversíveis, e este seu segmento, ainda não totalmente conhecido e não muito pesquisado, provoca também danos à natureza pelo que, se não for bem planeado, pode ser desastroso. O lado positivo do ecoturismo é que o seu desenvolvimento leva à criação de áreas de protecção ambiental, para permitir que esta actividade se possa manter de uma forma sustentável.

Começa com ele a dar-se mais atenção à educação ambiental que, de acordo com o conceito dos Parâmetros Curriculares gerais, “é a contribuição para a formação de cidadãos mais conscientes...”

O ecoturismo aparece assim como a união do útil ao agradável ou seja, a sustentabilidade do sistema, ligada a uma educação ambiental para o uso adequado do meio ambiente. Ao fazer uma abordagem deste tema, é porém impossível dissociar o ecoturismo dos seus impactos ambientais, os quais são como tudo na vida, negativos e positivos. O homem e a natureza formam uma parceria que até hoje ainda não deu certo, mas que pode mudar se isso for o desejo da maioria.

O futuro da humanidade vai depender de como a questão ambiental vem sendo considerada actualmente. O desperdício de recursos naturais cresce abusivamente, sendo raramente punidos os responsáveis.

O descaso com que o meio ambiente vem sendo tratado é explícito, e a visão que se apresenta de grandes cidades-lixeiras não é animadora. O ar é poluído pelas indústrias e pelos meios de transporte, entre outros. A poluição visual prolifera, destruindo o aspecto e o encanto das cidades. E no campo e na floresta, a poluição sonora incomoda os animais, afastando-os dos seus ambientes naturais.

O lixo gerado pelas populações é uma grande preocupação, tornando desesperadora a necessidade de reciclar. Os rios tornaram-se grandes cloacas e as praias recebem lixo, tanto dos turistas quanto dos moradores, fazendo com que os mares sofram as consequências. Mas, tanto os navios como os portos, são também grandes poluidores das suas águas.

O mundo em geral preocupa-se com o sector económico, e o nosso país não se carácteriza por uma tradição de preocupação ambiental...

Quando Cabral chegou ao Brasil, o único interesse era o retorno económico, pois naquela época o turismo era desconhecido.

O meio natural encontra-se esgotado pelos maus tratos do ser humano, situação que pode ser modificada com um planeamento ambiental.

A preocupação sobre os impactos do turismo mal conduzido é grande, e as Dras Magda Lombardo e Luana Casella[2], professoras de faculdades paulistas que também se debruçaram sobre este assunto, opinam que  “...planear é escolher os melhores meios para se obterem determinados objectivos...”.


    Coordenação e controlo do desenvolvimento espontâneo;

·         Prover os incentivos necessários para estimular a implantação de equipamentos e serviços turísticos, para órgãos públicos e privados;

  • Garantir que espaços necessários ao desenvolvimento turístico não sejam utilizados para outras actividades económicas;
  • Minimizar a degradação dos locais e recursos sobre os quais o turismo se estrutura, e proteger aqueles que são únicos;
  • Capacitar os vários serviços públicos para a actividade turística;
  • Garantir a introdução e o cumprimento dos padrões reguladores exigidos da iniciativa privada;
  • Atrair financiamentos nacionais ou internacionais e assistência técnica para o desenvolvimento do turismo e a preservação ambiental;

·         Coordenar o turismo com outras actividades económicas, pela integração do seu desenvolvimento aos planos económicos e físicos existentes. 

Todo o planeamento turístico deve ser cauteloso, pois os impactos negativos causados pelo turismo são intimidantes.

    O ecoturismo, por estar ligado directamente ao meio ambiente e depender dos recursos naturais para se concretizar, é um dos segmentos do turismo com maior impacto negativo ambiental, embora também cause impactos positivos, que analisaremos adiante.

 

IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO ECOTURISMO

 

    São grandes e em parte irreversíveis, os abalos causados pelo ecoturismo, pois é impossível dissociar os impactos ambientais das suas consequências sobre os espaços e as comunidades humanas das localidades vizinhas aos equipamentos de hospedagem.

   

Com a devida vénia,  e o respeito que nos merece a douta senhora, não resistimos a citar aqui ipsis verbis os Impactos Negativos citados pela Dra.Doris Ruschmann, para que possa haver deles uma maior divulgação, visando a que sejam evitados:

 

·      Acúmulo de lixo nas margens dos caminhos e das trilhas, nas praias, nas montanhas, nos rios e nos lagos;

·       Uso de sabonete e de detergentes pelos turistas, contaminando a água dos rios e lagos, comprometendo a sua pureza e a vida dos peixes e da vegetação aquática;

·       Contaminação das fontes e dos mananciais de água doce e do mar, perto dos alojamentos, provocada pelo lançamento de esgoto e lixo in natura nos rios e no oceano;

·       Poluição sonora e ambiental;

·       Colecta e quebra de corais no mar e de estalactites e estalagmites nas grutas e cavernas para serem utilizados como “souvenirs”;

·       Alteração da temperatura das cavernas e grutas e aparecimento de fungos nas rochas, causados pelos sistemas de iluminação;

·       Pinturas e rasuras nas rochas ao ar livre, dentro das cavernas e grutas, onde os turistas querem registar a sua passagem;

·       Colecta e destruição da vegetação às margens das trilhas e dos caminhos nas florestas;

·       Erosão de encostas devido ao mau traçado e à falta de drenagem das trilhas;

·       Alargamento e pisoteio da vegetação das trilhas e dos caminhos;

·       Ruídos que assustam os animais e provocam a sua fuga;

·       Turistas que alimentam os animais mais dóceis com produtos que contém conservantes, e provocam doenças ou até a morte destes;

·       O lixo e o abandono de restos de comida ao ar livre;

·       Caça e pesca ilegais, em locais e épocas proibidas;

·       Incêndios nas áreas mais secas, provocados por cigarros, fogueiras, etc.;

·       Desmatamento para a construção dos albergues e de equipamentos de apoio.

  

Embora os impactos positivos sejam poucos, não são suficientes para criar desanimo, pois o ecoturismo é uma opção válida se bem conduzida.


Impactos Positivos

 

Ainda segundo Doris Ruschmann, que além de profissional do turismo é também professora e uma pesquisadora inabalável na sua luta em defesa do meio ambiente, o número de impactos negativos supera os positivos, mas ela chama a atenção para o facto de que só existirão turistas enquanto existirem áreas naturais, e que estas deverão ser defendidas pelos que as estão utilizando, através da adopção de atitudes responsáveis as quais podem ser:

·       Criação de áreas, programas e entidades (governamentais e não-governamentais) de protecção da fauna e da flora. 

 

    A educação ambiental é o primeiro passo de uma longa marcha que precisa ser feita, para concretizar o processo de transformação do pensamento humano, e conscientizar as pessoas de que este é um trabalho difícil e demorado. Fazer um planeamento ambiental é fácil, mas concretizá-lo leva um pouco mais de tempo. Mudar os conceitos sobre a natureza e o seu uso, enraigados no espírito das populações, será um trabalho longo. É necessário que os objectivos mencionados para o desenvolvimento do turismo sustentável saiam rápido do papel para que possam ser praticados.

A preservação do meio ambiente é de suma importância para a sobrevivência da humanidade e esta, infelizmente, ainda não se apercebeu do perigo que corre se não preservar o seu habitat. Em nossa opinião, este tema mereceriauma disciplina nas escolas a partir do primário.

 

PROTECÇÃO AMBIENTAL

 

O simples facto de o hoteleiro considerar a gestão ambiental como uma obrigação a seguir, pode ter, e geralmente tem, uma importância estratégica de resultados palpáveis. Isso ocorre porque o grau de sensibilidade demonstrado e adoptado pela cúpula da administração para com o meio ambiente já deixa antever à clientela, a qualidade na gestão do estabelecimento, sobretudo em hotéis de férias, nos quais a natureza desenvolve um papel preponderante.

Se consultar-mos a NBR-ISO 14.004, podemos avaliar os princípios e elementos necessários para a elaboração de um SGA, uma vez que se pode ler o seguinte: (o negrito é nosso)

 

Comprometimento e política - é recomendado que uma organização defina a sua política ambiental e assegure o comprometimento com o seu  SGA.

Planejamento - é recomendado que uma organização formule um plano para cumprir a sua política ambiental.

 Implementação - para uma efectiva implementação, é recomendado que uma organização desenvolva a capacitação e os mecanismos de apoio necessários para atender a sua política, os seus objectivos e metas ambientais.

Medição e avaliação - é recomendado que uma organização mensure,  monitore e avalie o seu desempenho ambiental.

Análise crítica e melhoria - é recomendado que uma organização analise criticamente e aperfeiçoe continuamente o seu sistema de gestão ambiental, com o objectivo de aprimorar o seu desempenho  ambiental global.

                     

AVALIAÇÃO AMBIENTAL INICIAL

 

O processo de implantação de um sistema de gestão ambiental, começa pela avaliação ambiental inicial. Esse procedimento deve ser realizado com recursos externos, seja por consultores autónomos ou por firmas de consultoria ambiental.

Inicialmente, as empresas não conseguem perceber as suas deficiências em termos de meio ambiente, devido aos seguintes factores:

 

-          Falta de percepção ou consciencialização ecológica de dirigentes e colaboradores.

-          Forma tradicional de produção, sem tratamento de efeitos poluidores, ou sem precauções no processo industrial.

-          Redução de despesas a qualquer custo, em detrimento do meio ambiente.

-          Manutenção da competitividade dos sectores, sem cuidar das questões ambientais.

-          Falta de controlo ou fiscalização por parte dos órgãos ambientais competentes.

           

A avaliação ambiental inicial, por outro lado permite às empresas:

 

-          Conhecer o seu perfil e o seu desempenho ambiental.

-          Adquirir experiência, na identificação e análise de problemas ambientais.

-          Identificar pontos fracos que possibilitem obter benefícios ambientais, e até económicos, muitas vezes óbvios, mas não detectados.

-          Tornar mais eficiente a utilização de matérias-primas e insumos.

-          Beneficiar de subsídios para fixar a política ambiental a ser seguida na empresa.

 

As técnicas mais comuns para esta avaliação podem incluir:

 

-          Aplicação de questionários previamente desenvolvidos.

-          Realização de entrevistas dirigidas, com registo dos resultados obtidos.

-          Utilização de listas de verificação pertinentes às carácterísticas da empresa.

-          Inspecções e medições directas em casos específicos.

 

COMPROMISSO

 

A política ambiental, deve ter um senso de orientação. Por outro lado, deve fixar os princípios de acção que melhor se adaptam ao perfil da empresa e à sua postura em relação ao meio ambiente.

Tendo como base a avaliação ambiental inicial ou, no caso de empresas que já pratiquem algum dos processos neste sentido, uma revisão que permita saber em que ponto se encontra a empresa no campo ambiental; este é o momento de a empresa definir claramente os objectivos a atingir.

O objectivo maior é obter um compromisso e uma política ambiental definida para a empresa. Esta não deve apenas conter declarações vagas, tem de mostrar um posicionamento definido e forte.

Muitas empresas incluem a política ambiental na missão que constitui a síntese dos seus propósitos.

A política ambiental, tal como a de qualidade, deve estar disseminada e ser partilhada em toda a empresa, tanto nas áreas administrativas como operacionais e deve ser conhecida e aceite, pelas hierarquias, tanto de baixo para cima, como de cima para baixo – das mais altas camadas da administração até à produção.

Ao adoptar uma política ambiental, a empresa deve escolher as áreas onde o cumprimento da legislação e das normas ambientais vigentes implicam potenciais problemas e riscos ambientais para a empresa. Esta, deve ter o cuidado de evitar fórmulas demasiadamente genéricas, como por exemplo: “comprometemo-nos a cumprir a legislação ambiental”.

É óbvio que qualquer empresa, com ou sem política ambiental declarada, deve obedecer a legislação vigente. O compromisso com o cumprimento e a conformidade, é que demonstra a importância que esta tem para a empresa, pois a adopção de um SGA é voluntária e, nenhuma empresa é obrigada a adoptar  espontaneamente, procedimentos ambientais.

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Texto elaborado com consulta aos autores assinalados

 

Ao lançar em 2001 o Livro Verde, a Comissão Europeia apresentou as linhas gerais para o que seria a gestão de melhorias do Ecosistema numa base voluntária, mas deixou antever também algo muito importante no horizonte das empresas e dos negócios: a idéia de que a responsabilidade social é um conceito segundo o qual, as empresas podem também contribuir para uma sociedade mais justa, além de para um ambiente mais limpo. A gestão dos empreendimentos não pode, ou não deve, ser norteada apenas para o cumprimento dos interesses dos seus titulares, mas também para os de outros detentores de interesses, como por exemplo os trabalhadores, as comunidades locais, os clientes, os fornecedores, as autoridades públicas, os concorrentes e a sociedade em geral. Um grupo de professores da Universidade do Minho, Escola de Economia e Gestão, de Gualtar[3]opina, num trabalho seu sobre o conceito de responsabilidade social, que ele deve ser entendido a dois níveis.

“O nível interno, que apesar de vinculado aos trabalhadores precisa também ter em conta, outros integrantes atingidos pela empresa, que eventualmente influenciem os seus resultados.

O nível externo, para avaliar as consequências das acções da organização sobre os seus agregados, tais como, o ecosistema, os seus parceiros de negócio e o ambiente circundante”.

 

Factores elementares para o conceito da RSE

 

São vários os factores que originaram a necessidade de imputar às organizações uma responsabilidade ampliada. Num contexto de globalização e de mutação industrial em larga escala, emergiram novas preocupações e expectativas dos cidadãos, dos consumidores, das autoridades públicas e dos investidores. Os indivíduos e as instituições, quer como consumidores quer como investidores, adoptam cada vez mais, critérios sociais nas suas decisões e avaliam os produtos que compram, através dos seus rótulos sociais e ecológicos. Os danos causados ao meio-ambiente pelas actividades económicas, têm gerado preocupações crescentes entre os cidadãos e  levado as entidades colectivas a pressionar as empresas no sentido da observância de requisitos de protecção ambiental, bem como à exigência junto das entidades reguladoras, legislativas e governamentais, para a formação de quadros legais voltados para a vigilância da sua aplicação. Os meios de comunicação social e as modernas tecnologias da informação e da comunicação, têm submetido a actividade empresarial e económica à obrigação de uma maior transparência, do que resulta um conhecimento mais rápido e mais profundo das acções empresariais, com resultados perceptíveis na reputação e na imagem das organisações.

A definição de Responsabilidade Social orienta os indivíduos e as empresas para o cumprimento dos deveres e obrigações destas para com a sociedade em geral, embora alguns sociólogos entendam que existem ainda outras definições aplicáveis sob o rótulo de responsabilidade social, como a forma de retribuir por algo alcançado ou permitido, ou pela modificação de hábitos e costumes, ou do perfil do sujeito ou local que recebe o impacto. Neste caso, poderiamos incluir a transformação de determinada região em polo turístico, o que acarretaria transtornos para alguns e prejuízos para muitos, devido ao possível aumento do custo de vida, perda da tranquilidade e da privacidade e aumento de riscos, a menos que isso tenha relevancia social e seja de amplo espectro de aplicação, tornando mais fácil o acesso à educação, desporto, cultura, ou trabalho, entre outros, à comunidade local envolvida.

 

Responsabilidade social corporativa

 

Esta definição engloba o conjunto de acções que serão obrigação das empresas, no sentido de minimisar os impactos negativos originados no seu relacionamento com a sociedade, levando em consideração a economia, educação, meio-ambiente, saúde, transporte, moradia, actividades locais e edilidades ou governo. Essas acções visam a optimização ou criação de programas sociais em benefício mútuo, para melhorar a qualidade de vida local, e não apenas a criação de postos de trabalho, numa actuação conjunta da empresa e da própria população.Responsabilidade Social Empresarial, designa a forma de gestão ética e transparente que a organização deve empregar,  para minimizar os possíveis impactos negativos da sua presença, no meio-ambiente e na comunidade, aceitando que é prudente considerar a existência de duas partes interessadas, e objectivar um canal de diálogo.

Visões de Responsabilidade Social

 

Melo Neto e Froes[4] estudaram exaustivamente este assunto e através de texto escrito em 2001, acentuaram que a melhor maneira de avaliar o conceito de responsabilidade social empresarial é identificar as diversas visões existentes, as quais são passíveis de análise:

 

Como atitude e comportamento empresarial ético e responsável: É dever e compromisso da organização assumir uma postura transparente, responsável e ética nas suas relações com os seus diversos públicos (governo, clientes, fornecedores, comunidade, etc.)

Como um conjunto de valores: Não incorporar apenas conceitos éticos, mas uma série de outros conceitos que lhe proporcionem sustentabilidade, como por exemplo, auto-estima dos funcionários, desenvolvimento social e das comunidades onde se inserem.

Como postura estratégica empresarial: A admissão voluntária da responsabilidade social pela empresa, é vista como uma acção social estratégica que gera retorno positivo aos negócios, ou seja, os resultados aparecem através do facturamento, das vendas, ou da participação no mercado (market share).

Como estratégia de relacionamento: A obrigação imposta pela responsabilidade social, pode ser trabalhada e usada como estratégia de promoção, pela qualidade do relacionamento usado com os seus diversos públicos-alvo, especialmente com clientes, fornecedores e distribuidores.

Como estratégia de promoção institucional: Os investimentos em actividades sociais seguidos pela empresa, podem traduzir-se em ganhos institucionais e na sua visão pública de empresa-cidadã, pelo foco dessas acções na imagem da empresa. 

Como provimento de valorização das acções da empresa na Bolsa: Uma pesquisa identificou que 70% do valor de mercado de uma empresa dependem dos seus resultados financeiros. Os outros 30% dependem da sua reputação no mercado.

Como política de recursos humanos: As acções geradas pelo sentimento de responsabilidade social são centradas nos colaboradores e nos seus dependentes, com o objectivo de satisfazê-los e consequentemente reter os seus talentos e aumentar a produtividade.

Como estratégia de valorização de produtos ou serviços: O objectivo aqui não é apenas comprovar a qualidade dos produtos ou serviços da empresa, mas também proporcionar-lhes o status de “socialmente correctos”.

Como senso de inserção na comunidade: A empresa busca através dos seus esforços, aprimorar as suas relações com a comunidade onde se insere e a sociedade em geral,  bem como a definição de novas formas para continuar nela inserida.

Como busca de desenvolvimento social na comunidade: A empresa é vista como uma possibilidade para o desenvolvimento social da comunidade. Dessa forma, a organização passa a assumir o papel de agente do desenvolvimento local, junto com outras entidades comunitárias e a própria edilidade ou o governo.

Como promotora da cidadania individual e colectiva: A empresa, através de atitudes e procedimentos, ajuda os seus colaboradores a tornarem-se cidadãos respeitados e contribui para a promoção da cidadania na sociedade e na comunidade.

Como exercício de consciência ecológica: A organização é sentida como preponderante na protecção ambiental. Ao criar e investir em programas de educação e preservação do meio ambiente,  torna-se consequentemente uma difusora de valores e práticas ambientalistas.

Como prática de capacitação profissional: Neste caso, o exercício da responsabilidade social verifica-se pela capacitação profissional dos membros da comunidade e empregados da empresa.

Como estratégia de integração social: Este conceito parte do pressuposto de que o maior desafio histórico da sociedade actual é o de criar condições para que se atinja a efectiva inclusão social nas comunidades.

Como são muitas as interpretações e definições de Responsabilidade Social Empresarial, cada empresa escolhe actuar perante a sociedade da forma que acha mais conveniente, e por não haver um significado preciso de responsabilidade social, surgem análises com diferentes conceitos – responsabilidade social como obrigação social (Friedman, 1970); responsabilidade social como aprovação social (Davis e Blomstrom, 1975) e responsabilidade social como abordagem generalizada dos accionistas (Zadek, 1998).

Numa análise detalhada às origens deste movimento, verifica-se que ele teve início na necessidade de garantir direitos trabalhistas fundamentais e na luta para a afirmação do direito a produtos e serviços seguros, bem como à protecção contra condutas abusivas e à penalização das más práticas comerciais.

Quando esses direitos básicos passaram a ser garantidos por lei, o movimento  abordou questões relativas à qualidade e ao desempenho dos produtos e serviços oferecidos no mercado, momento em que muitas organizações de consumidores se dedicaram a testar produtos e serviços e a reivindicar melhorias nos padrões de qualidade. Actualmente, e porque os impactos da globalização da economia se tornaram  mais evidentes, verifica-se que o movimento avança para uma nova fase, em que boa parte dos consumidores se conscientiza da responsabilidade envolvida no próprio acto de consumir.

As grandes empresas expandiram-se pelo globo para alargar os mercados, mas também, em certos casos, em busca de países com legislação mais tolerante em relação a questões trabalhistas e ambientais, dando origem a uma classe de consumidores que utiliza os mesmos produtos e serviços em diferentes pontos do planeta mas, paralelamente, tem acesso a um grande volume de informações. O actual modelo económico, porém, é considerado insustentável não só pelos danos que acarreta para o meio-ambiente, mas também porque propicia um alto padrão de consumo para uma parcela menor da população mundial, enquanto exclui grande parte da sociedade, e cria dificuldades de acesso a bens essenciais, como água tratada e energia.

Qualquer consumidor interessado na análise, identifica a estreita relação entre os seus hábitos de consumo e os graves problemas ambientais e sociais que afectam o mundo de hoje, pelo que cada vez mais consumidores compreendem que é preciso frear o consumismo e direccionar as suas escolhas, de forma a apoiar o desenvolvimento sustentável e universalizar o acesso aos bens essenciais, como garantia de preservação dos recursos naturais necessários para a sobrevivência das gerações actuais e futuras.

A atitude dos consumidores começa assim a mudar. Além de preço e qualidade, ficam cada vez mais atentos a aspectos relacionados com o comportamento das empresas, como o respeito aos direitos humanos, trabalhistas e dos consumidores; a normas de preservação ambiental; à ética na publicidade e nas práticas empresariais; à promoção do bem-estar social; etc. A transparência das empresas em relação a essas informações passa também a ser valorizada, e torna-se uma ferramenta de selecção para o consumo consciente do cidadão e para algumas reflexões sobre a convicção social que determina uma norma ou conjunto de obrigações, ainda não reconhecidas pelo ordenamento jurídico positivo, mas que pertence ao campo da ética, ou seja, os valores morais e os princípios ideais de conduta humana.

Chegamos à conclusão que, responsabilidade social, é um processo resultante do desenvolvimento de posturas éticas inerentes à evolução de grupos ou organismos sociais, determinados a lutar por um relacionamento transparente e partilhado entre o empresariado e os consumidores.

E à percepção, por uma boa parcela do empresariado, da necessidade de um desenvolvimento sustentado, o que gera uma postura que se contrapõe à cultura centrada na maximização do lucro dos accionistas.

O moderno capitalismo social apresenta novas formas de relacionamento entre empresas, funcionários, comunidades e clientes, e esses segmentos passam a compartilhar objectivos e resultados em prol da optimização e manutenção dos recursos necessários à perenidade dos negócios.

No âmbito da administração das empresas privadas, várias teorias e correntes de estudos têm acompanhado a evolução do ambiente social e as suas variáveis.

Verificou-se que muita coisa existente dentro das organizações era decorrente do que existia fora delas, nos seus ambientes. As organizações escolhem esses ambientes[5] mas passam a ser condicionadas por eles, necessitando adaptar-se aos mesmos para poderem sobreviver e crescer. Neste sentido, o conhecimento do ambiente é vital para a compreensão dos mecanismos organizacionais.

As transformações económicas, políticas e culturais da actualidade, tornam-se então determinantes das novas posturas empresarias.

O conceito de desenvolvimento sustentado, faz as organizações se voltarem para objectivos de longo prazo e perceberem que qualidade, preço competitivo e bons serviços, não representam mais os únicos diferenciais no mercado.

Consumidores melhor informados e exigentes quanto a produtos e serviços, convertem-se em cidadãos mais conscientes das necessidades das suas comunidades, e passam a reivindicar o cumprimento das responsabilidades das empresas com o seu desenvolvimento.

O estudo e a análise da Responsabilidade Social é muito importante para os gestores e líderes empresariais em formação, pois o futuro se encarregará de fortalecer esse sentimento nas pessoas e eles terão de estar preparados para as decisões inerentes.

Uma das grandes forças motoras de qualquer gestor é a antecipação. Ele deve procurar, sempre, estar adiante dos acontecimentos e seguir uma das importantes funções gerenciais, “prever”.



[1] A Prof. Dra. Doris Ruschmann foi professora de graduação e pós-graduação em Planeamento do Turismo na Universidade de São Paulo, onde também alcançou os títulos de Mestre em Marketing Turístico e Doutora em Planeamento de Turismo Sustentável. Actualmente, é professora na Universidade do Vale do Itajaí. Possui destacada experiência com mais de 20 anos na área do turismo e em trabalhos de consultoria, coordenando projectos de  planos de desenvolvimento integrado e sustentável do turismo, estudos de mercado, avaliação da capacidade de carga de recursos e empreendimentos turísticos, pesquisas de demanda e planos de marketing para empresas privadas, órgãos públicos do turismo e organizações.

 

[2] Prof. Dra. Magda Adelaide Lombardo. Professora Titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e Supervisora do CEAPLA - Centro de Análise e Planeamento Ambiental - da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

Prof. Dra. Luana Lacaze de Camargo Casella. Doutora em Geografia Física pela USP. Docente da Graduação e Pós Graduação do Centro Universitário Nove de Julho, em São Paulo.

 

[3]   Gestão Ética e Socialmente Responsável – de Miguel Pina e Cunha, Carlos Cabral-Cardoso, Helena Gonçalves, Nuno Guimarães da Costa,  Arménio Rego - Edição/reimpressão: 2006 - Páginas: 552  Editor: Editora RH - ISBN: 9789728871093

 

[4]Responsabilidade Social e Cidadania Empresarial- Qualitymark -2001

César Froes é licenciado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, e em Pedagogia na PUC-MG. É bolsista da Fundação Rotária para a área de educação de excepcionais na University of South Florida. Mestre em Administração Pública pela EBAP/FGV/RJ. Participou de actividades da Fundação Projeto Rondon nas décadas de 80 e 90 e também de projectos em outras entidades. Actualmente é professor-assistente da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e professor da Universidade Federal Fluminense - UFF.

Francisco Paulo de Melo Neto é graduado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas - EBAP/RJ, e é Mestre na Webster University, Viena, Áustria. Professor-assistente da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRJ e professor-conferencista da FGV/EBAP. É consultor de empresas e, actualmente atua na área de desenho de projectos sociais do Banco Mundial. É autor de diversos livros na área de projectos de marketing desportivo e social. Trabalhou como técnico na área de projectos sociais em várias universidades estrangeiras. Ministrou diversos cursos em países da América Latina e América Central. 

 

[5] Ambiente é citado aqui como esfera de actuação ou âmbito de actuação.

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